Coreia do Norte faz exibição de mísseis e de determinação perante as ameaças

O temido ensaio nuclear não aconteceu ainda, mas as ameaças entre Washington e Pyongyang não desceram de tom.

Fotogaleria
Reuters/DAMIR SAGOLJ
Fotogaleria
DAMIR SAGOLJ/Reuters
Fotogaleria
DAMIR SAGOLJ/Reuters
Fotogaleria
DAMIR SAGOLJ/Reuters
Fotogaleria
Reuters
Fotogaleria
DAMIR SAGOLJ/Reuters

Enquanto a Coreia do Norte celebrava o dia do sol, a mais importante festa nacional, com uma parada de militares, bandas, flores artificiais e mísseis, analistas debruçavam-se sobre as imagens vindas da capital para esmiuçar o que era mostrado e o seu possível significado.

Numa altura em que as ameaças voam de Washington para Pyongyang e de volta, a tensão especial na região fez temer que o regime da dinastia Kim escolhesse o dia do aniversário do seu fundador, Kim Il-sung, há 105 anos, para levar a cabo um sexto teste nuclear, algo que poderia levar a uma resposta militar americana. Os EUA enviaram para a região uma força naval o que deu mais crédito a esta possibilidade.

O secretário de Estado dos EUA Rex Tillerson disse que a época de “paciência estratégica” para com a Coreia do Norte acabou, e responsáveis americanos mantém que não vão permitir que o país chegue a ter mísseis intercontinentais capazes de atingir território americano com armas atómicas.

O tema das celebrações de sábado acabou por não ser o temido ensaio nuclear, mas sim os mísseis. A exibição pública tem como objectivo não só mandar uma mensagem aos inimigos mas também mostrar força aos cidadãos do país, isolado internacionalmente e a sofrer de anos de má gestão económica, e que se apresenta como estando sempre sob ameaça.

Na grande parada houve três tipos de projécteis a desfilar: um parecia ser o KN08, mostrado pela primeira vez em 2012, outro KN-14, exibido em 2015, e um terceiro que os analistas nunca tinham visto.

Os especialistas alertam que a Coreia do Norte mostra muitas vezes modelos em execução e ainda não testados. O país clama, por exemplo, ter capacidade de atingir os EUA mas nunca efectuou um ensaio com sucesso. Na parada apareceram ainda mísseis Pukkuksong, que podem ser disparados de submarinos e são mais difíceis de detectar. Tudo isto "é uma declaração de empenho no avanço do programa de mísseis", diz Joshua Pollack, editor da Nonproliferation Review.

"Grave histeria militar"

Washington foi o alvo das palavras de um dos mais altos responsáveis num discurso antes da parada, Choe Ryong-hae, que acusou os EUA de criarem uma “situação de guerra” na região. “Se tentarem uma guerra total, responderemos com uma guerra total. Se começarem uma guerra nuclear, responderemos com o nosso estilo de ataques nucleares”, declarou.

A Coreia do Norte acusa a Administração Trump de “grave histeria militar” que “atingiu uma fase perigosa e já não pode ser ignorada”. Assim, os “Estados Unidos devem cair em si e fazer uma opção adequada para resolver o problema”.

Na tribuna de Kim Jong-un, ou perto, não parecia haver uma presença habitual noutros dias de celebrações na Coreia do Norte: a de um alto responsável da China, o seu único aliado. Pequim está sob pressão dos EUA para convencer a Coreia do Norte a parar o desenvolvimento do seu programa nuclear, mas as medidas que tem tomado, como a proibição da importação de carvão, não parecem resultar.

O jornal chinês Global Times criticou a estratégia americana, referindo-se ao ataque no Afeganistão com a arma conhecida como "a mãe de todas as bombas": “As ondas de choque ter-se-ão feito sentir na Coreia do Norte”, dizia o jornal em editorial. “Seria bom se a bomba pudesse assustar Pyongyang, mas o seu impacto poderá ser precisamente o contrário”, defendia. O uso de uma “arma tão malvada” irá provavelmente resultar numa determinação maior da Coreia do Norte no desenvolvimento das suas capacidades nucleares.

Até agora, há várias vozes repetindo que as ameaças americanas servem sobretudo o propósito de pressionar a China. Responsáveis americanos citados sob anonimato têm martelado nesta tecla, de que o foco está para já em mais sanções e na pressão económica e não num ataque militar.

No entanto, a China parece cada vez mais nervosa, e tem feito avisos contra uma escalada. Na véspera o ministro dos Negócios Estrangeiros alertava que na região não interessa quem tem o maior poderio militar: qualquer guerra terminará sem vencedores. No final da parada, a agência oficial Xinhua comentava em editorial que a região estava num “momento crítico na História” e que era altura de Coreia do Norte e EUA chegarem a um “grande acordo”.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários