Um negócio de peso

O negócio dos bifes ou das costeletas é um lugar estranho. Na parte da produção é principalmente um negócio de engorda; na parte do comércio é quase sempre um negócio de preço. Pelo menos em Portugal.

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fernando veludo / nfactos

O circuito da criação até ao mercado está próximo do modelo de produção industrial, onde o verde dos campos e o bucolismo do mundo rural têm cada vez menos espaço. O tempo em que o dono do talho comprava um animal ao criador, abatia-o e vendia a sua carne é cada vez mais distante. Hoje, o negócio dos bifes e costeletas é dominado por grandes empresas dedicadas à engorda e ao processamento. Um negócio onde a eficiência é crucial.

Na Monte do Pasto criam-se bovinos, mas a maior parte dos animais que enchem os seus intermináveis parques são comprados fora de portas quando acaba o aleitamento – embora haja por lá 1400 vacas aleitantes. O negócio da empresa é engordá-los num curto espaço de tempo e vendê-los. Concretizando: regra geral, a Monte do Pasto compra bovinos com cerca de 220 quilos de peso e vende-os quatro meses mais tarde com um peso a variar entre os 350 e os 450 quilos. Se forem exportados, os animais passam ainda cerca de dois meses em “acabamento” nos países de destino antes de serem abatidos.

Num estado sanitário normal, um bovino macho pode engordar até 1,4 quilos por dia. Uma fêmea pode crescer 1,1 quilos por dia. Mas a diferença na produtividade entre as diferentes raças é enorme. Se as raças autóctones, como a mirandesa ou a mertolenga, são apreciadas pela qualidade da carne, as raças Angus, cruzada de Limousine ou Charolesa (as que existem no Monte do Pasto) valem pela sua produtividade.

O segredo do negócio está também na eficiência da alimentação dada aos animais – e, obviamente, na qualidade do seu estado sanitário. Para o efeito, a Monte do Pasto dispõe de uma fábrica de rações nas suas instalações, na Herdade do Trolho, que produz 34 mil toneladas por ano a partir de milho, cevada, derivados de soja e palha – fundamental para a digestão dos animais. “A nossa receita é muito boa e perante a procura de outros criadores esta pode ser uma área de negócio para crescer”, diz a gestora Clara Moura Guedes.

O volume de produção da empresa é tão grande que começa a ter impacte visível nas estatísticas e a influenciar as cotações no mercado interno. Entre 2014 e 2016, a exportação de animais vivos quase duplicou, passando para 104 mil, o que valeu 86,1 milhões de euros. “O aumento das exportações de animais vivos, caso particular dos bovinos, tem tido um efeito positivo particularmente ao nível dos preços”, ao incentivar a produção e ao criar a “possibilidade de canais alternativos de escoamento”, explica Eduardo Diniz, director-geral do GPP, o gabinete de planeamento e políticas do Ministério da Agricultura. “As iniciativas de explorações de engorda e acabamento, de que Monte do Pasto é um exemplo, permitiram que a produção da bovinicultura extensiva não ficasse tão dependente dos circuitos de comercialização do mercado nacional, os quais caracterizavam-se por uma pressão de preços em baixa elevada”, explica Eduardo Diniz.

Portugal importa cerca de metade das suas necessidades de carne bovina, o que representa a compra no exterior de cerca de 100 mil toneladas por ano. Em 2015, o sector da carne representou 8,6% do valor da produção agrícola nacional. Dois anos antes, em 2013, existiam em Portugal 1,4 milhões de bovinos (nem todos para a produção de carne). O Alentejo, com 607 mil animais, era de longe a região com mais peso na bovinicultura nacional.

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