De Brian Eno aos Gift, de Jenny Hval aos festivais: o que vamos ouvir em 2017
Alguns dos discos, concertos e festivais mais relevantes. O primeiro trimestre está planificado. O resto do ano ainda apresenta incógnitas.
O novo ano começou bem com Brian Eno a lançar, a 1 de Janeiro, Reflection, longa composição ambientalista na esteira de muitos dos seus trabalhos desde os anos 1970. Quem também lança novos álbuns por estes dias – 13 de Janeiro – são os The xx, que entrevistámos em Dezembro para nos revelarem os segredos de I See You, tal como os americanos Run The Jewels, figuras cimeiras do hip-hop mais alternativo que voltam com o terceiro longa-duração, ou os Flaming Lips com Oczy Mlody. No mesmo dia, na ZDB em Lisboa, destaque para a electrónica aventureira do inglês Vessel com imagens de Pedro Maia.
Na Holanda, em Gronigen, de 11 a 14 de Janeiro, acontece todos os anos o Eurosonic, mostra e festival europeu de talentos e de oportunidades de negócio que este ano tem Portugal como país de destaque, com mais de uma vintena de nomes que ali irão actuar (Gisela João, Gift, Batida, Rodrigo Leão, Marta Ren, DJ Firmeza, Memória de Peixe ou Happy Mess).
A 17, o Maria Matos em Lisboa recebe os americanos Lambchop, para a apresentação de Flotus, Kurt Wagner ao piano. A 20 sai Hang, dos americanos Foxygen, que se fizeram acompanhar nas gravações por Matthew E. White, The Lemon Twigs ou uma orquestra clássica de quarenta músicos, e uma nova aventura exploratória do compositor William Basinski intitulada A Shadow In Time. A 27, ouvidos em alerta para quem gosta de rock na sua forma mais excitante com álbuns novos para Japandroids (Near To The Wild Heart of Life) e um homónimo para Ty Segall. Numa linha mais serena haverá novo disco dos americanos Cloud Nothings, Life Without Sound.
No mesmo dia, na ZDB, uma noite que promete, com o angolano Bonga e o português B Fachada na mesma sessão, enquanto no dia seguinte, a 28, entra em acção Phill Niblock, figura relevante no evoluir da estética minimalista dos últimos 50 anos. Ainda em Janeiro destaque para alguns concertos de portugueses como os You Can’t Win Charlie Brown (19 no CCB e 21 no Theatro Circo de Braga), Best Youth (Lux, 26 Janeiro), Aldina Duarte (Culturgest, 27) ou Deolinda (Coliseu de Lisboa, 28 Janeiro, e Coliseu do Porto a 4 de Fevereiro).
Em Fevereiro chegam os prémios internacionais da indústria, os Grammys, a 12, e os Brits, a 22, e um álbum de versões (Bowie 70) tocado e coordenado por David Fonseca de homenagem a Bowie, com participações de Camané, Ana Moura, Reininho ou Zambujo. A 3 Sampha lança Process numa linha electro-soul e uma das novas sensações do R&B, a cantora Kehlani, SweetSexySavage. A 6 os Cage The Elephant apresentam-se no Coliseu de Lisboa, repetindo no dia seguinte no Hard-Club do Porto, enquanto a 9 a ZDB em Lisboa recebe os Xiu Xiu para um projecto especial: musicar o filme nipónico Under The Blossoming Cherry Trees.
A 10 a dupla Thievery Corporation retorna com The Temple of I & I, antes do concerto cinco dias depois no Coliseu de Lisboa. No teatro Maria Matos, a 13, apresentam-se dois nomes primordiais da electrónica experimental de Berlim – Moritz Von Oswald com Rashar Becker. A 17 sairá Prisoner do trovador Ryan Adams, enquanto a portuguesa Rita Redshoes pisará os palcos da Casa da Música do Porto, a 22, repetindo no dia seguinte no Tivoli em Lisboa.
Há cerca de dez anos quando surgiram, os Clap Your Hands Say Yeah, pareciam a salvação do indie-rock, mas depois de um primeiro título galvanizante, foram relegados ao quase esquecimento. Será que com The Tourist voltam a ganhar protagonismo? Sai a 24. No dia em que uma das bandas que mais os marcou, os Feelies, põe fim a um longo hiato com In Between e em que os australianos King Gizzard & The Lizard Wizard lançam Flying Microtonal Banana. Um dia antes, a 23, sobe ao palco da ZDB o rapper canadiano Night Lovell. Quem não pára é Mark Kozelek que a 28 edita como Sun Kil Moon o duplo Common As Light And Love Are Red Valleys of Blood.
