Los Carpinteros: “A imagem da explosão é recorrente na nossa cabeça. Porquê?”

Os artistas cubanos Los Carpinteros trazem a Lisboa um dos seus espaços explodidos. Uma grande escultura-instalação que vai inaugurar as Carpintarias de São Lázaro.

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Marco Castillo, da dupla cubana Los Carpinteros ENRIC VIVES-RUBIO

Em vésperas da Arco, a feira internacional de arte contemporânea de Madrid, a imprensa espanhola tem destacado a participação dos artistas cubanos Los Carpinteros como um dos sinais de que a feira está a recuperar a sua ambição com o regresso de grandes peças. Este duo composto por Marco Castillo e Dagoberto Rodríguez traz a Lisboa Show Room, instalação-escultura que tenta recriar a experiência de uma explosão, uma imagem mais do que repetida nos média ou no cinema e a que já não damos significado. 

A exposição, que é inaugurada esta sexta-feira e abre ao público no dia seguinte, serve para apresentar a Lisboa as Carpintarias de São Lázaro, um novo centro de criação explorado por uma associação cultural que tem o apoio da Câmara Municipal de Lisboa. Até à inauguração definitiva, prevista para Setembro-Outubro, as Carpintarias têm uma programação em colaboração com a Lisboa 2017– Capital Ibero-americana de Cultura. 

Durante a montagem de Show Room esta semana, falámos com Marco Castillo, que vive entre Madrid e Havana.

Como é que pensaram esta instalação para as Carpintarias de São Lázaro?
Nós somos artistas que constroem. Usamos o artesanato e a capacidade humana de construir. Há alguma intenção conceptual, algum propósito político, social, mas o nosso trabalho tem sempre uma base material muito importante. Construímos objectos úteis e essa utilidade, quando é manipulada, gera outro sentido. Neste caso queremos construir uma situação de destruição. O que é complicado porque estamos construindo e destruindo ao mesmo tempo. O artesanato tem um objectivo que não é positivo, é negativo.

Vocês chegaram aqui, a um espaço vazio, construíram paredes, uma parte de uma casa de banho, outra de um quarto. Qual é a relação com a cidade?
Na verdade é um show room do Ikea. A peça chama-se Show Room. Todos os objectos são um set do Ikea. Depois, também destruímos os objectos. Mas aqui dentro não há humanidade. Não há sangue nem fumo.

Constroem para destruir, para criar esta sensação de suspensão no tempo?
Pouco a pouco, com muito trabalho, vamos colocando as peças suspensas em função de uma explosão ou de um impacto. Não exprimimos o que é, não explicamos.

Têm ideia de quantos bocados têm suspensos?
Vamos gastar talvez 5500 metros de fio. Não estamos a contar, mas são milhares de peças. E não podemos pôr dez ao mesmo tempo, tem de ser uma a uma.

Este Show Room faz parte da vossa série dos espaços explodidos?
Temos uma série deste tipo de impactos. A primeira que fizemos não tem móveis, só blocos de cimento. Essa fizemos pela primeira vez em Havana, há muitos anos. E depois foi comprada pela Fundação Thyssen-Bornemisza em Viena. Já viajou por todo o lado, de Tóquio ao México. Cada vez que se mostra é preciso comprar outra vez os materiais. A peça toma sempre uma versão diferente.

O que é que vão levar a Madrid?
Temos duas intervenções. Uma é com a galeria Peter Kilchmann: vamos mostrar uma sala de leitura, é um tipo de escultura de madeira que costumamos fazer. E a galeria Kow de Berlim vai mostrar um vídeo. A peça da sala de leitura é nova, mas a série é antiga.

Vocês falam da suspensão do tempo, mas constroem para destruir. Sente alguma contradição nisso?
É uma contradição, mas o objectivo é pôr o público numa situação analítica. Nós estamos muito familiarizados com a imagem da explosão. A imagem da explosão é recorrente na nossa cabeça. Porquê? É uma imagem que está sempre na imprensa, nos noticiários, nos filmes, em toda a parte. Uma bomba é uma imagem natural na nossa cabeça. Porquê? Os portugueses nunca têm esta situação aqui, está muito longe. E os que estavam perto possivelmente morreram [risos]. Aqui fazemos a aproximação possível, para as pessoas poderem olhar para isso. Na Carpintaria pode-se estudar como é que acontece. Podemos subir para ver do mezanino, podemos dar a volta.

O que acha desta redundância, desta ironia de Los Carpinteros trabalharem numa antiga carpintaria?
Para nós é como voltar ao templo, porque a carpintaria sempre foi uma metáfora. Aqui não, aqui tem uma história real de um grémio, de um grupo de trabalhadores que durante gerações produziram móveis. É um espaço carregado daquilo de que estamos sempre a falar.

Como é que estão Cuba e Havana depois da morte de Fidel Castro? Já houve mudanças?
A morte de Fidel Castro não provocou nada. Ele estava morto. Os cubanos não têm nenhum tipo de preocupação, alegria ou tristeza pela morte dele. Ele foi embora pouco a pouco. Há umas mudanças anteriores que Raúl Castro começou a fazer. Dessas sentiu-se o impacto na sociedade cubana. Tem a ver com a criação da pequena empresa. Trouxe uma nova energia que tem a ver com a iniciativa privada, que antigamente era perseguida e agora é permitida. Isso deixa todo o cubano muito excitado.

Em termos artísticos passam mais tempo em Havana ou em Madrid?
Em Madrid, mas voltamos sempre a Cuba. Quatro meses em Havana é muito também. Temos uma relação muito activa com o mundo cultural de Havana.

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