Pediram-lhe um terminal de autocarros e ele desenhou um parque urbano
Nuno Brandão Costa venceu o concurso para a concepção do futuro terminal intermodal de Campanhã, articulando a estação de comboios com a desordenada área a leste da via férrea.
A freguesia de Campanhã vai ganhar um novo parque verde, no miolo urbano “caótico” a leste da estação de comboios, entre a Rua do Pinheiro de Campanhã e a Quinta da Mitra, junto ao nó da Bonjóia da VCI. A proposta é do arquitecto Nuno Brandão Costa que, no meio deste terreno, escondido sob o jardim, desenhou o novo terminal intermodal da zona Oriental do Porto que vai articular o transporte rodoviário, colectivo e particular, com o modo ferroviário.
O projecto de Nuno Brandão Costa para o novo Terminal Intermodal de Campanhã (TIC) mereceu a unanimidade do júri do concurso lançado pela Câmara do Porto. Havia 22 propostas, mas, como explicou o presidente do júri, o arquitecto Carlos Prata, a forma como esta valorizava o espaço público e as áreas de espera da gare, todas elas voltadas para uma nova área verde, teve um peso grande na decisão.
Carlos Prata considera que esta obra “vai ser o motor para a transformação de uma área da cidade esquecida durante décadas”. Apanhado fora do Porto na altura do anúncio do vencedor do concurso, Nuno Brandão Costa admitiu que a dissimulação do novo terminal, em função de um desejo de reabilitação e reformulação dos usos daquela zona, presidiu ao trabalho da equipa que liderou, e na qual, para além dos saberes ligados à mobilidade, a arquitectura paisagista acabou por ter preponderância.
O arquitecto que venceu o Prémio Sécil em 2008, e que está a trabalhar com o município na reabilitação do Bairro São João de Deus, na mesma freguesia, explica que este outro projecto em Campanhã não foi pensado apenas para quem for ali para, por exemplo, apanhar um autocarro, mas para os próprios habitantes daquela área da cidade, que passam a contar com um jardim que terá dimensões mais generosas do que o de São Lázaro, exemplificou. Foi esta a melhor fórmula que encontrou para, usando a expressão do autarca Rui Moreira, cerzir aquele espaço degradado, onde seria impossível, assume Brandão Costa, fazer diluir o corte que a existência das linhas de comboio representa, e ligar as zonas a oeste e a leste da estação de Campanhã.
Em vez de uma ligação, a equipa procurou a articulação daqueles espaços. Quando a obra do TIC estiver concluída, quem olhar da estação de comboios para leste vai passar a vislumbrar o espaço verde, arborizado, sobre a cobertura do terminal, rematada por um muro, sob o qual se desenvolve uma pérgula, área de circulação pedonal e de acesso a serviços e escritórios. No interior deste piso, situam-se os acessos subterrâneos às linhas da estação de comboio e as áreas de partida e chegada dos autocarros. Num patamar inferior acessível através da malha viária circundante, há espaço para estacionamento de 268 automóveis num regime de Park & Ride, a que acrescem 31 lugares no exterior.
Envolvendo a rede viária, que prevê a construção de uma nova via de interligação entre o TIC e o nó da Bonjóia da Via de cintura Interna, o projecto prevê que os interstícios sejam todos arborizados. Nas plantas entregues ao concurso a equipa estende este manto ajardinado até aos limites da Rua de Pinheiro de Campanhã, cobrindo o espaço onde hoje está situado o campo de futebol Mário Navega, mas fonte da Câmara do Porto garantiu que esta estrutura desportiva não está abrangida pela intervenção. A Norte, o projecto prevê uma articulação do novo parque urbano com a Quinta da Mitra, e a respectiva casa que passa, também ela, a ter um novo enquadramento.
Na memória descritiva do projecto, Nuno Brandão Costa considera que o terminal, e a rede viária reformulada em função deste novo equipamento “insinua a possibilidade da criação de uma frente urbana, que existe por colmatar, ou o limite da continuidade do Parque, que se pode estender para nascente, ocupando as áreas livres de construção entre a malha e o novo arruamento”. Ao PÚBLICO, o arquitecto lembrou que os parques recentes (como o da Cidade, ou o Oriental), têm sido construídos nas franjas da cidade, enquanto este se desenvolverá no miolo urbano, cumprindo ainda uma função ambiental de correcção das emissões poluentes decorrentes da instalação neste local de um terminal rodoviário.
As 22 propostas entregues ao concurso foram todas abertas esta sexta-feira de manhã, numa cerimónia pública, presenciada pela imprensa, elementos do município e alguns concorrentes, que decorreu na sede da empresa municipal de Obras Públicas. Cada projecto foi identificado, naquele momento, pelo seu número de entrada no concurso, e só ali o júri passou a conhecer o nome do vencedor, num procedimento elogiado por Carlos Prata. Os também portuenses Pablo Pita arquitectos ficaram em segundo lugar, e o Gabinete MVCC, de Mercês Vieira Camilo Cortesão, também do Porto, ficou em terceiro. Os três primeiros classificados têm direito a um prémio de 12,5 mil, dez mil e 7,5 mil euros, respectivamente.
O projecto vencedor tem um valor de execução calculado em 6,36 milhões de euros, abaixo, portanto, dos 6,8 milhões estimados pela Câmara do Porto. O autarca Rui Moreira adiantou que o concurso público para a execução da obra será lançado com a brevidade possível, considerando que a empreitada possa começar em 2018. “Este é um projecto muito importante para cerzir aquela parte da cidade, rasgada por três vias, a VCI, a Circunvalação e a linha férrea”, afirmou o autarca.