Em Março o português Xinobi promete mais um registo de aventuras dançantes com 'disco', funk e adrenalina. A 3 atenções viradas para uma dose de iconoclastia com os ingleses Sleaford Mods de English Tapas, enquanto os veteranos Grandaddy mostram Last Place. A 10 haverá mais uma lição de despojamento folk com Semper Femina de Laura Marling. A 24, os Jesus & The Mary Chain, 18 anos depois do último de originais, regressam com Damage and Joy, e a 31 é a vez de Nelly Furtado se relançar com The Ride, no mesmo dia em que Gisela João se apresenta no Coliseu do Porto (7 de Abril no Coliseu de Lisboa.)
A 10 e 11 de Março regressa o Lisboa Dance Festival, com Hercules & Love Affair, Mount Kimbie ou Jessy Lanza, antecipando uma longa época de festivais como o Tremor (4 a 8 de Abril), Lisboa Electrónica (12 e 13 Maio), Nos Primavera Sound (8 a 10 de Junho com Bon Iver, Aphex Twin ou Elza Soares), Nos Alive (6 a 8 de Julho com The xx, Foo Fighters, The Weeknd ou Depeche Mode), Super Bock Super Rock (13 a 15 de Julho com Red Hot Chili Peppers ou Deftones), Marés Vivas (14 a 16 de Julho com Sting), Músicas do Mundo de Sines (21 a 29 de Julho), Milhões de Festa (20 a 23 Julho), Meo Sudoeste (2 a 6 de Agosto com Two Door Cinema Club), Vodafone Paredes de Coura (16 a 19 de Agosto com Beach House, Benjamin Clementine ou Foals) ou Lisb/On (1 a 3 Setembro). Para outras coordenadas vale a pena estar atento aos Jardins Efémeros de Viseu (7 a 16 de Julho) ou ao Walk & Talk dos Açores.
A veterania marca a vaga de concertos mais sonantes agendados para Portugal. Em primeiro lugar os Guns N’ Roses a 2 de Junho no Passeio Marítimo de Algés. Para quem quiser ver os Aerosmith (Meo Arena de Lisboa, 26 Junho) e Deep Purple (Meo Arena, 4 Julho) esta pode ser a última oportunidade. Para um público mais adolescente haverá Bruno Mars (Meo Arena, 4 de Abril), Shawn Mendes (10 de Maio, Meo arena) e Ariana Grande (Meo Arena, 11 de Junho) que em 2016 falhou o Rock In Rio.
Para linguagens mais alternativas haverá que contar com Moor Mother a 20 de Abril na ZDB em Lisboa e Jenny Hval, a 30 de Abril, na festa de encerramento da BoCA Bienal, no Lux, em Lisboa. Um dia antes Hval tocará também no GNRation de Braga, no contexto da celebração do 4º aniversário do espaço. A 19 de Maio os históricos Silver Apples estarão em Lisboa, no MusicBox, apresentando-se no dia seguinte no GNRation de Braga.
Sem data de edição, mas entre os discos mais esperados do ano, encontramos novos lançamentos do rapper canadiano Drake, More Life, ou os novos projectos dos Nine Inch Nails e Depeche Mode - Spirit, o 14º de uma longa carreira, foi produzido por James Ford (Simian Mobile Disco) e Dave Grahan diz que é um dos discos mais poderosos do trio pop electrónico.
De regresso estão os históricos Chic de Nile Rodgers, máquina funk, 'disco' e soul, que influenciou parte considerável da música das últimas décadas e que vai retornar com It’s About Time, obra que girará em torno do mítico clube Studio 54. Sem nome, nem data de edição, mas com a promessa de novos álbuns encontramos Father John Misty e o seu ex-grupo, os Fleet Foxes, os Arcade Fire, LCD Soundsystem, Gorillaz, Beck, os veteranos Blondie ou das novatas Lorde e Sky Ferreira.
Em Portugal muita curiosidade para perceber no que terá resultado a colaboração dos The Gift com uma das personagens centrais da música das últimas décadas, o produtor Brian Eno. O single de antecipação, Love without violins, trouxe boas indicações. Legendary Tigerman, Manuel Fúria, Virgul, Nídia Minaj, Valas, Eme ou Orelha Negra são outros nomes portugueses com novos discos a fermentar.
Efemérides também não faltarão. Por exemplo passarão cinquenta anos sob a edição de álbuns marcantes da história da música como Stg. Pepper’s Lonely Hearts Club Band dos Beatles, Velvet Underground & Nico, The Doors, Songs Of Leonard Cohen ou Are You Experienced de Jimi Hendrix. Mas como acontece todos os anos os grandes lançamentos até podem surgir de jovens ainda com acne (Abra, Shame, Kelsey Lu, Declan McKenna ou Jorja Smith) ou em edições que acontecem de forma não prevista, de tal forma se tornou normal apostar na surpresa em termos de comunicação.