Nacionalização temporária do Novo Banco ganha apoios à esquerda e à direita

Nuno Morais Sarmento, Vera Jardim e Daniel Bessa concordam que o Estado fique com o banco mas só por alguns anos.

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guilherme marques

Aumenta a pressão, à direita e também à esquerda, para uma solução que passe pela nacionalização temporária do Novo Banco. Depois de José Maria Ricciardi e de Manuela Ferreira Leite na passada semana o terem admitido em declarações na SIC Notícias e na TVI24, agora são Nuno Morais Sarmento, Vera Jardim e Daniel Bessa a considerarem que uma gestão pública temporária do banco seria a melhor alternativa a uma venda que se afigura cada vez mais difícil e com consequências financeiras muito negativas para os cofres do Estado. O caso do inglês Lloyds, onde foi adoptada uma solução semelhante, é apontado como um bom exemplo.

No programa Falar Claro da Rádio Renascença, na terça-feira à noite, Vera Jardim defendeu que o ideal para o Novo Banco seria uma nacionalização durante dois ou três anos, como se fez no Lloyds ou no Royal Bank of Scotland, exemplificou. “Não uma nacionalização à antiga”, ou como a que pretende o PCP, realçou, e citou Vítor Bento, que em Julho de 2014 foi nomeado para o Novo Banco, que então dizia que o ex-BES precisava de “uns anos para ser recuperado”.

Recordando a “dificuldade” de encontrar “verdadeiros compradores” para o Novo Banco e não apenas aqueles que o comprariam para depois o “vender aos bocadinhos e ir à sua vida”, o antigo ministro socialista disse que na “ausência de boas propostas”, o Estado deve “tomar conta do banco, pôr lá pessoas que não são políticos retirados a tratar dele mas sim uma gestão profissionalizada” e vender só “quando for possível”. A única dificuldade seria convencer Bruxelas, admitiu.

Nuno Morais Sarmento é da mesma opinião e até argumentou com os “mais de 70 bancos que foram nacionalizados nos últimos anos no conjunto dos países europeus”. “A acontecer, deverá ser vista como nacionalização temporária. Não é uma situação anómala nem nova, mas deve ser considerada como última solução e nunca como primeira”, vincou.

Noutros países, o Estado recebeu bancos no sector público e quando “podia ser feito em segurança para o sistema financeiro e sem prejuízo para os investidores e contribuintes – que suportam sempre este custo -, voltava-se a considerar a hipótese de privatização mediante venda ou dispersão do capital em bolsa”.

“Nacionalizar o Novo Banco? Eu compro essa ideia se me trouxerem uma gestão profissional e absolutamente independente”, disse o economista e antigo ministro da Economia de António Guterres no Porto Canal. Daniel Bessa colocou uma condição: “chamar Horta Osório para gerir o Novo Banco como geriu o Lloyds”, que estava falido, e depois o conseguiu recuperar, estando agora muito perto de ser completamente privatizado novamente.

A mensagem de Daniel Bessa vai ao encontro da de Vera Jardim: Fazer com o Novo Banco o que o Reino Unido fez com o Lloyds: “Não se meteu na gestão, entregou o banco a gente que sabe o que faz, separou a política do negócio bancário”, descreveu o economista, que considera que “o que deu cabo do BES foi a mistura do negócio bancário com a política”. E até sugeriu outro nome: “Chamem o António Domingues uma segunda vez, com carta branca e as condições que lhe prometeram e não lhe deram.”

Sendo certo que o primeiro-ministro, em especial nos debates quinzenais no Parlamento, quando era pressionado por Catarina Martins e Jerónimo de Sousa sempre respondeu que “todas as opções estão em cima da mesa”, o cenário da nacionalização temporária permitiria apaziguar os partidos à esquerda que apoiam o PS no Parlamento e contentar a direita que contratou Vítor Bento em 2014 para tratar da questão BES/Novo Banco, e que tinha este cenário entre as soluções possíveis para aquela instituição bancária.

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