Em cinco anos, a quantidade de lixo electrónico na China duplicou
De três milhões de toneladas, a montanha chinesa de despojos mais ou menos tecnológicos passou para seis milhões de toneladas em 2015. Especialistas culpam o crescimento da classe média no país.
A China consagrou-se, em 2015, como o maior produtor de lixo electrónico da Ásia, mostra um novo estudo. A montanha de lixo electrónico chinesa aumentou para o dobro no período de cinco anos, entre 2010 e 2015, e este é um padrão de crescimento que se repetirá, se não forem tomadas medidas que contrariem esta tendência.
Dados fornecidos pela ONU apontam que a montanha de lixo electrónico chinesa aumentou de três milhões de toneladas (no ano de 2010) para seis milhões de toneladas em 2015. Este rápido crescimento foi detectado por um relatório da Universidade das Nações Unidas, que também analisou a tendência global asiática.
O relatório afirma que o problema não está no crescimento da população em si, mas no crescimento da classe média na China e na maior proliferação de equipamentos electrónicos, sem que isso se traduza no aumento da sua esperança média de vida desses aparelhos. Portanto, uma classe crescente de pessoas que ganham poder de compra para apostar nos dispositivos electrónicos, mas que os substituem a cada dois anos (ou menos).
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A montanha de resíduos em 12 países do Leste e do Sudeste asiático já tem 16 milhões de toneladas de lixo electrónico, com materiais perigosos e valiosos que não estão a ser aproveitados. No espaço de cinco anos produziu-se 63% desse lixo, e esta é uma tendência que se deve repetir, segundo um relatório da Universidade das Nações Unidas.
Por lixo electrónico compreende-se todos os tipos de “equipamento electrónico e eléctrico” ou as suas partes que tenham sido "descartadas pelo dono original sem perspectivas de voltarem a ser utilizadas". Portanto, todos os frigoríficos e equipamentos que aqueçam e arrefeçam, monos domésticos, monitores, pequenos equipamentos (como ventoinhas, câmaras e leitores de mp3) e, claro, telemóveis que estejam fora de uso e aos quais os donos não tencionem dar outro uso.
Um dos autores do relatório, Ruediger Kuehr, explicou ao Guardian que o fabrico destes dispositivos não é limpo (uma vez que consome muita água, energia e recursos naturais), e que, por essa razão, a reciclagem é muito importante. “Arriscamos muito na produção destes dispositivos, que têm custos muito altos, mas não reciclamos os materiais”, cita o diário britânico.
As percentagens indicam que uma grande parte do lixo electrónico é reciclado na Ásia, mas a verdade é que a reciclagem é feita com recursos a métodos pouco indicados e que acabam por ser ainda mais poluentes, como a queima a céu aberto ou os banhos ácidos, usados para recuperar as peças em materiais preciosos (como ouro ou cobre) com recurso a solventes como o ácido sulfúrico ou a água-régia. Ambos os processos resultam na emissão de fumos perigosos para o meio ambiente. Estes métodos são utilizados por negócios não licenciados ou ilegais.
Mas as grandes quantidades de lixo são explicadas, também, com as toneladas que chegam Àsia da Europa e dos EUA. No que diz respeito às importações deste tipo de lixo, a China perde apenas para Hong Kong. Ainda que as leis de exportação e importação não o permitam, a verdade é que chegam a Hong Kong quase 100 contentores com lixo electrónico por dia.
O coordenador da ONG Basel Action Network, Jim Puckett, explica ao Guardian que a escala é difícil de estimar: esta ONG norte-americana colocou dispositivos GPS em impressoras velhas que enviaram para centros de reciclagem e conseguiram perceber que 40% chegaram ao continente asiático. Quase todas estas exportações são ilegais.
Puckett sugere, como opção à compra de dispositivos electrónicos, o arrendamento deste tipo de aparelhos, oferecendo a opção de actualização do modelo e evitando, desta forma, que sejam descartados facilmente.