Olá Lisboa! Daqui Thomas Pesquet… do espaço
Portugal foi um dos países que receberam esta terça-feira uma chamada vinda directamente da Estação Espacial Internacional. O astronauta francês Thomas Pesquet respondeu a perguntas num auditório, em Lisboa, cheio de alunos.
A distância era grande e a chamada tinha de ser curta. Esta foi a missão de alunos e professores de Portugal, da Roménia e Irlanda, na tarde desta terça-feira. Em Portugal, a chamada fez-se a partir do Auditório José Mariano Gago, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. A primeira tarefa de 200 alunos e 20 professores de Lisboa, Loures, Oeiras, Palmela, Montijo, Almada, Forte da Casa, Faro e Fundão era estarem silenciosos. Só assim se fariam ouvir os sinais da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), através da ligação por satélite via NASA.
Thomas Pesquet, engenheiro aeroespacial da Agência Espacial Europeia (ESA), actualmente a bordo da ISS, era quem estava do outro lado. Apesar dos receios a uma ligação falhada a 400 quilómetros de altitude, passavam poucos minutos das 15h30 quando o astronauta (sempre com um atraso de alguns segundos) respondeu a quase mil jovens entusiastas da ciência dos três países.
“É um prazer estar aqui com vocês”, apresentou-se com microfone e rodeado da maquinaria da estação espacial. Embora bem quietinho, a responder aos jovens europeus, Thomas Pesquet atravessava naquele momento o oceano Pacífico. E até aí já tinha visto alguns pores e nasceres do Sol. Aliás, até ao final do dia contabilizaria 16, pois a ISS viaja a cerca de 28 mil quilómetros por hora.
Na plateia, atentos e curiosos, estavam os amigos e colegas David Coutinho e Ivan Nunes, ambos de 17 anos. Frequentam o curso de Técnicas de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos, na Escola Secundária do Forte da Casa, e vieram a Lisboa de propósito assistir à conversa com Thomas Pesquet. “É uma espécie de intriga”, dizia David Coutinho sobre o espaço. Já o interesse de Ivan Nunes é transversal: “Interessa-me conhecer tudo sobre o espaço, porque é um vizinho desconhecido.” Os seus interesses centram-se em algo tão complexo como os buracos negros, ou tão simples como um astronauta a viver na ISS. Não foi ele a fazer uma pergunta a Thomas Pesquet, mas se pudesse, faria umas bem simples: “O que é que é viver no espaço? Como é o dia-a-dia? Como se come?”
Quem pegou no microfone para fazer uma pergunta ao astronauta foi o professor deles de informática, Vítor Fernandes. E, digamos, perguntou algo um pouco mais rebuscado: “Qual a importância de termos um ambiente numa estação espacial, mas que seja auto-sustentável?” Thomas Pesquet, que ora flutuava, ora brincava com o microfone, lá respondeu: “É como um desafio e a ESA está a trabalhar nisso.” Afinal, ainda ele e os colegas continuam dependentes dos abastecimentos vindos da Terra. E falou na possibilidade de fazer crescer plantas ou na criação de um ambiente que tornasse possível produzir comida no espaço: “Como produzir ferramentas para o fazer? Como poderemos criar habitats ou módulos para tal?”
Antes, o professor de física e química da Escola Profissional de Almada, César Marques, quis saber sobre a investigação no espaço: “Como testam a água e as contaminações bacteriológicas na ISS e esses métodos são utilizados na Terra com outros propósitos?” Thomas Pesquet não demorou a responder: “Temos um processo existente a bordo do ISS.” Mesmo assim, o astronauta adiantou que estão fazer novos testes à água, como a purificação. No ambiente de microgravidade, decorrem ainda experiências a materiais, ao crescimento de sementes, como as da mostarda e das lentilhas, até a proteínas e doenças como a Alzheimer.
Já a professora Elsa Correia não conseguiu fazer a pergunta dos seus alunos de 7º ano, da Escola EB 2,3 D. Afonso III, em Faro: “Como lida sem o nascer do Sol e o pôr do Sol?”
Ao seu lado, estava o aluno João Beles, de 12 anos, e que não se importava nada de ser astronauta como Thomas Pesquet. “Gostava de ir ao espaço.” Não sabia quem era Thomas Pesquet antes de a professora lhe dizer, mas sabe que no espaço “não há gravidade” e pôde ver isso agora com os seus próprios olhos. Juntamente com os seus 25 colegas de turma, está a estudar o espaço e participa no projecto Missão X – Treina com um Astronauta, da agência Ciência Viva. Por isso, ao longo das aulas foram surgindo muitas perguntas, que agora ficaram por fazer a Thomas Pesquet: “Como faz a sua higiene?”
Mais questões surgiram da Roménia e da Irlanda: que tipos de sistemas de navegação são usados pelos astronautas na ISS? Que tecnologias usam no dia-a-dia? Ou como podem contribuir para ajudar as pessoas aqui na Terra?
Na plateia, Ana Noronha, da Ciência Viva, assistiu à sua terceira conversa com astronautas no espaço. Até tinha uma pergunta para fazer Thomas Pesquet: “Por que é que foi para o espaço?”, contou depois. “São pessoas extraordinárias, com uma visão da vida muito profunda e calma. Além disso, são muito sensatos e com os pés bem assentes na Terra.”
Ana Noronha viu uma fotografia que Thomas Pesquet tinha tirado do espaço ao estuário do Tejo e publicado nas redes sociais: “Ele chegou a dizer que Lisboa era uma das suas cidades preferidas quando voava como piloto.”
Bom dia #Lisboa! I loved to fly in, when I was a pilot: a beautiful approach and a nice layover. Hope you had a good party yesterday! pic.twitter.com/XY09p0UEtO
— Thomas Pesquet (@Thom_astro) 1 de janeiro de 2017
O astronauta, de 38 anos, chegou a ser piloto comercial, na companhia Air France. Em Setembro de 2009 juntou-se à ESA como astronauta. E a 17 de Novembro de 2016 partiu para a ISS, juntamente com a astronauta norte-americana Peggy Whitson e o cosmonauta russo Oleg Novitsky.
Regressa à Terra em Maio deste ano. Enquanto isso, fala com os alunos europeus, numa chamada de 20 minutos. Quando se despediu, o que ecoou nas ligações aos três países foi um “oh!”.