Peña Nieto: Muro “atenta contra a dignidade” do país e não será pago pelo México

Enrique Peña Nieto recusa ameaças de Donald Trump, mas já está a preparar-se para reforçar as relações económicas com a União Europeia para reduzir a dependência dos Estados Unidos, para onde seguem 80% das exportações mexicanas.

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O Presidente mexicano criticou ontem Donald Trump durante um jantar com o corpo diplomático na Cidade do México Reuters/CARLOS JASSO

“Em nenhum momento aceitaremos nada contra a nossa dignidade como país nem contra a nossa dignidade como mexicanos. Não são negociáveis princípios básicos como a nossa soberania, o interesse nacional e a protecção dos nossos cidadãos.” O aviso veio esta noite do Presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, depois de ouvir Donald Trump, na sua primeira conferência de imprensa como Presidente eleito, garantir que irá mesmo mandar construir um muro na fronteira entre os dois países e a factura será paga pelo México.

“É evidente que temos algumas divergências com o próximo Governo dos Estados Unidos, como o tema do muro que o México, como é evidente, não pagará”, afirmou Peña Nieto, na quarta-feira à noite, discursando perante o corpo diplomático na Cidade do México. O Presidente anunciou que vai empenhar-se na revisão e actualização, no prazo de um ano, do acordo de livre comércio entre o México e a União Europeia para que o país possa depender menos das exportações para os EUA, que valem 80% da produção que envia para o exterior.

Peña Nieto disse que neste momento “todos os assuntos que norteiam a relação bilateral com os Estados Unidos estão em cima da mesa, incluindo segurança, imigração e comércio”. É uma relação em que o México tem tudo a perder se Trump concretizar as suas ameaças: além da extrema dependência dos EUA para as suas exportações, o México precisa de se manter no acordo de livre comércio da América do Norte (NAFTA), que inclui os EUA e o Canadá – que Trump já disse que é para acabar -, e através do qual lhe chega a maior fatia do investimento estrangeiro directo.

Peña Nieto também criticou as ameaças de Donald Trump de aumentar os impostos às empresas norte-americanas que investem no México, que já levou a que a Ford abdicasse de investir 1600 milhões de dólares em San Luis Potosí e que a Fiat Chrysler mudasse de ideias sobre a ampliação das suas fábricas mexicanas. Para além do cancelamento de investimentos – com excepções, como a da BMW -, a promessa de Trump de aplicar penalizações fiscais às importações de bens e serviços do México fez com que a cotação do peso face ao dólar caísse de imediato para mínimos históricos. 

A ameaça de Trump sobre o muro, que muitos julgaram ser apenas fruto do calor da campanha eleitoral, passará a dominar as relações entre os Estados Unidos e o México já que o novo Presidente disse que continuará a negociar com Peña Nieto ao mesmo tempo que avança com a construção no terreno. Apesar de o futuro se afigurar extremamente difícil para as conversas entre os dois países, o Presidente mexicano tem uma lista de prioridades para discutir com a nova administração Trump: manter o livre fluxo de capitais de emigrantes mexicanos para o seu país (que ultrapassou os 20 mil milhões de dólares em 2016), permitir a repatriação humanitária de mexicanos ilegais, ajudar o México a lidar com os imigrantes que usam o país como trampolim para chegar aos EUA, impedir o tráfico de armas dos EUA para o México, e manter a caça ao dinheiro do narcotráfico do México para os Estados Unidos.

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