Governo diz que é preciso acabar com o preconceito no ensino profissional

"Portugal ainda não meteu na cabeça que o 12.º ano do curso de pastelaria é tão válido e tão digno como o 12.º ano do curso de línguas e humanidades", diz o secretário de Estado da Educação.

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João Costa esteve no Fundão, onde participou numa sessão de apresentação do "Perfil do Aluno para o Século XXI" Nuno Ferreira Santos

O secretário de Estado da Educação, João Costa, defendeu esta quarta-feira, no Fundão, que é preciso acabar com o preconceito em torno do ensino profissional e encarar esta via de conhecimento de outra forma.

"Portugal ainda não meteu na cabeça que o 12.º ano do curso de pastelaria é tão válido e tão digno como o 12.º ano do curso de línguas e humanidades. Portugal tem de meter isto na cabeça e quem tem de começar a meter isto na cabeça, em primeiro lugar, são as escolas", afirmou.

João Costa falava na Escola Profissional do Fundão, distrito de Castelo Branco, onde participou numa sessão de apresentação e debate sobre o "Perfil do Aluno para o Século XXI", documento que está em discussão pública e que foi coordenado pelo antigo ministro da Educação Guilherme d'Oliveira Martins.

Ao abordar o tema, o governante vincou que o trabalho tem como base a realidade de que, actualmente, os alunos que concluem a escolaridade obrigatória (12.º ano) tanto são oriundos da uma via científico-humanística, como da via profissional ou da via artística.

Nesse sentido, assumiu que há trabalho a fazer para alterar a representação social do ensino profissional, o que deve começar a ser feito mudando o discurso das escolas.

"Não é digno para o ensino profissional"

"Não é aceitável ter alunos a quem se diz 'tu tens boas notas, não vás para o ensino profissional'. E isto é dito a alunos e não é digno nem para o ensino profissional, nem para o aluno nem para ninguém", referiu.

Defendendo que o "ensino profissional não é uma segunda via", João Costa considerou ainda que em última análise esta vertente até pode ser mais do que as outras, já que confere o 12.º ano e ainda um nível de qualificação.

Segundo garantiu, o Governo está a trabalhar no sentido de alterar também o peso que as provas de aptidão profissional e exames do ensino científico-humanístico têm no concurso de acesso ao ensino superior, uma vez que corresponde a "um preconceito que existia sobre o ensino profissional", bem como a uma associação ao "facilitismo".

"Tenho tido oportunidade de assistir a provas de aptidão profissional de final de curso e a complexidade de muitas destas provas mete no canto qualquer exame feito em hora e meia", acrescentou, rejeitando a referida associação ao facilitismo.

O secretário de Estado também adiantou que a rede de ensino profissional será revista, tendo em conta "a racionalidade" da oferta e no "interesse dos alunos".

No que concerne ao documento que apresenta o "Perfil do Aluno para o Século XXI", destacou a preocupação que houve em se encontrar "um perfil de base humanista" e referiu que o "instrumento chave" para o operacionalizar passa pela "flexibilidade", por deixar para as escolas a "autonomia de desenvolverem projectos inovadores".

O presidente da Associação Nacional das Escolas Profissionais, José Luís Presa, adiantou que de forma geral a associação se revê nas propostas do "Perfil do Aluno para o Século XXI", mas também considerou que deve também ser tida em conta "as condições de partida", ou seja, não centrar a análise no perfil apenas no final do 12.º ano, mas também no momento da entrada para o ensino secundário.

Presente na cerimónia, o presidente da Câmara Municipal do Fundão, Paulo Fernandes, destacou que o concelho já atingiu o objectivo mínimo definido pela Comissão Europeia de ter, pelo menos, 50% de alunos que ao chegarem ao 9.º ano já optam pela via profissionalizante e adiantou que o desafio passa por alcançar o requisito que se prende com aumentar a percentagem do número de alunos que, após a conclusão do secundário, também sigam a via profissional e tecnológica.