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P&R: Chipre uma quebra-cabeças diplomático de 43 anos

Negociações desta semana em Genebra vistas como oportunidade histórica para pôr fim à divisão da ilha.

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Manifestação a favor da reunificação da ilha de Chipre Yiannis Kourtoglou/Reuters

O que está em causa nestas negociações?
Sobre a mesa das reuniões desta semana em Genebra está um dos mais antigos conflitos por resolver em solo europeu e uma disputa que há muito envenena as relações entre a União Europeia e a Turquia, um quebra-cabeças que há décadas ilude as tentativas da diplomacia para reunificar a ilha dividida. A separação aconteceu em 1974, quando Ancara enviou milhares de soldados para proteger a comunidade cipriota turca após um golpe de militares cipriotas-gregos, inspirado pela junta no poder em Atenas, com o propósito de unir a ilha à Grécia.

A intentona fracassou, mas as tensões acumuladas entre as duas comunidades desde a independência, em 1960, e os interesses opostos de Atenas e Ancara impediram uma solução política – nos meses seguintes, entre 90 a 160 mil cipriota gregos fugiram das suas casas no Norte da ilha, sob controlo dos militares turcos, enquanto 50 mil cipriotas turcos abandonavam o Sul. No ano seguinte, a comunidade turca criou uma entidade autónoma, que daria origem em 1983 à República Turca do Norte de Chipre, reconhecida apenas por Ancara, que ali mantém cerca de 40 mil soldados. A separá-la da República de Chipre, a única internacionalmente reconhecida, mantém-se a “Linha Verde”, como é chamada a zona desmilitarizada patrulhada pelos “capacetes azuis” da ONU e que atravessa a ilha de Leste a Oeste, cortando a meio Nicósia, a última capital europeia ainda dividida.

Já houve outras tentativas de reunificação?
Chipre é há décadas uma dor de cabeça para a ONU, a UE, a NATO e os vários poderes regionais. Perdeu-se já a conta às tentativas para pôr fim à divisão da ilha. Um objectivo que esteve muito próximo em 2004, pela mão do ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan. Com a candidatura de Chipre à UE já aprovada, as duas partes chegaram a um acordo para a reunificação, mas na semana anterior à adesão o acordo – aprovado em referendo por dois terços dos cipriotas turcos – foi chumbado pela comunidade grega. Apenas a República de Chipre integrou a União.

Quando recomeçaram as negociações?
O actual processo arrancou em 2015, após a eleição do presidente cipriota turco, Mustafa Akinci, um antigo presidente da câmara da parte Norte de Nicósia e ele próprio um deslocado pelo conflito, que é há muito um defensor da reunificação da ilha. Também o Presidente cipriota, Nicos Anastasiades, se bate há décadas pela resolução do conflito e os observadores afirmam que é a crença de ambos na possibilidade de coexistência pacífica entre as duas comunidades que impediu o colapso do processo quando, em Novembro, as negociações chegaram a um impasse.

Nos últimos 19 meses os negociadores fizeram vários avanços, mas à chegada a Genebra os temas mais complexos continuam em aberto e as duas partes assumem que só serão resolvidos no âmbito de um acordo final global.

O que é diferente desta vez?
Para começar, ao contrário do que aconteceu no passado, os líderes das duas comunidades querem chegar a um acordo, estando convictos que quanto mais tempo passar mais difícil será a reunificação – uma geração inteira não tem hoje memória da convivência anterior a 1974. E se há muito que os cipriotas turcos anseiam pelo fim do isolamento internacional a que estão votados, o colapso do sistema bancário que obrigou a República de Chipre a recorrer a um empréstimo internacional ajudou a convencer a população grega que o fim da divisão na ilha ajudaria a atrair o investimento internacional de que a ilha precisa.

A descoberta de gás natural ao largo da costa cipriota, em 2011, também serve de incentivo. Isto porque a resolução do conflito permitiria transformar a ilha num centro estratégico para que a Europa e a Turquia tivessem acesso às reservas de gás natural no Mediterrâneo oriental. Mais importante ainda, os líderes cipriotas e europeus anseiam por resolver a velha questão, numa altura em que vários tumultos ensombram a região, da guerra na Síria, às crises na UE.

Determinante neste tabuleiro será o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e a flexibilidade que estiver disposto a mostrar para resolver a questão. E se é certo que a resolução do diferendo ajudaria a aliviar as relações tensas com a UE e melhoraria a sua reputação internacional, Erdogan estará pouco disposto a ceder na protecção da comunidade turca, sob risco de desencadear protestos dos nacionalistas.

 

 

 

 

 

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