Incontinência é o problema mais comum após a gravidez

Quatro perguntas a Patrícia Mota, fisioterapeuta especializada na área da saúde da mulher.

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Patrícia Mota é fisioterapeuta, especializada na área da saúde da mulher. Lida diariamente com pessoas que, após o parto, ficaram com problemas de incontinência, mas também dores associadas à cicatriz, tanto de partos vaginais como de cesariana. A fisioterapeuta explica ao PÚBLICO que estas situações são muito comuns, ainda que as mulheres continuem, muitas vezes, a não partilhar os problemas com os profissionais de saúde. No entanto, Patrícia Mota alerta que não é normal ficar com estas sequelas após o nascimento de um bebé, pelo que as mães devem procurar ajuda para avaliar e a reabilitar o pavimento pélvico – e dá com exemplo que nos sistemas de saúde como o norueguês essa já é a prática corrente.

Depois de um parto, há sempre dores na relação sexual?
Quase todas as mulheres passam por dores na relação sexual, sobretudo se amamentam, mas deve ser uma situação transitória, por falta de lubrificação ou por algum ponto mais doloroso na cicatriz. A questão é que no pós parto muitas vezes as mulheres não estão disponíveis e não se sentem recuperadas para retomar a vida sexual. Raramente nos procuram por razões sexuais, normalmente é por incontinência, mas quando questionamos é um ponto que acaba por estar presente e que deixa as mães mais tempo em tratamento.

Quando é que se deve recorrer a um profissional de saúde?
Se há dor ou desconforto associado à presença de uma cicatriz, seja num parto vaginal ou numa cesariana, devem referir isso porque é preciso avaliar e há estratégias para prevenir ou melhorar. Usamos muito o discurso de que há muitas situações comuns no pós parto, mas isso não quer dizer que sejam situações normais. Mas mesmo sem sintomas, deve ser sempre feita uma avaliação do períneo após um parto. Se uma mãe estiver em casa de licença e sem fazer exercício com impacto é possível que não tenha sintomas de incontinência. Há muitas mulheres que só ao fim de muitos meses, quando voltam à actividade normal é que sentem as perdas de urina.

Os problemas mais comuns nas consultas são os casos de incontinência?
Sim, são as perdas. O problema é que, em geral, só nos chegam os casos muito graves. Atendemos casos de prolapsos de bexiga e útero e também de incontinência fecal. Na Noruega e noutros países do norte da Europa a avaliação do períneo é obrigatória sempre que uma pessoa tem um bebé. A ideia é verificar se está tudo bem e ensinar exercícios do pavimento pélvico para prevenir uma série de condições no futuro, porque com os ciclos hormonais, gravidezes e partos as mulheres estão mais predispostas do que os homens a problemas de incontinência. Uma perda involuntária de urina, nem que seja só uma vez e só umas gotinhas, já é incontinência e sinal de que algo não está bem.

Como podem ajudar?
Com exercícios que ensinamos. De uma forma muito gráfica, o pavimento pélvico é como um navio que está dentro de água. O navio são os nossos órgãos e a água é o pavimento pélvico que mantém os nossos órgãos no sítio. Quando o pavimento pélvico está fraco a água desce e o navio fica só pendurado por umas cordas e vai começar a fazer peso nessas cordas. Mesmo em quem é operado, o que a cirurgia faz é puxar as cordas para cima. Mas se continuar a não haver água que as suporte os problemas podem voltar. Os exercícios devem sempre ser a medida de primeira linha, isto independentemente do tipo de parto. Há muitas mães surpreendidas pelo facto de terem alguns sintomas e terem tido uma cesariana. Mas só pelo peso que carregam ao longo da gravidez têm riscos, apesar das lesões serem mais comuns nos partos vaginais traumáticos.

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