Bloco deixa apelos ao Governo já a pensar no próximo Orçamento do Estado

Catarina Martins desafiou o executivo, na apresentação da candidatura do BE a Cascais, a reverter "o gigantesco aumento de impostos que foi feito por Vítor Gaspar".

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Catarina Martins esteve na apresentação da candidatura do BE a Cascais LUSA/MIGUEL A.LOPES

A coordenadora do BE, Catarina Martins, desafiou hoje o Governo a começar a inverter no próximo Orçamento do Estado “o gigantesco aumento de impostos” feito pelo anterior executivo através da alteração dos escalões de IRS.

“Precisamos de garantir a continuação da recuperação dos salários, das pensões de todas as pessoas e isso consegue-se tendo a coragem de mexer nos escalões do IRS para começar a reverter o gigantesco aumento de impostos que foi feito por Vítor Gaspar [ex-ministro das Finanças]”, desafiou Catarina Martins, à margem da apresentação da candidatura do partido em Cascais, protagonizada pela antiga deputada do BE Cecília Honório.

Para Catarina Martins, “o passo que vai ter de ser feito no próximo Orçamento do Estado” será “voltar a ter um IRS mais progressivo, com mais escalões” para que os trabalhadores por conta de outrem e pensionistas possam ter mais rendimento no final do mês. “Se esse é um trabalho difícil, não pode ficar de lado e há que começar pelos rendimentos mais baixos”, apelou.

A coordenadora do BE afirmou que os trabalhos de preparação com o PS para o Orçamento do Estado de 2018 já começaram e antevê “negociações muito difíceis”, isto apesar de o Governo ter dado a entender que pode haver ajustes nos escalões do IRS, por exemplo.

“Não temos sempre as mesmas posições do PS, que normalmente hesita sempre antes de ter coragem de dizer alguma coisa que a Comissão Europeia não goste”, criticou Catarina Martins.

A coordenadora do BE salientou, contudo, que “a Comissão Europeia nunca quis aumento do Salário Mínimo Nacional e achava que os cortes nas pensões eram o único caminho”.

“A força para que houvesse a coragem dessa mudança é a força do Bloco de Esquerda”, salientou.

No próximo Orçamento do Estado, além da revisão dos escalões do IRS, a coordenadora do BE quer ver também cumpridos compromissos já assumidos no atual Orçamento, “seja o descongelamento das carreiras, seja o plano nacional de combate à precariedade”.

“Mas precisamos de mais (…). Essa é a determinação do BE e esse é o caminho que fazemos, continuar a recuperação de rendimentos, parar o empobrecimento do país exige não parar sobre o que foi feito, mas ter a coragem de continuar”, desafiou.

Direita errou nas prioridades em Cascais

Catarina Martins falou na apresentação da candidatura de Cecília Honório à Câmara Municipal de Cascais. Nessa sessão, a ex-deputada acusou a direita de “errar nas prioridades” para o concelho, dizendo “ser um mito” que este é município rico. “A imagem de Cascais como concelho rico é um mito, como o demonstram a quebra do poder de compra abaixo da evolução nacional, a taxa de desemprego, os baixos salários, um concelho centrado no comércio e turismo e sem capacidade de fixação da mão-de-obra mais qualificada”, afirmou Cecília Honório, na apresentação da sua candidatura que decorreu no Parque Urbano Quinta de Rana.

A candidata do BE acusou a maioria PSD/CDS-PP, que governa o concelho há 16 anos, de estar “agarrada a uma visão elitista e ao presidencialismo” e de “errar nas prioridades”.

“Precisamos de transportes públicos de qualidade gratuitos para jovens e desempregados, precisamos de estacionamento gratuito, ciclovias e uma resposta articulada pelo direito à mobilidade das populações que aqui vivem, aqui trabalham e se deslocam diariamente para outros concelhos”, disse.

Elegendo a inversão das políticas de habitação como uma prioridade para fixar mais jovens no concelho, Cecília Honório, que vive e trabalha no município, salientou que Cascais “é uma terra de grandes desigualdades”.

“Para os dirigentes do PSD, que não têm nenhuma vergonha de dizer em voz alta que Cascais não é para toda a gente, respondemos: estão completamente enganados”, disse.

A candidata centrou as suas críticas no presidente da Câmara, o social-democrata Carlos Carreiras, e apontou as suas recentes declarações como coordenador autárquico do PSD sobre Lisboa como sinal de “nervosismo”.

“Tão nervosos que para o presidente da câmara e responsável pelas autárquicas do PSD, é lhe indiferente quem ganha, se a sua candidata se a do CDS”, criticou Cecília Honório.

A antiga deputada invocou ainda outras declarações de Carreiras, em que este terá dito não ver diferenças entre Catarina Martins e a candidata de extrema-direita às presidenciais francesas, Marine Le Pen.

“Precisavam que o diabo vos salvasse, como o diabo não veio agora entretêm-se a inventar outros papões”, acusou Cecília Honório, contrapondo que o BE só é radical a defender os direitos e rendimentos do trabalho.

Contra o perpetuar da direita no poder, a antiga deputada invocou o compromisso nacional do BE nestas autárquicas, de propor um programa para a transparência que passa também pelo registo de interesses para todos os eleitos e eleitas.

Maria Cecília Vicente Duarte, 55 anos, foi deputada do Bloco de Esquerda entre 2009 e 20015, pelos círculos de Lisboa e de Faro. Integrou a Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias e a Comissão de Ética, Cidadania e Comunicação, bem como a Subcomissão de Igualdade. É doutorada em História das Ideias Políticas e professora do Ensino Secundário.

Luís Salgado será o candidato do BE à Assembleia Municipal de Cascais.