}

Venda de 5% da antiga CP Carga aos trabalhadores arranca para a semana

Um ano depois de privatizada a CP Carga (agora Medway) reduziu os prejuízos de 11 para dois milhões de euros.

Foto
Patricia Martins

A CP e a MSC (multinacional que comprou a CP Carga) concluíram na sexta-feira o processo de negociação que levou à fixação do preço das acções que vão ser postas à disposição dos trabalhadores que as queiram comprar e que representam 5% do capital da empresa. Comprador e vendedor tiveram que acordar um factor de ajustamento, que dependia dos contratos em curso na empresa e também da sua própria evolução ao longo do último ano, o qual acabou até por valorizar “um bocadinho” (no dizer de uma fonte ligada ao processo) o valor das acções.

No entanto, não é de esperar que muitos trabalhadores queiram comprar as acções a que têm direito, devendo a MSC adquirir a sua maioria, ficando assim com praticamente a totalidade do capital social da agora Medway (depois de privatizada a CP Carga já se chamou Medrail, Medlog e agora Medway).

Na sexta-feira a empresa comemorou um ano em mãos privadas, com um jantar num restaurante do Terreiro do Paço, no qual o seu presidente, Carlos Vasconcelos, confessou que as suas expectativas mais optimistas foram ultrapassadas. Os resultados evoluíram de 11 milhões negativos em 2015 para apenas dois milhões no final de 2016, antecipando o break even em alguns anos. Um resultado obtido através “do aumento da eficiência e do aumento da actividade”.

O administrador mantém que o objectivo é afirmar a Medway como a maior empresa de transporte ferroviário de mercadorias da Península Ibérica, ultrapassando assim a própria Renfe Mercancias que é quatro vez maior. Carlos Vasconcelos diz que não o fará entrando numa guerra com a empresa espanhola, mas por via do aumento do mercado. A quota do caminho-de-ferro no transporte de mercadorias entre os dois países é de apenas 4%, pelo que há muito para crescer, conquistando mercado à rodovia. Mas o objectivo é ainda mais ambicioso: “queremos expandir a empresa além Pirinéus”.

Quanto ao seu principal (e único) concorrente português – a Takargo, do grupo Mota Engil –, o gestor considera que há um mercado potencial para ambas crescerem. Mas não deixou de notar que a Medway vai operar um comboio de madeiras que se realiza cinco dias por semana entre Irivo (Penafiel) e Louriçal (Figueira da Foz) que pertencia à Takargo.

E tem na mira um serviço emblemático que já pertenceu à antiga CP Carga: o transporte de jet fuel de Sines para Loulé (para abastecer o aeroporto de Faro), que agora é realizado pela Takargo, mas que a Medway espera vir a recuperar quando for lançado novo concurso pelo cliente.

A empresa aumentou o número de composições entre Portugal e Espanha e orgulha-se de operar o maior comboio de mercadorias em território português com 84 TEU (unidade de medida do volume de um contentor, cerca de 39 m3) e 680 metros de comprimento. Em Fevereiro será lançada mais uma ligação semanal entre os dois países. Parte do sucesso desta nova oferta, explicou Carlos Vasconcelos, deve-se à substituição de comboios-bloco (vendidos a um só cliente) por um serviço multimodal de contentores em que a Medway disponibiliza espaço que pode ser comprado à medida das necessidades de “muitos clientes transitários que não têm capacidade para comprar um comboio completo”.

O gestor disse que se orgulhava de não ter despedido um único trabalhador e de já ter contratado mais 16 pessoas, a maioria ligada à área comercial e assistência pós-venda.

Em Maio deverão chegar as quatro novas locomotivas diesel que a Medway adquiriu em Espanha em regime de leasing, num investimento de 15 milhões de euros. Este material é interoperável, o que significa que poderá circular sem limitações técnicas nas linhas portuguesas e espanholas. Na calha está a compra de novos vagões, os quais deverão ser importadas da China ou de países de Leste.

Nem tudo são rosas. No mercado dos cimentos a empresa perdeu 400 mil toneladas num ano devido à queda da procura deste produto nos mercados do norte de África. Mas a Medway mantém o seu principal cliente que é a Tejo Energia, que representa 24% da sua facturação. Trata-se do transporte de carvão entre Sines e a central do Pego (Abrantes).

Integrada no grupo suíço MSC, a portuguesa Medway beneficia de total autonomia de gestão, disse Carlos Vasconcelos, contando que a empresa mãe apenas financiou a compra da CP Carga com 78 milhões de euros. “É um projecto que lhes é muito querido”, disse.

Críticas à Infraestruturas de Portugal

A taxa de uso (portagem ferroviária) é paga à Infraestruturas de Portugal (IP) mesmo quando os comboios não se realizam. Esta é uma das críticas de Carlos Vasconcelos à antiga Refer. “Se tivermos que suprimir um comboio porque o cliente falhou ou um navio se atrasou a chegar ao porto, nós temos que pagar taxa de uso, mesmo sem realizar o serviço”, diz o gestor, que em 2016 desembolsou 600 mil euros à gestora de infra-estruturas por comboios não realizados.

Há mais: “A taxa de uso deveria ter uma discriminação positiva mais barata à noite e ao fim-de-semana”, prossegue, justificando que tal acontece noutros países. E lamenta também que a IP, “empresa pública que deu lucros em 2016, aumente entre 3% e 4% a taxa de uso para 2017”. Um aumento que nem sequer é amigo do ambiente, porque taxa mais as linhas electrificadas do que as linhas onde circulam comboios a diesel. “Espero que o regulador esteja atento”, concluiu.

Sugerir correcção
Comentar