"Emboscada" em Amiens é amostra dos desafios para a campanha de Macron

O candidato independente à presidência francesa viu-se ultrapassado pela sua adversária numa visita a uma fábrica na sua cidade natal.

Foto
Visita atribulada de Emmanuel Macron à fábrica da Whirlpool em Amiens Reuters/PASCAL ROSSIGNOL

Triunfalismo, excesso de confiança e complacência; gaffes, novas revelações ou escândalos de carácter pessoal; pirataria informática ou interferência da Rússia na campanha ou ainda desinteresse do eleitorado e abstenção elevada. Estes são, dizem os analistas e comentadores, os riscos e perigos que a campanha do candidato centrista e independente Emmanuel Macron enfrenta nas próximas duas semanas, até à derradeira votação para eleger o futuro Presidente de França.

O concorrente favorito, que esta segunda-feira esteve na sua cidade natal de Amiens, no Norte do país, foi recebido com assobios e apupos à porta de uma fábrica de electrodomésticos Whirlpool – que fora visitada pela sua adversária da segunda volta, Marine Le Pen, numa acção surpresa destinada a embaraçar a campanha de Macron.

Foi uma primeira amostra da inexperiência ou ingenuidade da sua equipa perante a “emboscada” montada pela agressiva candidatura rival. Aproveitando a reunião de Macron com os delegados sindicais daquela unidade, numa sala da Câmara de Comércio de Amiens, a concorrente da extrema-direita realizou uma visita não anunciada à fábrica, que poderá ser deslocalizada para a Polónia. Le Pen tirou fotografias com os trabalhadores em greve, a quem manifestou toda a sua solidariedade, e que partilhou depois no Twitter com a legenda: “Comigo, esta fábrica não fecha!”.

Quando mais tarde o centrista se deslocou à fábrica, havia vários militantes da Frente Nacional entre os grevistas, descreveu a Reuters. Macron, um antigo ministro da Economia, foi acolhido com insultos pelos trabalhadores que se queixaram da falta de empregos. “Percebo que haja angústia, e até raiva, e não fujo às minhas responsabilidades. Mas é muito importante não acicatar os ânimos e alimentar a fúria”, contrapôs o candidato.

Alguns dos seus apoiantes, entre os quais dirigentes socialistas e autarcas conservadores, alertaram para a dureza do combate político que se avizinha e criticaram a impreparação da campanha de Macron. Muitos temem que o jovem candidato não seja capaz de transpor o “terreno minado” por Le Pen sem sofrer ferimentos graves.

A reacção do candidato à passagem à segunda volta – um jantar comemorativo num restaurante de Paris reservado pela sua campanha – mereceu a crítica generalizada. Uma sondagem Harris Interactive divulgada esta quarta-feira mostrava que 52% dos eleitores consideravam que Macron tinha entrado “mal” na recta final da campanha, contra 61% que entendiam que Marine Le Pen esteve “bem”.

Para os comentadores, Macron não pode cometer gaffes infantis como a do jantar, que foi interpretado como um gesto triunfalista muito pouco apropriado, “primeiro porque ele ainda não ganhou nada, e segundo porque não há nada para festejar quando a extrema-direita passa à segunda volta”, concedeu um conselheiro da campanha, citado pelo Politico.

Também há receios de que Macron sucumba a outros imponderáveis: a exposição de algum escândalo pessoal – por exemplo a divulgação de e-mails comprometedores, de informações bancárias ou de comportamentos pessoais reprováveis, como sucedeu aos dois concorrentes nas presidenciais norte-americanas.

A campanha do independente já confirmou ter sido alvo de ciberataques, pela mão do grupo de hackers Pawn Storm, o mesmo que pirateou os servidores da campanha de Hillary Clinton e que alegadamente está ligado aos serviços de informação russos. O seu movimento “En Marche” acrescentou, porém, que os ataques não foram bem sucedidos, nem na recolha de informação, nem na disseminação de páginas falsas na Internet.

Sugerir correcção
Ler 21 comentários