Líderes internacionais apreensivos e desconcertados com agressividade de Trump

O Presidente dos EUA falou de um acordo "estúpido" com a Austrália e referiu-se aos "bad hombres" mexicanos. E sobre a sua diplomacia de telefone, que gera instabilidade, comentou: "O mundo está cheio de sarilhos e vamos resolvê-los".

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´Donald Trump falou com vários líderes estrangeiros durante o fim-de-semana. A chamada com o primeiro-ministro australiano "foi a pior de todas", disse Reuters/JONATHAN ERNST

É só uma questão de estilo e personalidade, ou o Presidente dos Estados Unidos está mesmo a tentar, sem subtileza, desfazer a ordem mundial estabelecida após a II Guerra Mundial e reescrever o livro das relações internacionais consolidadas depois da queda do muro de Berlim? É uma pergunta para a qual os líderes de países aliados – da Alemanha, ao México, à Austrália e ao Japão –, ainda não têm resposta, mas que assumiu o teor de “grave preocupação” na sequência da agressividade de Trump em telefonemas que se esperava fossem amigáveis.

O primeiro-ministro australiano, Malcolm Turnbull, foi apontado como uma das “vítimas” da fúria de Donald Trump, que terá abruptamente terminado uma conversa telefónica prevista para durar de uma hora ao fim de 25 minutos, furioso por ter sido lembrado de um acordo assinado entre os EUA e a Austrália para o realojamento de 1250 refugiados que estão nos campos da Papua Nova Guiné. Apesar da reacção intempestiva, o australiano acreditava que o compromisso seria respeitado – até Trump ter informado, pelo Twitter, a sua intenção de rever unilateralmente o “estúpido” acordo da Administração Obama.

Outros contactos com líderes de países aliados dos Estados Unidos revelaram a mesma impaciência do Presidente norte-americano – e confirmaram a sua tendência para “resolver” disputas ou diferendos internacionais de forma agressiva e pouco ortodoxa. Por exemplo, numa conversa com o Presidente do México, Enrique Peña Nieto, convocada já com a intenção de resolver o desentendimento entre os dois países por causa da construção (e pagamento) de um muro ao longo da fronteira, Trump terá largado uma nova bomba, avisando que enviará as tropas norte-americanas para controlar os “bad hombres” do país vizinho se o Exército nacional não for capaz de o fazer.

É uma postura que está a fazer crescer a apreensão dos governos e a alimentar a desconfiança da opinião pública internacional com Donald Trump. “Pela primeira vez em décadas, os mais antigos aliados da América questionam-se sobre as políticas de Washington”, escrevia a Bloomberg, dando conta do nervosismo que tomou conta do Japão e da Coreia do Sul com a perspectiva de uma revisão dos tratados de defesa que contêm a região das ameaças da China e da Coreia do Norte.

Com a imprensa americana a fazer soar o sinal de alarme, avisando para o potencial de instabilidade internacional por causa do comportamento do Presidente, Trump deixou uma nota aos seus apoiantes, assegurando que não têm nada com que se preocupar. “Quando ouvirem falar das conversas agressivas que tenho tido ao telefone, não liguem. O mundo está cheio de sarilhos que nós vamos ter de resolver, ok? É nisso que eu sou bom, a resolver sarilhos”, afirmou. “Tenho de ser agressivo porque todas as nações do mundo andaram a tirar partido de nós. Mas como já disse, isso agora acabou”, acrescentou.

Da Alemanha, veio um relato ligeiramente diferente, mas que também gerou preocupação. Em vez de agressivo, o telefonema de Trump com Angela Merkel terá sido sobretudo pedagógico, com a chanceler alemã a precisar de explicar ao Presidente americano o que é a Convenção de Genebra para os Refugiados e quais as obrigações de todos os seus signatários, entre os quais os EUA. A “lição” aconteceu depois de Trump ter assinado a controversa directiva que suspendeu o programa de acolhimento de refugiados durante quatro meses e proibiu as entradas de nacionais de sete países de países muçulmanos nos Estados Unidos.

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