Libra sobe com discurso mas nervosismo dos mercados pode voltar
Investidores reagiram positivamente ao discurso, com uma subida da libra, mas negociações difíceis podem trazer de volta clima de incerteza
O nervosismo dos mercados em relação ao impacto para a economia britânica da perda de condições comerciais favoráveis com os outros países da União Europeia tem sido evidente em várias ocasiões durante os últimos meses, mas esta terça-feira, quando Theresa May anunciou de forma inequívoca que o Reino Unido deixará o mercado único europeu, a resposta dos investidores foi, de forma surpreendente, até bastante positiva.
A libra registou, durante a sessão desta segunda-feira, a variação diária mais positiva face ao dólar dos últimos oito anos. E registou igualmente face ao euro uma apreciação de 1,7%. Uma valorização da divisa normalmente significa uma melhoria das expectativas dos investidores em relação à evolução da respectiva economia. Mas estarão mesmo os investidores mais confiantes naquilo que irá acontecer à economia britânica?
Para a generalidade dos analistas a explicação para a reacção dos mercados ao discurso de May tem uma explicação menos simples. A apreciação do euro, dizem, aconteceu principalmente por causa da clarificação da posição britânica nesta questão que retira do horizonte do curto prazo o problema da incerteza.
Se há coisa que os investidores não gostam é de incerteza, e agora, sabendo qual será, de uma forma geral, o rumo da negociação para a saída do Reino Unido da UE, criou-se um ambiente que permite que se tomem, para um lado ou para o outro, decisões de investimento em maior consciência.
Além disso, é preciso não esquecer que, nas sessões anteriores ao discurso de Theresa May, a libra registou descidas significativas face às outras divisas e que, portanto, o que pode ter acontecido esta terça-feira foi a habitual compensação quando se confirmam os cenários pelos quais já se estava à espera. Outro factor importante é a fragilidade que o dólar tem registado nos últimos dias por causa do receio dos investidores em relação a algumas políticas da nova administração Trump.
Tudo isto significa que, depois de uma primeira reacção positiva, há motivos para pensar que, nos próximos meses, os investidores venham a registar novas mudanças de expectativa em relação ao que irá acontecer à economia britânica.
A clarificação de Theresa May de que uma saída do mercado único é inevitável e que aquilo que irá acontecer será uma negociação pelo melhor acordo possível com os parceiros comerciais europeus abre a porta a muitos desfechos possíveis, que vão desde um acordo comercial muito favorável até à simples aplicação das regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Não admira por isso, que, imediatamente a seguir ao discurso de May, a directora geral da confederação da indústria britânica tivesse apelado ao governo que entre nas negociações “tendo como objectivo um acordo de comércio livre abrangente e procurando evitar a todo o custo o risco de se cair num cenário em que se aplicam as regras da OMC”.
A primeira-ministra britânica deu a entender, na sua intervenção, que terá muitos trunfos (não só comerciais, mas também políticos) para jogar, mas também afirmou que está disposta a abandonar as negociações, caso seja preciso, porque “nenhum acordo é melhor do que um mau acordo”.
Há ainda outros factores de incerteza, que poderão vir a afectar o sentimento dos mercados nos próximos meses. Um deles é o facto de não ter ainda ficado claro de que forma será afectado o acesso do sector financeiro da city londrina aos mercados do resto da UE.