Mário Soares recordado como um estadista bem-humorado
A morte do antigo Presidente português mereceu destaque de capa em várias publicações estrangeiras.
O jornal norte-americano The New York Times abriu um espaço na primeira página da sua edição de domingo para destacar a morte de Mário Soares, “o combativo líder socialista que guiou a conturbada transição de Portugal para a democracia nos anos 70, depois de décadas de ditadura”. Em Espanha, a notícia esteve em quase todas as capas dos diários nas bancas neste domingo, assim como no Brasil, onde os grandes jornais nacionais destacaram a “relação próxima” em termos políticos e afectivos que Soares mantinha com o país.
A dimensão de estadista com impacto mundial de Mário Soares foi perceptível na forma como a imprensa estrangeira noticiou a morte do antigo primeiro-ministro e Presidente da República português — e também como a notícia foi recebida pelo público internacional. Por exemplo, no domingo, era o texto mais lido da edição online do jornal francês Libération. No texto escrito pelo director, Laurent Joffrin, Soares é apresentado como uma figura dominante da esquerda europeia. Mas há também espaço para uma referência à sua “cortesia refinada” ou à sua ligação à cultura e língua francesa — que falava “sem sotaque”, assinala.
O The New York Times deu duas páginas ao obituário de Soares, descrevendo-o como um “animal político incansável”, que “apertava a mão, sorria e falava entusiasticamente com qualquer pessoa”, mesmo quando não estava a fazer campanha eleitoral. A bonomia de Soares também mereceu uma referência ao correspondente em Lisboa do Financial Times, Peter Wise, que lembrou que o antigo Presidente era conhecido pelo seu "irreprimível bom humor e entusiasmo pela vida" e que "ajudou os portugueses a recuperar a confiança perdida depois de mais de meio século de uma ditadura miserável".
Da biografia de Soares, o The New York Times destacou o seu combate à ditadura, e os seus esforços para pôr fim ao isolamento económico do país e para “garantir que a revolução não resvalava para caminhos pouco democráticos”. Além disso, salientou o jornal, “supervisionou o processo de independência das colónias africanas portuguesas e a integração do país na Comunidade Económica Europeia, precursora da União Europeia”.
A imprensa alemã destaca na morte do “pai da democracia portuguesa” o facto de Mário Soares, europeísta convicto, ter sido nos últimos anos muito crítico dos programas de austeridade dos países da zona euro em problemas, e considerado que outros países europeus estavam a cair na armadilha de um capitalismo predador, como diz a revista Der Spiegel na sua edição online.
Também é mencionada a ligação de Soares a Willy Brandt, que conheceu no exílio em França, e ainda que o Partido Socialista português foi fundado por Soares e outros responsáveis numa escola da Fundação Friedrich Ebert na cidade alemã de Bad Münstereifel (Oeste) em Abril de 1973, segundo um texto da Deutsche Presse-Agentur republicado em vários jornais.
O Jornal de Angola tem uma chamada de primeira página para a morte de Mário Soares e um texto na última página. O jornal destaca as reacções dos políticos portugueses e ainda o percurso político de Mário Soares desde a luta contra o salazarismo aos combates eleitorais. Mas, ao contrário da imprensa de outros países em que foi descrita a ligação de Soares ao local, no Jornal de Angola isso não acontece, centrando-se o texto exclusivamente em Portugal.