É a primeira vez que a mulher de François Fillon fala sobre o seu trabalho como assistente parlamentar do marido, o candidato da direita às eleições presidenciais francesas. E para dizer que, efectivamente, trabalhou, assumindo “tarefas muito variadas”.

Garante Penelope Fillon que, ao contrário do que têm vindo a dizer os que procuram forçar o marido a desistir da corrida presidencial, o seu emprego não teve nada de fictício.

O escândalo que envolve o eventual favorecimento de familiares por parte do homem que foi primeiro-ministro (2007-2012) quando Nicolas Sarkozy era Presidente da República, rebentou no final de Janeiro. François Fillon é suspeito de contratar a sua mulher sem que ela tivesse, de facto, qualquer função no staff que o acompanhava no Parlamento francês.

“Eu não considerava que estava a fazer política. Trabalhava para o meu marido e para os habitantes [da região] de Sarthe”, circunscrição pela qual Fillon fora eleito, acrescentou este domingo ao Journal du Dimanche (JDD), numa entrevista que decidiu conceder, na presença do seu advogado, para “pôr fim aos rumores insanos” que têm afectado seriamente a campanha do marido.

Penelope ocupava-se da correspondência e de outros afazeres e pode prová-lo, assegura, nomeadamente através de mensagens trocadas com colaboradores por email e de apontamentos que tomou, documentos que já disponibilizou aos responsáveis pela investigação em curso.

François Fillon teve a mulher ao seu lado como assistente parlamentar entre 1988 e 1990, de 1998 a 2002 e, finalmente, de Maio de 2012 a Novembro de 2013, precisa o diário francês Le Monde. O candidato presidencial assumiu já que estes períodos se incluem num mais alargado de cerca de 15 anos em que Penelope integrou a sua equipa de colaboradores mais próximos, com um salário médio mensal de 3677 euros líquidos.

“O meu papel era ajudá-lo na sua relação com as pessoas que o tinham eleito”, sublinha. “Ele precisava de alguém [para esta função]… Se não tivesse sido eu, teria de pagar a qualquer outra pessoa. Decidimos, então, que seria eu.”

Na mesma entrevista ao JDD, a mulher de Fillon explica que lhe preparava ainda notas para os seus discursos na região que o elegera, Sarthe, que fazia uma espécie de revista de imprensa local para que estivesse sempre ao corrente da actualidade na sua circunscrição e que chegava a representá-lo em cerimónias e eventos.  

No início de Fevereiro, François Fillon viu-se obrigado a pedir desculpa aos franceses por ter cometido o erro de empregar a mulher, que deixou de ser remunerada em 2013, mas fez questão de sublinhar que tudo tinha sido feito dentro da legalidade.

Legal tinha sido também, garantiu, a contratação dos filhos mais velhos do casal, Charles e Marie, que o político empregou quando era senador e que terão recebido, entre os dois, 84 mil euros quando não tinham completado ainda a sua formação como advogados.

Ao francês Journal du Dimanche Penelope Fillon reconheceu ainda que estava ao corrente do facto de os seus filhos terem sido remunerados enquanto colaboradores do marido. “Tudo era legal e declarado”, acrescentou esta mulher discreta que fala pouco e, quando o faz, fá-lo muito baixinho, escrevem os jornalistas que a entrevistaram.

Aludindo ao facto de numerosos elementos do partido de François Fillon, Os Republicanos, lhe terem retirado o seu apoio, Penelope acrescentou, definindo a política como um “mundo terrível”: “Eu, ao contrário de outros, jamais o deixarei.” Na sexta-feira, foi o seu porta-voz, quem desistiu.

Para a mulher de Fillon, é fundamental que o candidato se mantenha na corrida até ao fim, embora lhe caiba a ele, e só a ele, a decisão. “Eu já lhe disse que é preciso continuar até ao fim. Todos os dias lhe digo isto. […] Ser capaz de aguentar [neste ambiente] é uma prova de coragem notável. Ele é o único candidato que tem a experiência, a visão, o projecto e a determinação necessários para liderar a França.”

A entrevista de Penelope Fillon sai no dia em que o marido faz um comício na capital francesa, junto à Torre Eiffel.

As últimas sondagens sugerem que François Fillon será eliminado à primeira volta, marcada para 23 de Abril. À segunda, a 7 de Maio, deverão passar a líder da extrema-direita Marine Le Pen e o liberal e independente Emmanuel Macron.