Superparasitas da malária são uma ameaça ao controlo global da doença
Por três países asiáticos têm estado a disseminar-se parasitas que resistem aos melhores medicamentos actuais.
Parasitas da malária multirresistentes aos medicamentos já tomaram conta de partes da Tailândia, do Laos e do Camboja, ameaçando minar os progressos no combate a esta doença – alertam os cientistas.
Os parasitas da malária que resistem aos melhores fármacos que dispomos actualmente – a artemisinina e a piperaquina – já estão espalhados por todo o Camboja. E parasitas ainda mais adaptados do que aqueles para resistir aos medicamentos estão a disseminar-se pelo Sudeste do Laos e pelo Nordeste da Tailândia.
“Estamos a perder uma corrida perigosa para eliminar a malária resistente à artemisinina antes que a resistência se espalhe a outros fármacos antimaláricos e torne isso impossível”, diz Nicholas White, da Universidade de Oxford (na Grã-Bretanha) e da Universidade de Mahidol (na Tailândia), que co-liderou esta investigação publicada na revista Lancet Infectious Diseases. “As consequências da disseminação da resistência para a Índia e África podem ser muito graves se o problema não for atacado numa perspectiva de emergência de saúde pública global.”
Mais de metade da população mundial está em risco de infecção de malária. A maioria dos infectados pelo parasita da malária (o Plasmodium) são crianças com menos de cinco anos que vivem nas zonas mais pobres da África subsariana.
Nos últimos tempos, os progressos contra esta doença transmitida por mosquitos (os anófeles) têm sido enormes e os números daqueles que ficam doentes tiveram grandes reduções, mas ainda assim a malária mata mais de 420 mil pessoas por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Padrões anteriores
Os especialistas em malária consideram que o aparecimento de resistências aos medicamentos na Ásia é agora uma das ameaças mais sérias aos progressos na luta contra a doença.
Entre o final da década de 50 e os anos 70, os parasitas da malária resistentes à cloroquina espalharam-se por toda a Ásia e depois para África, levando ao reaparecimento dos casos de malária e a milhões de mortes. A cloroquina foi depois substituída pela sulfadoxina-pirimetamina, mas as resistências subsequentes a estas substâncias emergiram no Oeste do Camboja e, mais uma vez, espalharam-se até África. O receio agora é que surja o mesmo padrão de disseminação da resistência e o reaparecimento da malária volte a repetir-se.
“Vemos que está a emergir uma linhagem de parasitas resistentes muito bem-sucedida, superando os seus pares e disseminando-se por uma área vasta”, sublinha Arjen Dondorp, da Unidade Mahidol-Oxford de Investigação em Medicina Tropical na Tailândia, que também co-liderou esta investigação.
Os esforços para controlar a malária na Ásia têm de ser urgentemente intensificados “antes que se fique perto do intratável”. No seu estudo na revista Lancet Infectious Diseases, os cientistas disseram que, depois de terem analisado amostras de sangue de doentes do Camboja, Laos, da Tailândia e da Birmânia, descobriram que uma única linhagem de parasitas mutantes – conhecida como PfKelch13 C580Y – já se espalhou por três países, substituindo os parasitas que tinham outras mutações menos resistentes à artemisinina. A equipa explica que a mutação C580Y não torna necessariamente os parasitas mais resistente aos fármacos, mas que os parasitas têm outras características que os tornam mais perigosos – nomeadamente, parecem adaptar-se melhor, transmitir-se mais facilmente e serem capazes de se disseminar de forma mais ampla.