Cigarros electrónicos não devem ser “porta de entrada para novos fumadores”

Comissário europeu da saúde confessa-se “chocado” com o facto de na UE “quase um em cada quatro adolescentes de 13 anos” já terem fumado.

Fotogaleria
A rainha de Espanha e o Presidente da República Portuguesa no arranque do congresso no qual participam peritos de vários países Nelson Garrido
Fotogaleria
Comissário europeu da saúde, Vytenis Andriukaitis, esteve na sessão de abertura Nelson Garrido
Fotogaleria
Ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes Nelson Garrido
Fotogaleria
O congresso decorre no Porto Nelson Garrido

Os cigarros electrónicos não podem transformar-se numa “porta de entrada para novos fumadores”, defendeu o comissário europeu da saúde e segurança alimentar, Vytenis Andriukaitis, na sessão de abertura da sétima edição da conferência sobre tabaco e saúde, esta quinta-feira,no Porto. No encontro vão apresentados novos dados sobre o controlo do tabagismo na União Europeia (UE).

“Temos que seguir de perto os desenvolvimentos científicos e de mercado dos cigarros electrónicos”, enfatizou Vytenis Andriukaitis, numa altura em que em Portugal está, desde há meses, a ser avaliada na Assembleia da República uma proposta de alteração da lei do tabaco que prevê a equiparação destes cigarros e dos novos produtos de tabaco sem combustão aos cigarros tradicionais.

O comissário europeu aplaudiu os exemplos da Irlanda e da Finlândia, que definiram metas temporais para se tornarem países “livres de tabaco” , e recordou que "cinco Estados-membros" já adoptaram os maços de tabaco neutros ou padronizados, em que os logotipos das marcas não são visíveis. “Este é um excelente exemplo para o resto da Europa”, considerou o comissário, que se confessa  “chocado” com o facto de, na União Europeia, “quase um em cada quatro adolescentes de 13 anos” que frequentam a escola já terem fumado.

Um dos primeiros países da UE a padronizar os maços de tabaco, seguindo o exemplo da pioneira Austrália, foi a Irlanda, que definiu como objectivo conseguir uma “sociedade livre de tabaco” em 2025, reduzindo a taxa de fumadores para 5%, enquanto a Finlândia se propôs ser um país “livre de consumo de tabaco” até 2040.

Apesar do caminho já percorrido na luta contra o tabagismo, “temos ainda um grande trabalho conjunto pela frente”, avisou o comissário europeu.

Guerra entre a legislação e as tabaqueiras

O presidente da Liga Portuguesa contra o Cancro, que organiza a conferência, já tinha há dias defendido, em entrevista à Lusa, que há ainda um “longo caminho a percorrer” para a resolução dos problemas ligados ao tabagismo. Neste encontro em que participam peritos de vários países, disse então Vítor Veloso, vai debater-se “como é que a União Europeia pode lutar em relação aos ‘inimigos’ que são, sem dúvida alguma, as tabaqueiras, que têm um poder político e económico superior ao dos países”.

Para Vítor Veloso, o que aqui está em causa é  uma “guerra’ entre a legislação e a fuga que as tabaqueiras tentam com as novas formas de fumo, para camufladamente fugir a essas leis e a essas exigências”. E  “exemplo disso são os cigarros eletrónicos”, sustentou, defendendo “a necessidade de alterar a legislação que actualmente só consagra determinados tipos de fumo”.

Com o alto patrocínio da Presidência da República e a presença da rainha de Espanha, Letizia Ortiz, a conferência realiza-se numa altura em os deputados que integram o grupo de trabalho criado na Assembleia da República para estudar a proposta governamental de alteração à lei do tabaco já concluíram a audição de especialistas e da indústria tabaqueira. Na proposta aprovada em Conselho de Ministros em Outubro, além das novas regras para os cigarros electrónicos e os novos produtos de tabaco sem combustão criados pela indústria tabaqueira, o Governo quer proibir o fumo a menos de cinco metros de distância dos hospitais, centros de saúde, consultórios médicos e farmácias, entre outros locais.

Um recente estudo da Organização Mundial de Saúde alerta para o impacto “sem paralelo” do tabagismo na saúde pública e os investigadores avisam que as doenças associadas ao tabaco são responsáveis por quase 6% dos gastos mundiais em saúde, num total de 400 mil milhões de euros.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários