Mísseis norte-coreanos ensombram viagem de Tillerson à Ásia
O chefe da diplomacia dos EUA vai dar garantias aos aliados e tentar convencer a China a conter o regime de Kim Jong-un. Trump parece ter esquecido a "guerra comercial" contra Pequim.
O secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, enfrenta um continente apreensivo e preocupado durante a viagem que inicia esta quinta-feira à Ásia. A ameaça nuclear da Coreia do Norte paira como o primeiro grande desafio internacional à Administração de Donald Trump, que, quase dois meses depois de entrar em funções parece olhar de forma diferente para a China.
Tillerson aterra na sexta-feira em Seul, depois de uma passagem por Tóquio, uma semana depois de a Presidente Park Geun-hye ter sido formalmente destituída, naquele que foi o culminar da mais grave crise política na era democrática na Coreia do Sul. Aqui, a missão de Tillerson é tentar avaliar a situação política naquele que é um dos grandes aliados de Washington na região.
A grande prioridade é assegurar que a instalação do sistema antimíssil norte-americano, conhecido como THAAD, que tem o objectivo de dissuadir potenciais ataques por parte da Coreia do Norte, será concretizada. A medida está longe de gerar consenso no país. Os conservadores, a que Park pertencia, favorecem a instalação do THAAD, mas a ala liberal é muito crítica daquele que considera ser um acto apenas gerador de instabilidade. Se, por um lado, tem o potencial de prejudicar as relações com a China – algo que está já a acontecer – por outro, dizem os liberais, não garante qualquer segurança na eventualidade de um ataque nuclear norte-coreano.
A preocupação de Tillerson é, portanto, assegurar que o THAAD não se encontra ameaçado mesmo que um novo Presidente liberal vença as eleições antecipadas marcadas para 9 de Maio. Dias antes da confirmação do impeachment de Park, foram trazidos para a Coreia do Sul os primeiros mecanismos que fazem parte da infraestrutura.
“O THAAD não é negociável”, disse à Reuters uma fonte diplomática norte-americana, a propósito da oposição chinesa à instalação do sistema antimíssil. Pequim não esconde o seu desconforto em relação a um acto que considera provocatório e que diz apenas vir contribuir para agravar a tensão na Península Coreana. E é a economia sul-coreana que mais sofre com a retaliação chinesa. A China é um dos mais importantes parceiros de negócio das empresas sul-coreanas.
É neste quadro sensível que Tillerson se vai encontrar com os dirigentes do Governo chinês, em Pequim. Durante meses, Trump não escondeu uma antipatia profunda pelo regime comunista, alicerçada sobretudo numa crítica às práticas comerciais chinesas, que descrevia frequentemente como “desonestas”.
A chegada à Casa Branca – e a emergência da Coreia do Norte como o primeiro grande teste na arena internacional – parece ter moderado as posições de Trump, que vai receber o Presidente chinês, Xi Jinping, no início de Abril. A promessa de rotular a China como um “manipulador de moeda”, por alegadamente desvalorizar artificialmente a sua moeda para tornar as exportações mais baratas, passou para segundo plano.
“Só se podem travar um certo número de batalhas de uma só vez, e dado que a ameaça da Coreia do Norte está a acelerar, há aqui uma oportunidade para priorizarmos a assistência chinesa e, talvez, não dar prioridade a áreas de discórdia”, afirmou a mesma fonte diplomática.