As mulheres têm menos chance de ter um bom emprego? 37% dos portugueses acham que sim
Inquérito da Organização Internacional do Trabalho/Gallup a propósito do Dia Internacional da Mulher. Em Portugal, só 12% preferiam ficar em casa sem ter um salário.
A pergunta foi feita pelo mundo fora: uma mulher com o mesmo nível de educação e experiência do que um homem tem mais, menos ou igual oportunidade de encontrar um bom emprego? Só um em cada quatro adultos acha que tem menos. A percepção é mais elevada em Portugal (37%), em linha, de resto, com o chamado mundo desenvolvido, onde a sensibilidade para o tema é maior.
A Organização Internacional do Trabalho/Gallup fez um inquérito global, que intitulou Rumo a um futuro melhor para a mulher e para o trabalho: vozes de mulheres e de homens. Responderam 149 mil adultos de 142 países e territórios. Os resultados são divulgados nesta quarta-feira, Dia Internacional da Mulher.
Não entra no mercado de trabalho quem quer: só metade das mulheres e três quartos dos homens dos países abrangidos pela sondagem têm trabalho. Os dados da Pordata dizem que em Portugal a taxa de emprego era em 2015 de 56,2% para os homens e de 46,9% para as mulheres.
Mesmo com igual nível de educação e experiência, elas não têm igual oportunidade, sublinha o estudo. Mas “contra todas as evidências”, homens e mulheres por esse mundo fora tendem a achar sim, que as mulheres têm as mesmas chances. A percepção varia de região para região. Nas economias mais desenvolvidas há mais consciência da disparidade de género. É na Europa Ocidental/Sul/Norte (55%) e na América do Norte (40%) que se encontram as mais elevadas percentagens de mulheres que acreditam que têm mais barreiras quando se candidatam a um bom trabalho. A percentagem de homens que dizem que elas não têm as mesmas oportunidades é ligeiramente mais baixa (46% e 23%, respectivamente). Em Portugal, 31% dos homens e 43% das mulheres entendem que elas têm menos chance de conseguir o lugar. Quanto mais escolarizadas, mais acentuada é essa percepção. Quando mais jovens, menor.
Na opinião da secretária de Estado da Cidadania e da Igualdade, Catarina Marcelino, no que diz respeito a Portugal, dados como estes revelam “uma consciência crescente acerca das desigualdades que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho”. “Apesar de as mulheres deterem os níveis de habilitação escolar mais elevados, 57,6% dos ‘profissionais não qualificados’ são mulheres”, recorda. “As mulheres ganham, em média, menos 16,7% que os homens (remuneração base mensal). Outro dado relevante é o número de mulheres nos conselhos de administração das empresas: 12% nas empresas cotadas em bolsa.”
Conciliar tarefas
Nem todos os adultos acham “perfeitamente aceitável” que uma mulher da sua família tenha um trabalho pago fora de casa, se essa for a vontade dela. No mundo, apenas 83% das mulheres e 77% dos homens concordam com esta afirmação. Na Europa Ocidental/Sul/Norte em geral e em Portugal em particular quase todos (97%).
De acordo com o estudo, as mulheres preferem ter a possibilidade de conciliar trabalho pago com trabalho doméstico (41%) ou fazer só trabalho pago (29%). Apenas 27% escolheriam se pudessem ficar simplesmente em casa.
Já os homens são um pouco menos favoráveis à presença das mulheres no mercado laboral. A nível planetário, 29% julgam que elas devem ficar em casa. Mesmo assim, a maioria preferia que tivessem apenas trabalho pago (28%) ou que o conciliassem com o doméstico (38%).
Em Portugal, onde é grande a participação das mulheres no mercado laboral, é mais expressiva a percentagem das mulheres que respondem “trabalho pago”, quando lhes perguntam o que é preferível (31%); 54% preferiam “conciliar trabalho pago com doméstico”. Neste país, como na vizinhança, só 12% prefeririam ficar em casa. Também os homens portugueses revelam ter uma opinião mais favorável à presença das mulheres no mercado laboral do que os homens em geral. Apenas 18% julgam que elas deveriam ficar em casa.
Conciliar o trabalho doméstico com o trabalho fora de casa é um dos problemas mais apontados quer por mulheres, quer por homens de todo o mundo. No top dos problemas laborais referidos pelos inquiridos estão também o tratamento injusto, o abuso, o assédio no local de trabalho, a falta de trabalho bem pago e a desigualdade salarial.
“Políticas de apoio às famílias, que permitem às mulheres manter-se e progredir num trabalho pago e que encoraje os homens a assumir a sua parte como cuidadores são cruciais para alcançar a igualdade no mercado de trabalho”, considerou Guy Ryder, director-geral da Organização Mundial do Trabalho, de acordo com uma nota de imprensa emitida pela organização.
A este respeito, diz Catarina Marcelino: “A conciliação da vida familiar com a vida profissional é parte indivisível do problema. É necessário que a partilha da vida doméstica seja mais efectiva entre mulheres e homens, uma vez que as mulheres trabalham cerca de 1h45 a mais que os homens em tarefas domésticas e tarefas ligadas ao cuidar.”