Outros momentos épicos em que alguém “fez uma à Warren Beatty”
Atribuir o Óscar de Melhor Filme a La La Land quando, na realidade, o vencedor era Moonlight foi um erro que a história da indústria do entretenimento dificilmente esquecerá, mas está longe de ser o único.
A equipa de La La Land: Melodia de Amor já estava no palco. Mais, já estava a discursar, lançando sobre a audiência frases como “há muito amor nesta sala” ou “a repressão é o inimigo da civilização por isso continuem a sonhar”, quando se deu pelo erro. Afinal, quem ia levar para casa o Óscar de Melhor Filme não era o musical de Damien Chazelle, mas Moonlight, o drama sobre o crescimento de um gay negro num bairro duro de Miami dirigido por Barry Jenkins. Confuso? Claro. Inédito na história dos Óscares? Sim. E na das transmissões televisivas de cerimónias que envolvem prémios? Longe disso.
No rescaldo do erro de Warren Beatty e Faye Dunaway – a dupla de actores de Bonnie and Clyde foi encarregue de apresentar o principal prémio dos Óscares e acabou por ler o envelope errado – os meios de comunicação desataram a fazer listas das gaffes cometidas nos últimos anos, identificando embaraços semelhantes e estranhas situações em galas de prémios da música, concursos de beleza e até eventos desportivos.
O diário britânico The Guardian escolheu, por exemplo, outra controvérsia da cerimónia da Academia de Hollywood, mas bem menos gravosa do que a da madrugada desta segunda-feira. Foi em 1993, quando o apresentador Jack Palance disse que Marisa Tomei ia receber o Óscar de Melhor Actriz Secundária pelo seu papel em O Meu Primo Vinny. Rapidamente se espalhou o rumor de que tinha sido um erro. Motivo? Uns diziam que Palance estava a ler do teleponto e não do cartão que vinha no envelope, outros avançavam a hipótese de o actor ter dito o único nome de que conseguia lembrar-se. Erro ou não, Tomei ficou com o prémio.
Em 2015, recorda ainda o jornal, o erro atingiu o concurso que tenta encontrar a mulher mais bonita do universo. Nos últimos instantes do programa transmitido em dezenas de países, o comediante Steve Harvey “fez uma à Warren Beatty” – o Guardian usa mesmo esta expressão e é bem capaz de pegar – e anunciou a Miss Colômbia (Ariadna Gutiérrez) como vencedora quando, na verdade, quem ganhara fora a Miss Filipinas (Pia Alonzo Wurtzbach). A gaffe de Harvey levou a que a também colombiana Paulina Vega, a rainha cessante, fosse forçada a tirar a coroa da cabeça de Gutiérrez e a pô-la na de Wurtzbach, ali mesmo em directo.
No campo da beleza e, neste caso, também da moda, Guardian e BBC lembram ainda a final do concurso Australia's Next Top Model, quando a apresentadora Sarah Murdoch, que estava a receber a informação da vencedora através do seu auricular, anunciou o nome de Kelsey Martinovich em vez do de Amanda Ware. “Oh Meu Deus. Não sei o que dizer neste momento”, admitiu Murdoch, pedindo desculpa a concorrentes e espectadores.
Nisto das transmissões em directo o desporto também não escapa. Quem gosta de acompanhar os Jogos Olímpicos até altas horas da madrugada – e a natação em particular – lembra-se certamente da prestação espectacular de Michael Phelps em várias provas na última edição de 2016. Na dos 200 metros estilos o nadador norte-americano ganhou o seu 22.º ouro olímpico, mas quem estava a acompanhar a “corrida” através da CBC no Canadá talvez não se tenha apercebido de imediato da vitória de Phelps. Porquê? O comentador Bryan MacDonald parecia estar a assistir a outra prova, chegando mesmo a dizer “Ryan Lochte vai bater Michael Phelps…” E como se esta não tivesse bastado, acrescentou: “Phelps pode até nem chegar ao pódio!” Enganou-se.
Na música, os erros e situações bizarras são mais que muitas. E vão desde o momento em que Michael Jackson aceitou um prémio que não existia àquele em que o rapper Kanye West invadiu o palco para arrancar o microfone das mãos de Taylor Swift na gala dos Prémios MTV 2009.
No primeiro caso, e também nos Prémios MTV (2002), a estrela da pop subira ao palco para apagar as velas – a cerimónia coincidia com o seu aniversário – e ouviu dizer à cantora Britney Spears, encarregue do bolo, que ele era para ela “o artista do milénio”, só que Jackson percebeu que tinha recebido o prémio de “artista do milénio”. E fez um discurso a agradecer tal honraria, evocando Deus, a mãe, o mágico David Blaine e a eterna Diana Ross, uma das suas maiores referência.
West, por seu lado, não agiu por interesse próprio. Quando invadiu o palco para falar, antes que Swift tivesse tido oportunidade de dizer fosse o que fosse, foi para se insurgir contra a decisão de lhe atribuir o prémio para o melhor vídeo feminino pela canção You belong with me – West defendeu perante quem o quis ouvir que justo teria sido dá-lo a Beyoncé.
Em Cannes, França, na gala dos prémios NRJ 2009 (atribuídos pela rádio com o mesmo nome e a televisão TF1) Katy Perry aceitou por engano o galardão para a melhor canção internacional que pertencia a Rihanna (a confusão de Perry foi atenuada pelo facto de, na mesma cerimónia, ter recebido o prémio para melhor álbum internacional pelo seu One of the Boys).
No caso dos prémios Mobo de 2016, escreve a BBC no seu site, voltou a ser um envelope o responsável pelo engano na hora de anunciar o vencedor da melhor canção. O trio R&B WSTRN manteve o prémio durante uma hora até que alguém corrigiu a situação e deu o seu a seu dono - MC Abra Cadabra tinha sido o escolhido.
Warren Beatty e Faye Dunaway podem não estar sozinhos nisto de dizer o nome errado frente a milhões de pessoas agarradas a um ecrã, mas é quase certo que, a partir de agora, a sua monumental gaffe nos Óscares de 2017 vai encabeçar toda e qualquer lista do género que não seja obrigada a obedecer a uma organização cronológica. Errar nos Óscares é, definitivamente, errar em grande.