Novo Banco: Lone Star reuniu-se com Ramalho e Banco de Portugal
O responsável das operações europeias do Lone Star chegou esta terça-feira a Portugal para tentar levantar os obstáculos à compra do banco liderado por António Ramalho.
Olivier Brahin, o responsável pelas operações europeias do Lone Star, seleccionado pelo Banco de Portugal (BdP) para negociar a compra do Novo Banco, esteve esta semana em Portugal a desenvolver contactos com a gestão e as autoridades. Isto ocorre numa altura em que o Novo Banco continua a ser gerido por apenas três executivos, onde se inclui António Ramalho, quando os estatutos prevêem uma equipa de sete membros.
O responsável do fundo de "private equity" norte-americano Lone Star chegou esta terça-feira à noite a Portugal, para se reunir com a equipa liderada por Sérgio Monteiro, que Carlos Costa encarregou de vender o terceiro maior banco português, alvo de intervenção a 3 de Agosto de 2014.
Antes, Brahin encontrou-se com António Ramalho, na sede do Novo Banco, a quem informou que pretende continuar a contar com ele para presidir à instituição, caso vença a operação.
Nas suas “visitas”, Brahin fez-se acompanhar de Kamdiv Nourbakhsh e de Benjamin Dickgiesses, que o fundo destacou em permanência para Portugal para seguirem o dossier. O objectivo das movimentações é tentar melhorar a proposta inicial do Lone Star, que continua a estar condicionada a uma garantia estatal sobre cerca de 2.500 milhões de euros de activos (protecção contra eventuais desvalorizações).
Mas o pedido de aval público é precisamente o que o Governo não está disponível para conceder. E esta é a posição que, aliás, tem feito questão de evidenciar: não haverá soluções para o Novo Banco com impacto orçamental. E é neste cenário - que exclui garantias públicas quer do Estado, quer do Fundo de Resolução, o vendedor - que todos, Governo, BdP e Lone Star (mas também o outro fundo norte-americano, Apollo, que desenvolve conversas paralelas) estão neste momento a trabalhar.
No acto da compra, o Lone Star propõe-se aumentar o capital do Novo Banco em 750 milhões de euros (e pagar ao Fundo de Resolução outro tanto). E o “seguro” estatal visa acautelar possíveis exigências do BCE de injecções adicionais de fundos na instituição, nomeadamente as que resultarem dos próximos testes de stress à banca europeia. Isto, dado que há dúvidas sobre o valor real de cerca de 3000 milhões de euros de imparidades.
Em cima da mesa do Lone Star (que em Portugal tem centros comerciais e imobiliário) está uma proposta de aquisição do Novo Banco com diversas variáveis. Uma delas é manter Ramalho na presidência. O resto resume-se a uma folha de cálculo. Mas não só: sem a garantia pública, e sem uma alternativa que compense prescindir dela, a compra do Novo Banco pode "rebentar" com os rácios do Lone Star; e se o Governo aceitar dar a garantia pública "rebenta" com as contas do Estado.
Os contactos decorrem num contexto de pressão acentuada sobre o Novo Banco, que terá de regressar ao mercado (ou ser nacionalizado) antes de Agosto, de modo a evitar a liquidação. Um caminho que as autoridades nacionais procuram impedir. Mas a instituição tem outro desafio pela frente. Dos sete membros da Comissão Executiva que os estatutos prevêem, apenas três estão em exercício de funções: António Ramalho (o CEO), Jorge Cardoso (ex-CGD) e Vitor Fernandes (ex- CGD e ex-BCP).
Têm sido apontados para integrar a equipa de Ramalho, Isabel Ferreira, ex-presidente do banco BES, José Eduardo Bettencourt, ex-Santander e ex-chefe de gabinete de Eduardo Stock da Cunha no Novo Banco (o presidente que antecedeu a entrada de Ramalho), e a jurista Luísa Soares da Silva. Os três estão a aguardar que os reguladores se pronunciem sobre a sua idoneidade e competência para assumirem cargos executivos. O banco continua também sem dispôr de um conselho de administração não executivo que terá de ter quatro elementos, onde se inclui um "chairman".