Lesados do Banif surpreendidos com declarações de Lacerda Machado
Associação diz que não existiu contacto nem com o negociador do Governo nem com o banco espanhol.
A Associação de Defesa dos Lesados do Banif (ALBOA) diz-se surpreendida com as declarações do assessor do governo Diogo Lacerda Machado, que dão conta de contactos exploratórios junto do Santander, para que seja encontrada uma solução para os detentores de obrigações subordinadas daquele banco.
Reagindo à entrevista concedida por Lacerda Machado ao PÚBLICO/RR, o responsável pela ALBOA, Jacinto Silva, admite que a intervenção do Santander na resolução do problema dos lesados é bem vista pela associação, mas garante que não existiu qualquer contacto nem com o negociador do governo de António Costa, nem com o banco espanhol.
“Tivemos uma conversa informal há cerca de um mês com o Dr. Lacerda Machado, que serviu mais como uma apresentação do que para abordar qualquer possível solução”, disse Jacinto Silva ao PÚBLICO, acrescentando que os contactos com o Santander também não têm existido.
Jacinto Silva não gostou da relevância dada por Lacerda Machado ao facto da CMVM não ter considerado que tenha existido misselling no caso do Banif, e desafia aquele organismo a participar numa assembleia da ALBOA para se inteirar da verdadeira realidade dos lesados. “Ao contrário do BES, estamos a falar de pessoas com uma iliteracia financeira elevada e de muitos idosos com dificuldade em utilizar as novas tecnologias para apresentar queixa no site da CMVM.”
Para que a realidade do misselling seja reflectida, o próximo passo da ALBOA é ajudar os lesados a preencher o formulário de reclamação na CMVM. Isto, enquanto esperam que, já em Janeiro, as três partes – lesados, Governo e Santander – comecem a trabalhar numa solução para o Banif. “O problema do BES, que ocorreu primeiro, foi resolvido, agora, por uma questão de justiça e equidade é preciso solucionar o do Banif”, defende, argumentando que enquanto o BES era um banco privado, o Banif quando foi intervencionado era praticamente um banco público.
A solução, continua Jacinto Silva, deverá ter por base a proposta avançada pelo presidente do governo madeirense, Miguel Albuquerque, e que passa pela criação de um fundo financiado pelo Santander ou pelo Estado em conjugação com um crédito fiscal em sede de IRS, de forma a ressarcir em dez anos todos os detentores de obrigações subordinadas do Banif. “Terá que ser trabalhada, porque é necessário que entre uma terceira entidade financeira”, explica, sublinhando que esta solução não terá impacto no défice.
“Estou convencido que podemos resolver este problema sem chamar os contribuintes, mas também não nos podemos esquecer que os lesados também são contribuintes.”