O que marcou a carreira dos candidatos a bastonário e como se definem como médicos

As eleições para a direcção da Ordem dos Médicos terão lugar a 19 de Janeiro.

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Álvaro Beleza Adriano Miranda
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Miguel Guimarães Adriano Miranda
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João França Gouveia Adriano Miranda
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Jorge Torgal Adriano Miranda

Os quatro candidatos à Ordem dos Médicos responderam por escrito a algumas perguntas do PÚBLICO. Duas delas, especificamente sobre o seu percurso como médicos. 

1. Há algum episódio na sua carreira que tenha tido impacto no médico em que se tornou?
2. Como se define como médico? Como é/era a sua relação com os doentes?

Álvaro Beleza
58 anos, imuno-hemoterapia

1. Posso falar de dois. Primeiro: a organização do primeiro congresso sobre sida que houve em Portugal, no Porto, no final dos anos 80, na qual participei como presidente da Associação Nacional de Jovens Médicos. Convidámos então a professora Laura Ayres, cujo trabalho nessa área tanto admirávamos. Mais tarde tive a honra de dirigir o Laboratório Regional de Saúde Pública do Algarve e de ter proposto que lhe fosse dado o nome de Laura Ayres. Segundo episódio: tive um cancro há 11 anos e fui tratado — e muito bem tratado — no IPO. Conheci o outro lado, o lado dos doentes que estão a ser tratados por médicos e enfermeiros que não os conhecem, mas aos quais se entregam com total dedicação. Estou muito grato por essa experiência que, como é óbvio, me marcou como médico.

2. Procuro ser um cuidador. A minha relação com as pessoas doentes, e a forma como organizo os serviços que têm estado a meu cargo, procura ser a expressão desse espírito cuidador. Acho que tenho de gerir bem os recursos que estão à minha disposição e pô-los ao serviço da saúde dos outros. Sinto que como médico é minha a obrigação de defender todos os que estão fragilizados pela doença.

Miguel Guimarães
54 anos, urologia

1. A paixão pela actividade cirúrgica resultou da experiência positiva que tive durante o internato geral e posteriormente durante a especialidade. Alguns episódios de intervenções, nas quais estive directamente envolvido, que permitiram salvar vidas e curar algumas doenças, ficaram para sempre gravados na minha memória.

2. Sou médico de corpo inteiro. Continuo no activo a 100% (consultas externas, actividade cirúrgica incluindo a transplantação renal, serviço de urgência, actividade de formação, etc). Sempre procurei preservar a relação médico-doente como a condição essencial ao exercício da medicina. E penso que na imensa maioria dos casos terei sido bem sucedido, mantendo uma boa relação/comunicação com os doentes.

Jorge Torgal
68 anos, saúde pública

1. A semana de trabalho no norte do Alto Volta (hoje Burkina Faso), em 1979, numa aldeia em que 52% dos adultos eram cegos, por oncocerciasis (a cegueira dos rios).

2. Conheço a medicina hospitalar (internato de Dermatologia, administrador não executivo do Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa), a medicina privada como dermatologista (1984-85), o planeamento e gestão em Saúde Pública (Comissão Nacional de Luta contra a Sida, sub-director Geral de Saúde), a investigação e o ensino em Medicina Tropical (director do Instituto de Higiene e Medicina Tropical) e a gestão do universo do medicamento e dos produtos de saúde, como presidente do Infarmed. Para além de professor de Medicina e de uma larga experiência a nível internacional, como consultor de organizações internacionais e múltiplos países. Considero assim que tenho a experiência e o conhecimento necessários para uma liderança forte e respeitada da Ordem dos Médicos.

João França Gouveia
68 anos, medicina interna

1. O confronto com o modelo de gestão do SNS — inadequado e impotente para resolver os problemas da acessibilidade aos serviços de saúde —, determinou que me tenha envolvido nesta atitude cívica de lutar para que as coisas mudem: “Para que o mal triunfe, basta que os homens de bem nada façam.” (Seneca/Burke)

2. A minha relação com os doentes é... óptima! Os meus valores como médico estão expressos no meu site clínico: Exercício da medicina clínica com base no conhecimento técnico-científico permanentemente actualizado; apoio em plataformas de informação clínica internacionalmente credíveis; ancorado nos valores da Ética, nomeadamente na isenção total perante os fornecedores de medicamentos e de material clínico, não recebendo deles qualquer bem ou benefício.

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