Soares da Costa garante 45 milhões para avançar com plano de recuperação
Créditos reconhecidos ascendem a perto de 700 milhões de euros. Construtora propõe-se a vender negócio em Moçambique e participação nas concessões.
A Administração da Soares da Costa sempre deu a entender que precisaria do acordo da banca para garantir a viabilização da empresa. E, aparentemente, esse acordo está bem encaminhado, já que garante ter assegurado uma linha de financiamento de 45 milhões de euros, para suportar necessidades de tesouraria e custos da reestruturação da construtora criada há perto de 100 anos.
Para além da linha de financiamento a três anos, a que se juntam mais dez milhões de garantias bancárias, fundamentais para a prossecução da actividade da construtora (asseguradas por bancos que não são identificados), o acordo com os maiores credores financeiros também deverá estar garantido. É que, os vários bancos que respondem por boa parte dos 696,7 milhões de euros de créditos reclamados terão de aceitar um perdão de dívida muito elevado.
De acordo com a proposta de recuperação avançada pela administração, a que o PÚBLICO teve acesso, a dívida a instituições bancárias terá de sofrer um perdão de 75% no caso dos créditos reconhecidos em euros (bancos nacionais ou a operar em Portugal) e de 35% dos créditos na divisa angolana. O remanescente será pago em 18 anos. A diferença é explicada pela desvalorização do kwanza, que deverá continuar, e que torna a perda suportada pelos credores angolanos muito próxima da dos portugueses.
No que se refere a dívida financeira garantida, será proposta a dação dos activos imobiliários associados e outros activos. Mas ainda assim, e neste segmento, a CGD garante uma pequena redução, de 121 milhões de euros para 113,9 milhões, e o BCP de 75,2 milhões para 73 milhões de euros.
Há mais credores, desde logo os trabalhadores e fornecedores, a quem vai ser pedido níveis de sacrifício distintos. A administração liderada por Joaquim Fitas pretende pede aos fornecedores com créditos vencidos que aceitem o pagamento, a cinco anos, de 50% do valor nominal dos saldos em moeda estrangeira (euros e dólares) e exclui os créditos dados em garantia de operações de financiamento, e a totalidade dos saldos em Kwanzas. Estes últimos terão de incorporar a desvalorização da moeda angolana durante esse período.
No caso das dívidas aos Estado é pedido um prazo de 12 anos para as regularizar; aos funcionários com salários em atraso são pedidos cinco.
Venda de activos
De acordo com a proposta de recuperação da empresa, que vai ser sujeita à apreciação dos credores, a administração liderada por Joaquim Fitas compromete-se a alienar alguns dos seus activos, nomeadamente o negócio em Moçambique, no primeiro semestre deste ano, bem como os 4% que detém na subconcessionária que gere a auto-estrada Transmontana.
Se esta proposta não for aprovada, diz a administração da empresa, a Soares da Costa enfrentará uma liquidação que será “morosa” e bem mais prejudicial para os seus credores uma vez que, contabiliza, estes só conseguiriam reaver 12% dos seus créditos.
O plano de negócios prevê resultados muito negativos nos próximos dois anos, admitindo atingir um EBITDA positivo em 2019 e um cash-flow operacional positivo em 2020.