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“Museu Judaico sim, mas não no Largo de S. Miguel”, diz associação de moradores de Alfama

Arquitecta da organização do Fórum do Património acredita que edifício do museu judaico de Lisboa não respeita as características arquitectónicas daquele largo em Alfama e ultrapassa as determinações do Plano Directo Municipal.

Foto
Público

A Associação do Património e População de Alfama (APPA) quer a “alteração completa do projecto” arquitectónico ou então que o Museu Judaico de Lisboa não seja feito no Largo de S. Miguel, em Alfama, para onde está previsto.Esta quarta-feira, apoiada pela comissão organizadora do Fórum do Património 2017, Maria de Lurdes Pinheiro, da APPA, falou aos jornalistas em nome dos moradores. Diz que são contra um projecto que “corta com a tradição do bairro”. Em causa está o edifício projectado por Graça Bachmann, em colaboração com Luís Neuparth e Pedro Cunha, para receber o museu e centro de interpretação sobre a presença judaica em Portugal.

De acordo com o projecto, o edifício, com quatro andares acima do nível da rua, vai ter duas fachadas distintas, uma delas com uma Estrela de David em baixo relevo e pedra lioz, virada para o largo e a Rua de S. Miguel. Esta fachada terá ainda caixilharias em alumínio. “Vai ser mais um elemento descaracterizador da Baixa”, acredita a moradora.

Segundo Maria de Lurdes, os moradores receberam “com muita surpresa” o acordo que formalizou a construção do Museu Judaico de Lisboa naquele largo, assinado em Setembro de 2016 entre a Comunidade Israelita de Lisboa, a Associação de Turismo de Lisboa e a Câmara Municipal. Desde então os membros da associação de moradores têm-se informado sobre o projecto e “contado às pessoas do bairro”. Um projecto que, diz Maria de Lurdes, foi feito “ao arrepio dos moradores”: “A Câmara arranjou maneira de não fazer a discussão pública”.

A oposição nada tem a ver com o museu em si, garante. “Museu Judaico sim, mas não no Largo de S. Miguel.” Segundo a moradora, Alfama só pode ter um museu que “se integre no ambiente do próprio bairro”.

A APPA teme ainda que a construção do museu impossibilite as cargas e descargas no largo e “acabe com o pouco estacionamento” para moradores e trabalhadores naquele bairro lisboeta. “Vão deixar de estar aqui as barraquinhas de Santo António”, prevê Maria de Lurdes. O museu vai ter uma entrada pelo Largo de S. Miguel e uma saída pelo Beco do Pocinho.

Em alternativa ao Largo de S. Miguel, Maria de Lurdes propõe a construção deste espaço na Rua do Jardim do Tabaco, onde já existe o Museu do Fado. Quando foram assinados os acordos para construção do novo museu, a antiga vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa, Ester Mucznik, justificava a escolha do Largo de S. Miguel por este ser um “local altamente simbólico”, dada a proximidade à antiga Judiaria de Alfama.

Aquando da assinatura do protocolo, previa-se a abertura do museu em Setembro deste ano.

“Não pode haver excepções ao PDM”

“Há uma série de regulamentos que estão a ser ultrapassados e postos em causa”, acusou a arquitecta Soraya Genin, da organização do Fórum Património 2017. Começa pela localização. O Largo de S. Miguel está inserido na zona de protecção da Igreja de São Miguel, um Imóvel de Interesse Público, e parte do Núcleo Histórico de Alfama e Colina do Castelo. “O que implica que tudo o que aqui for construído tem de respeitar as características arquitectónicas do local”, o que não acontece com este projecto, entende.

Destaca o Plano Director Municipal, segundo o qual o terreno em causa está registado para habitação corrente, mas “como sendo um exemplar significativo”. Para construir o novo museu é necessária a demolição de quatro edifícios neste local, um deles já demolido. “Não pode haver excepções ao PDM nem a plano nenhum”, defende a arquitecta.

O próprio despacho de apreciação técnica do projecto feito pela autarquia reconhece que o edifício se “destacará da linguagem arquitectónica dos edifícios confinantes, dissonando das referências das composições arquitectónicas dominantes no conjunto do Largo”. O “excepcional do uso em causa” – construção do museu –, “contemporaneidade e o interesse da solução proposta” justificaram, no entanto, a aprovação do projecto. O mesmo é dito em relação à demolição dos quatro edifícios, aprovada, apesar não ter sido apresentada uma “justificação suficiente” do ponto de vista do estado de conservação dos edifícios.

 

Notícia actualizada com nome correcto da Igreja de São Miguel, no largo com o mesmo nome.

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