A Wikipedia precisa de mais mulheres (nos teclados e nos ecrãs)

Para combater a sub-representação das mulheres na Wikipedia, diversos eventos são organizados para tornar a comunidade mais diversa e promover a edição e tradução de mais artigos sobre mulheres.

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O edit-a-thon internacional Art+Feminism vai ter um evento no Porto, nos dias 11 e 12 de Março DR artefeminismo.wikipedia.pt / Facebok

A comunidade de editores da Wikipedia, que alimenta a maior enciclopédia online do mundo, está a tentar combater o número reduzido de mulheres nas suas fileiras. Enquanto dados de 2011 da Wikimedia Foundation indicam que menos de 10% dos voluntários que editam a Wikipedia se identificam como mulheres, a fundação revelava, em Dezembro passado, que apenas 17% dos artigos da Wikipedia sobre grandes personalidades eram de mulheres, de acordo com a BBC.

Assim, para “reduzir a desigualdade de género existente no movimento”, a Wikimedia tem promovido por todo o mundo edit-a-thons – maratonas de edição e tradução que se têm popularizado para editar artigos sobre diversos temas – dedicados exclusivamente às mulheres.

Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, a campanha #16WikiWomen, enquadrada no projecto Wiki Loves Women, incentiva os participantes a editar, até este dia 8 de Março, as biografias de 16 personalidades femininas africanas em diversas línguas, nomeadamente árabe, inglês, francês, espanhol, português, mandarim e alemão, além de dialectos africanos, como yorubá e zulu.

“A desigualdade de género e a violência contra a mulher são alarmantes em todo o mundo, incluindo em África. Apesar disso, as mulheres são actuantes e influentes em diversas áreas – mas são sub-representadas”, descreve Edsonia Lopes, do grupo Wiki Educação Brasil. “As iniciativas que promovem o conhecimento livre precisam estar comprometidas em agregar essas mulheres e contar as suas histórias”, sublinha a historiadora, num comunicado da Wikimedia Brasil.

Art+Feminism

Também no Porto vai acontecer uma maratona de edição para celebrar o Dia da Mulher, um evento satélite da iniciativa internacional Art+Feminism, que surgiu em 2014.

Nas tardes de 11 e 12 de Março, o edit-a-thon Arte e Feminismo vai reunir voluntárias (e alguns voluntários) no espaço Maus Hábitos para criar, expandir e melhorar textos da Wikipedia, tendo em vista aumentar “o número e a qualidade de artigos relacionados com a arte e o feminismo”, com o apoio da Associação Wikimedia Portugal (WMPT).

Algumas das entradas emblemáticas que foram editadas na edição de 2015 do Arte e Feminismo em Portugal foram as da artista Ângela Ferreira, da cientista política Chantal Mouffe, da médica Cesina Bermudes e da fotógrafa Vivian Dorothea Maier, recorda Sofia Ponte, membro da organização do edit-a-thon.

Numa resposta ao PÚBLICO por e-mail, Sofia Ponte explica que os participantes têm liberdade para escolher e trazer os seus conteúdos para o workshop, e alguns já revelaram as suas ideias: "Sabemos de antemão que uma das participantes vai criar uma página para a ilustradora Manuela Bacelar, outra participante irá criar uma entrada para a museóloga Etheline Rosas, outra participante está a preparar uma página sobre Catarina de Lencastre (1ª Viscondessa de Balsemão) e outra participante está a preparar uma entrada sobre a artista Hilma af Klint".

Reequilibrar a balança

As explicações para o número reduzido de mulheres a editar a Wikipedia vão desde o perfil da própria comunidade de programadores, maioritariamente masculina, até os episódios de assédio relatados pelos colaboradores  – em particular pelas mulheres, como relata o Backchannel  – nas comunidades de editores.

Se, por um lado, a Wikimedia Foundation tem dado apoio a edit-a-thons para aumentar a cobertura de determinados temas e encorajar mais mulheres a editarem a enciclopédia online  – como o evento BBC 100 Women que, em Dezembro, reuniu esforços de todo o mundo e editou mais de 400 perfis de mulheres célebres  –, a organização também tem tentado combater a agressividade com que algumas pessoas são recebidas dentro da comunidade.

No final do ano passado, a Wikimedia anunciou um fundo para desenvolver ferramentas para identificar episódios de assédio, alertar os administradores e dar uma resposta rápida. “Se queremos que todos dêem o seu contributo para a soma de todo o conhecimento, precisamos garantir que todos se sentem bem-vindos”, disse Katherine Maher, directora executiva da Wikimedia Foundation.

Da parte da Wikimedia Portugal, o incentivo a mais diversidade é garantido. André Barbosa, um dos voluntários que fazem parte da direcção da WMPT e que está a assegurar o apoio ao edit-a-thon Arte e Feminismo desde o processo de preparação, afirma ao PÚBLICO que o objectivo é que o evento "não se esgote no fim-de-semana, mas que quem participe e tenha vontade de continuar a editar continue a ter apoio na edição e na integração no seio da comunidade".

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