Depois do falhanço inicial, as previsões de recessão passam para o longo prazo

O cenário de uma crise económica imediata após o referendo não se concretizou. Poderá agora verificar-se com a passagem do “Brexit” à prática?

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Libra em dindo a depreciar-se face ao euro PHIL NOBLE/REUTERS

Depois dos erros nas sondagens, vieram os erros nas previsões económicas. Para a maioria das instituições públicas e privadas que realizaram estimativas sobre o que iria ser o impacto económico de um “Brexit”, o cenário considerado mais provável era uma quebra acentuada e imediata do nível de actividade, motivado pela deterioração brusca das expectativas dos agentes económicos. No entanto, ao fim de nove meses, não há ainda sinais de quebra e aquilo que tem vindo a segurar a economia britânica, pelo menos por enquanto, são precisamente os níveis elevados de confiança revelados por consumidores e empresários.

A expectativas de uma queda da economia eram tão fortes e generalizadas que até se criou um novo termo para o que iria acontecer: “Brecession”. Uma recessão motivada pelo recuo no consumo e no investimento que resultaria da expectativa de um futuro com menos comércio, mais inflação e enfraquecimento do sector financeiro britânico.

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O que aconteceu até agora foi diferente. Depois de ter registado no segundo trimestre de 2016 uma taxa de variação homóloga do PIB de 1,4%, a economia britânica acelerou no período imediatamente a seguir ao referendo, com um crescimento de 2% no terceiro e no quarto trimestre do ano passado.

A razões desta resistência da economia são variadas. Mas a principal explicação está na forma como foi possível manter os níveis de confiança dos agentes económicos a níveis elevados. É verdade que, no mês a seguir à decisão de sair da UE, tanto a confiança dos consumidores como o índice de sentimento económico das empresas registaram uma quebra, mas logo em Agosto essa descida foi travada. E neste momento, este último indicador está já a um nível superior ao registado antes do referendo.

Aparentemente, tanto consumidores como empresários não estão a modificar os seus comportamentos e expectativas por causa daquilo que eventualmente pode vir a acontecer à economia quando a saída da UE se concretizar. Para este controlo das expectativas, terá sido importante a forma rápida e agressiva como o Banco de Inglaterra reagiu com novas medidas expansionistas que contribuíram para uma queda da libra face às outras divisas internacionais, o que ajudou a venda de bens ao estrangeiro e desincentivou os britânicos a passarem férias fora do país. Perante a ausência de sinais negativos na economia e no mercado de trabalho – em conjunto com um cenário estável a nível político – foi mais fácil manter a tranquilidade.

Será possível manter agora esta estabilidade na confiança dos agentes económicos? A resposta a esta pergunta deverá depender crucialmente da forma como vier a decorrer o processo negocial de saída da UE. Se se tornar evidente que o Reino Unido será forçado a suportar condições muito desfavoráveis de acesso aos outros mercados e que o seu sector financeiro sairá prejudicado pelo facto de passar a estar situado fora das fronteiras da UE, é possível que a calma e serenidade abandonem as famílias e empresas britânicas. Se, pelo contrário, as negociações apontarem para a possibilidade de manutenção de condições relativamente favoráveis, o ambiente pode continuar desanuviado.

Também importante para a evolução da economia nos próximos meses será aquilo que acontecer à inflação. A depreciação da libra está a tornar os produtos importados mais caros, colocando a variação de preços já acima de 2% e pressionando o Banco Central Europeu a começar a retirar as suas políticas expansionistas.

É talvez por isso que se começam a ver alguns sintomas de maior pessimismo. Um inquérito publicado esta semana indicava que a percentagem de britânicos a prever uma melhoria da situação económica por causa do “Brexit” baixou de 39% para 29%, ao passo que aqueles que prevêem uma deterioração subiram de 42% para 53%.

De qualquer forma, perante a resistência revelada até agora pela economia, a discussão sobre o impacto económico passou agora do curto para o longo prazo. Aqueles que continuam a prever um impacto negativo proveniente do “Brexit” mantêm que a recessão ainda deverá acontecer - surgirá, não por causa de uma mudança brusca de expectativas no curto prazo, mas como resultado de uma efectiva mudança de enquadramento político, económico e comercial no momento em que a saída da UE é passada à prática. Entre os defensores do “Brexit”, animados pelo desempenho económico positivo dos nove meses a seguir ao referendo, reforçou-se a ideia de que a saída tem mais vantagens do que inconvenientes. A resposta definitiva deverá ser dada durante o período de negociação que agora se inicia.

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