Activistas denunciam dezenas de mortos em ataque químico na Síria

Observatório Sírio dos Direitos Humanos fala em pelo menos 58 mortos em bombardeamento aéreo contra localidade controlada pela oposição em Idlib. Turquia avisa Rússia que ataque põe em risco cessar-fogo na Síria.

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Membro das equipas de resgate a recebe oxigénio Ammar Abdullah/Reuters

Pelo menos 58 habitantes de uma zona controlada pela oposição síria morreram num bombardeamento em que terão sido usados agentes químicos, denunciou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, secundado por activistas e médicos na zona. O Exército sírio respondeu à acusação afirmando que "não usa nem nunca usou" armas químicas.

Segundo o Observatório, que conta com uma rede de activistas espalhados pela Síria, o ataque ocorreu na localidade de Khan Sheikhoun, na província de Idlib, uma das últimas ainda controladas por grupos da oposição ao Presidente Bashar al-Assad. Pelo menos 11 mortos serão crianças e há mais de 60 pessoas hospitalizadas, acrescenta a ONG, que diz não ter dados sobre o agente que terá sido usado no ataque.

“O Exército não usou nem usa [armas químicas], nem no passado nem no futuro, em primeiro lugar porque não as tem”, disse à Reuters uma fonte do Exército sírio, reagindo às suspeitas de que terá sido a aviação de Assad a lançar o ataque. O Ministério da Defesa da Rússia, que mantém uma forte presença militar na Síria, assegurou por seu lado que os seus aviões não lançaram qualquer ataque em Idlib.

Em declarações ao serviço em língua árabe da BBC, Mohammed Rasoul, responsável por um serviço de ambulâncias em Idlib, contou que os alertas de que tinha havido um bombardeamentos em Khan Sheikhoun chegaram cerca das 6h45 (4h45 em Portugal). As primeiras ambulâncias chegaram ao local cerca de 20 minutos depois e depararam-se com muitos habitantes a asfixiar. "As nossas equipas ainda lá estão, a levar os doentes de um lado para o outro, porque os hospitais estão cheios", contou Rasoul, dizendo ter informações de 67 mortos e mais de 300 feridos.  

A agência AFP adianta que, já depois do ataque inicial, os aviões continuaram a sobrevoar a zona e, entre os alvos atingidos, estariam clínicas onde estavam a ser tratados alguns das pessoas intoxicadas. Testemunhas contaram à Reuters que as ruas da cidade, no Sul de Idlib, ficaram desertas por receio de novos ataques.

Membros da oposição síria divulgaram nas redes sociais vídeos e fotografias de corpos com sinais de morte por asfixiamento e de pessoas a serem tratadas nos hospitais por problemas respiratórios, não sendo possível confirmar a sua veracidade ou a data em que foram recolhidos. Fotografias obtidas pela Reuters mostram também membros dos serviços de emergência, envergando fatos de protecção, a receber oxigénio, corpos das vítimas tapados por cobertores e crianças já sem vida. 

“Recebemos mais de 20 vítimas, a maioria crianças, e duas delas estão nos cuidados intensivos em estado extremamente grave”, contou ao correspondente do jornal Guardian em Istambul um médico de um hospital numa cidade vizinha. “Há muita gente atingida e a maioria dos que estavam perto do epicentro do ataque ou morreram ou estão nos cuidados intensivos”, explicou, acrescentando que muitas das vítimas apresentam pupilas diminuídas, baixos níveis de oxigénio, tensão baixa e com perda de consciência. 

A confirmar-se, este seria um dos mais mortíferos ataques com armas químicas na guerra da Síria, já no seu sexto ano.

O Governo francês pediu uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para discutir este ataque. E o Presidente turco, Tayyip Recep Erdogan, revelou ter falado ao telefone com o Presidente russo, Vladimir Putin, que é o principal aliado de Assad, afirmando que este ataque poderá pôr em risco o cessar-fogo que os dois países patrocinaram e as negociações que tentam mediar entre Damasco e a oposição. 

Em Agosto de 2013, mais de 300 pessoas dos subúrbios a leste de Damasco morreram num bombardeamento com agentes químicos, ao que tudo indica gás sarin. O regime sírio nunca reconheceu a autoria do ataque, mas Damasco acabou por entregar todos os seus arsenais químicos à ONU para destruição, no âmbito de um acordo negociado pela Rússia que travou uma ofensiva iminente dos Estados Unidos. Desde então, no entanto, foram denunciados dezenas de ataques que se suspeitam ter envolvido o uso de gás de cloro.

Apesar do cessar-fogo em vigor desde Dezembro, a aviação síria e os seus aliados russos continuam a bombardear Idlib, província controlada por diversas facções da rebelião, entre nacionalistas e islamistas, caso da antiga Frente al-Nusra. A população da província, escreve a Reuters, aumentou consideravelmente após a captura da metade Leste de Alepo, em Dezembro do ano passado, quando milhares de combatentes e civis foram transferidos da zona cercada para Idlib. 

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