Seis funcionários de agências humanitárias mortos no Sudão do Sul
Pelo menos 79 funcionários de organizações humanitárias morreram do Sudão do Sul desde 2013.
Seis funcionários de organizações humanitárias foram mortos no sábado numa emboscada no Sudão do Sul, revelaram as Nações Unidas, que condenam o crime. “Estou chocado e indignado pelo assassínio vil de seis corajosos humanitários no Sudão do Sul”, afirmou em comunicado o coordenador da ONU no país, Eugene Owusu.
Desde o início do mais recente conflito no Sudão do Sul, em Dezembro de 2013, morreram pelo menos 79 funcionários de organizações humanitárias – 12 deles já em 2017. Segundo a nota divulgada pela ONU, os ataques contra equipas de assistência humanitária podem ser classificados como crimes de guerra. “É totalmente inaceitável que aqueles que estão a tentar ajudar sejam atacados e mortos”, acrescenta Owusu. Estima-se que existam mais de sete milhões de habitantes no Sudão do Sul que necessitam de ajuda internacional.
Em Dezembro de 2016, as Nações Unidas alertavam que o mundo estava prestes a assistir a mais um genocídio em África. “Já está em curso um processo firme de limpeza étnica em várias áreas do Sudão do Sul, através da fome, violações em grupo e o incêndio de aldeias”, dizia, à data, a líder de uma comissão de investigação da ONU, Yasmin Sooka, citada pela Al-Jazira.
Funcionários repetidamente atacados
De acordo com a nota divulgada este domingo, desta emboscada resulta a maior perda de vidas de funcionários de agências humanitárias no Sudão do Sul desde 2013. É, ainda, o terceiro incidente a envolver funcionários de organizações humanitárias só neste mês: a 14 de Março, um profissional de saúde que participava no combate a um surto de cólera foi assassinado juntamente com um paciente; no dia 10, uma equipa de uma organização não-governamental foi detida por um grupo armado e libertada apenas quatro dias depois.
“Sempre que um ataque deste género acontece, dizemos que não pode voltar a acontecer. E, ainda assim, acontecem”, lamenta Owusu, exigindo às autoridades nacionais e internacionais que “estejam à altura das suas responsabilidades” e que impeçam a repetição destes incidentes. “Não pode haver segurança enquanto estes ataques continuarem a ser recebidos com silêncio e passividade”, conclui o coordenador da ONU.
Em Julho de 2016, um grupo de soldados sul-sudaneses invadiu um complexo hoteleiro na capital Juba que alojava sobretudo funcionários estrangeiros. Os atacantes mataram um jornalista e violaram várias mulheres, tendo espancado e roubado outros hóspedes ao longo de várias horas. Durante o ataque, as vítimas pediram auxílio às Nações Unidas e a várias embaixadas repetidas vezes, mas ninguém respondeu aos pedidos de ajuda. O complexo situava-se a apenas um quilómetro da sede local da ONU.
Uma das vítimas, uma mulher de nacionalidade norte-americana, afirma ter sido violada por 15 soldados sul-sudaneses, sob a ameaça de uma arma AK-47.
Em Novembro, e no seguimento do caso, um inquérito das Nações Unidas apontou falhas graves ao comando da sua missão de manutenção de paz no Sudão do Sul. O incidente também renovou críticas por parte de funcionários das organizações humanitárias à ausência de condições de segurança fornecidas pelas suas próprias entidades.