Já em 1980 se discutia Torremolinos no Parlamento: “violência gratuita e vandalismo”
Não é novidade que existam conflitos e situações de excesso em viagens de finalistas. Há precisamente 37 anos, um destes casos chegou ao Parlamento. Mas o que faz com que Espanha seja o destino de eleição para estas viagens?
Antes da mais recente polémica envolvendo 1100 finalistas na cidade espanhola de Torremolinos, já há 37 anos, em 1980, se discutia no Parlamento um conflito do mesmo género e na mesma cidade. Duas deputadas pediam que se averiguasse o que tinha acontecido na viagem de finalistas de 1980 a Torremolinos, sendo que a então deputada Rosa Represas falava em “cenas de violência gratuita e vandalismo”.
As polémicas em torno das viagens de finalistas não são, portanto, recentes. Numa reunião plenária de 8 de Abril de 1980, a deputada do PS Teresa Ambrósio descrevia a situação em Torremolinos, relatando “mobília destruída nos apartamentos da cidade, distúrbios nas ruas e roubos, especialmente nos supermercados onde os portugueses acabaram por ser controlados e impedidos de entrar”. A deputada falava ainda na morte de quatro jovens em acidentes de motorizada, assim como “violências físicas e traumas psicológicos”.
A deputada exigia um inquérito oficial ao que tinha acontecido na cidade espanhola. E culpava o Ministério da Educação por entregar “a empresas turísticas a organização de viagens escolares de fim de curso” ou, como lhes chamou, “viagens para desvio de menores”.
Quem se lembra bem desta história é o antropólogo José Pimentel Teixeira, agora com 52 anos, que não teve viagem de finalista por causa da polémica. “Ainda me lembro do nome da Teresa Ambrósio que falou na Assembleia da República sobre o assunto. Isto em 1980 – tinha muito impacto uma deputada aparecer na televisão e nos jornais a falar da bronca de Torremolinos”, conta.
Depois da contestação em torno do que aconteceu na cidade espanhola, “criou-se algum estigma à volta das viagens de finalistas”, afirma José Teixeira, que na altura tinha 16 anos – altura em que terminava o liceu – e estudava na Escola dos Olivais, em Lisboa. “Mesmo que tivesse havido viagem, os meus pais não me teriam deixado ir”, brinca.
E descreve aquilo que ouviu: “Em Torremolinos tinham atirado frigoríficos para as piscinas, era bebedeira generalizada, aquele ritual habitual”. Ou seja, os excessos não são exclusivos da actual geração. “Começa toda a gente a dizer que isto agora é um escândalo mas já é uma tradição antiga”, considera José, que acredita que as escolas deveriam controlar este tipo de viagens.
Para além de Maria Teresa Ambrósio, também a então deputada do PCP Rosa Represas, numa intervenção sobre o Dia do Estudante, fazia referência aos “acontecimentos ocorridos em Torremolinos”: “Uma excursão de jovens, um momento de alegria, convívio, foi transformada por alguns deles em cenas de violência gratuita e vandalismo”.
Durante a reunião plenária de 12 de Abril de 1980, a deputada pedia que fosse instaurado um inquérito ao que tinha acontecido, exigindo ainda que o Governo estivesse atento a este tipo de situações, não só em viagens mas também em liceus. “É ainda necessário que se diga que os acontecimentos de Torremolinos dão uma imagem distorcida do que são os estudantes portugueses”, acrescentava.
Porquê Espanha?
Apesar de haver viagens de finalistas para vários destinos, o Sul de Espanha acaba por ser uma escolha recorrente, recebendo, por ano, milhares de alunos portugueses. Torremolinos, Lloret del Mar, Punta Umbría, Benidorm, Marina d’Or ou Benalmádena fazem parte do historial de destinos predilectos em viagens de finalistas.
Nuno Dias, director da agência Slide In, refere que Espanha é o destino mais escolhido pelos finalistas por uma questão de “logística, proximidade e preço”. Como são milhares de estudantes, explica, é mais fácil o transporte através de autocarro do que de avião. E, como preferem um destino estrangeiro (já que, em Portugal, acabam por ter experiências similares nos festivais de Verão), o Sul de Espanha é frequentemente escolhido.
A Slide In opera na zona de Torremolinos e Benalmádena (cidades vizinhas perto de Málaga) há cerca de oito anos, garante o sócio-gerente. No entanto, afirma que já trabalhou para outras agências e já em 1999 se faziam viagens para Espanha.
Por outro lado, Tiago Sanches da Gama, director comercial da Sporjovem – uma agência no mesmo ramo – recua a 1990, quando esta agência começou a fazer viagens para Benidorm e lembra-se que já na década de 80 se faziam viagens a Torremolinos, como provado pelas reuniões plenárias supramencionadas.
Anteriormente, faziam-se também viagens para o Algarve, que “deixou de ter capacidade” para receber tanta gente, explica o director comercial. Além disso, Espanha oferecia “preços atractivos”, em que a pensão completa e animação ficavam ao mesmo preço daqueles praticados no Algarve.
Em relação aos acontecimentos mais recentes em Torremolinos, Sanches da Gama – cuja agência não opera nesta zona – adianta que tem havido uma forte aposta na segurança, que vai sendo reforçada de ano para ano, e sublinha que “já existiram casos de destruição anteriormente só que nenhum com esta dimensão mediática”.