Aceleração da economia surpreende mas não convence Bruxelas

O crescimento acima do esperado no terceiro trimestre em Portugal forçou a Comissão a rever as suas estimativas, mas um novo abrandamento é já projectado para o final deste ano.

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A Comissão antevê um abrandamento do consumo a partir deste ano Fabio Augusto

É um acontecimento bastante muito poucas vezes visto: neste momento a Comissão Europeia tem previsões mais optimistas de crescimento para Portugal do que o Governo. O problema é que em Bruxelas ainda não se acredita que a aceleração da economia, registada a partir do terceiro trimestre do ano passado, tenha vindo para ficar.

Nas suas previsões de Inverno, o executivo europeu reviu de forma significativa as suas estimativas para a economia portuguesa. Para 2016, prevê agora um crescimento de 1,3%, quando há três meses não ia além dos 0,9%. Para 2017, a projecção foi revista de 1,2% para 1,6%. Estes novos números são ligeiramente melhores do que as previsões actuais do Governo, feitas quando foi apresentada em Outubro a proposta de Orçamento do Estado para 2017: um crescimento de 1,2% em 2016 e de 1,5% em 2017.

A explicação para este maior optimismo da Comissão está naquilo a que se tem assistido em Portugal nos últimos meses. "O desempenho económico forte durante a segunda metade de 2016, particularmente no turismo, melhorou as perspectivas para a economia portuguesa", escreve-se no relatório publicado esta segunda-feira.

O consumo está “robusto", aproveitando o aumento da confiança dos portugueses durante os últimos meses e o efeito da subida do salário mínimo. E as exportações estão a conquistar quota de mercado internacional. Só o investimento desiludiu com um recuo de 1,5% este ano.

Estes resultados de 2016, sentidos na segunda metade do ano, irão prolongar-se pela primeira metade de 2017, permitindo que nesse ano Portugal consiga interromper a tendência de divergência com a zona euro, registando um crescimento idêntico ao da média dos seus parceiros.

Para a Comissão Europeia, contudo, as fragilidades da economia portuguesa voltarão a revelar-se logo a partir de meados de 2017. É verdade que Bruxelas até prevê uma recuperação do investimento, com um crescimento de 3,8% e 4,2% em 2017 e 2018, respectivamente, e uma manutenção dos ganhos de quota de mercado nas exportações. Mas ao nível do consumo, o ímpeto actual é visto como insustentável, e a previsão é que, depois de um crescimento de 2,1% em 2016, este indicador aumente 1,6% em 2017 e 1,2% em 2018, afectado pelo crescimento mais moderado dos salários e pela subida da inflação.

Segundo a Comissão, Portugal voltará em 2018 a ser um dos países com pior desempenho económico, apenas melhor que a Itália e igual à Finlândia. O crescimento previsto de 1,5% nesse ano fica abaixo da média europeia de 1,8%.

Ainda assim, há mais boas notícias. A Comissão Europeia aponta para a manutenção da tendência de descida do desemprego que, ao contrário do que afirma a OCDE, poderá ficar abaixo da barreira dos 10% durante os próximos anos. A previsão agora apresentada é de uma descida contínua da taxa de desemprego de 11,2% em 2016 para 10,1% em 2017 e 9,4% em 2018.

E, embora se espere também uma aceleração das importações, a Comissão continua a projectar a manutenção de um excedente das contas externas portuguesas.

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