Fillon pede perdão por empregar a família, mas diz que foi tudo legal

O candidato do centro-direita às presidenciais francesas insiste na sua inocência, recusando sair da corrida, como muitos pedem, e prometeu divulgar os seus impostos.

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Fillon afirmou que “todos os factos são legais e transparentes” Benoit Tessier/REUTERS

François Fillon, o candidato da direita às eleições presidenciais francesas, não só diz que se mantém na corrida como vai começar uma nova campanha, apesar dos apelos para que se retire, por causa das investigações lançadas após a suspeita de que deu um emprego fictício à mulher como sua assistente parlamentar. Mas reconhece erros e pediu desculpa aos eleitores: “Privilegiei as relações de confiança familiares, que hoje suscitam desconfiança. Lamento-o, e peço perdão aos franceses”, afirmou.

Anunciou que a sua campanha vai recomeçar, com novo fôlego, depois de uma reunião com as principais figuras do partido Os Republicanos, nesta segunda-feira à noite. E confirmou ter dado emprego à mulher durante cerca de 15 anos, “com um salário médio de 3700 euros, um montante de remuneração adequado para uma diplomada em direito e letras”, disse o candidato.

“A sua remuneração foi apresentada em bruto, num único bloco. Seja qual for o montante em bruto durante 15 anos é espectacular”, queixou-se Fillon, referindo-se aos 900 mil euros que foram referidos pelo semanário Le Canard Enchainé, que revelou o caso. Divulgou ainda na Internet as remunerações da mulher, bem como a sua declaração de impostos – “tal como a transmiti à Alta Autoridade para a Transparência da Vida Pública em Dezembro.”

Aos muitos que dizem nunca ter visto Penelope Fillon na Assembleia, respondeu que ela fazia trabalho de apoio na circunscrição pela qual era eleito, na região de Sarthe. “Acções modestas, anódinas, mas indispensáveis à democracia local. A minha mulher geriu o meu correio, manteve a minha agenda, representou-me em manifestações culturais locais”.

Penelope Fillon manteve-se como assistente do deputado que substituiu o seu marido na Assembleia, quando este foi para ministro, porque ele quis manter o vínculo ao seu círculo. “Ela continuou a desempenhar esse papel fundamental”, afirmou François Fillon.

Prometeu que, se for eleito Presidente, avançará com a realização de um referendo “para reformar os mandatos parlamentares e a maneira como são formadas as equipas.” Mas 68% dos franceses desejam que Fillon retire a sua candidatura, segundo uma sondagem Ifop divulgada domingo pelo Journal du Dimanche. Só 23% o consideram honesto.

Na conferência de imprensa em que quis ripostar contra “um julgamento do sistema mediático”, Fillon trazia uma resposta para a “muito comentada” frase de Penelope Fillon, que em 2007 disse ao jornal britânico Daily Telegraph que nunca fez "vida política". A entrevista, que nunca tinha sido transmitida (apenas publicada em papel), foi transmitida na semana passada num programa da France 2. “Quem faz política são os deputados, não os seus assistentes”, declarou Fillon. “E sim, ela nunca foi minha subordinada: é minha companheira.”

“A jornalista que fez a entrevista contactou a minha mulher e diz-se chocada pelo uso que foi feito da entrevista”, disse o candidato. Mas o Libération rapidamente entrou em contacto com Kim Willsher, que desmentiu estas declarações. “Nunca denunciei a investigação do programa Enviado Especial. Fizeram o seu trabalho. Este boato [sobre estar chocada] nasceu em falsos tweets. Se estou chocada, é por causa deste boato”, disse a jornalista. E depois foi para o Twitter, desmentir Fillon de viva voz: “Não, sr. Fillon. A reportagem não me chocou. Pare, se faz favor.”

Fillon falou também sobre os filhos mais velhos do casal, Charles e Marie, que o político empregou quando foi senador, e que terão recebido 84 mil euros, entre os dois, quando ainda não tinham completado a sua formação como advogados. “Paguei cerca de 3000 euros a cada um, estritamente declarados”, assegurou. Desmentiu que Charles tivesse trabalhado para a campanha de Nicolas Sarkozy, em 2007, e que a filha tivesse escrito um dos seus livros. “Trabalhou na base documental que esteve na sua origem”, justificou.

Perante a investigação judicial e os apelos para que desista da candidatura, François Fillon avançou com o pedido de desculpas – mas não deixou de afirmar que “todos os factos são legais e transparentes”.

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