"A batalha de Alepo está a chegar ao fim"
Em poucas horas, Exército conquistou todos os bairros que a rebelião ainda detinha no Leste da cidade. Situação é descrita como "apocalíptica" no pequeno reduto ainda em poder dos grupos armados.
A rebelião síria perdeu o Leste de Alepo, a metade da grande cidade que era há quatro anos o seu bastião mais precioso. Em apenas uma manhã, as forças governamentais avançaram pelos bairros adentro, empurrando os grupos armados para um pequeno reduto no Sul da cidade – tão pequeno que a sua queda é anunciada como inevitável.
“A situação em Alepo é literalmente apocalíptica”, disse à BBC Abdul Kafi Alhamado, um professor de inglês que vive num dos dois bairros que ainda não tinham sido tomados ao final do dia, interrompendo várias vezes a conversa para seguir o barulho dos caças que sobrevoam sem parar a cidade. “Há bombas por todo o lado, as pessoas correm sem saber para onde, há feridos nas ruas que ninguém se arrisca a ir socorrer, gente debaixo dos escombros.”
A noite anterior foi de bombardeamentos tão intensos que, mal amanheceu, “as pessoas fugiram em desespero para as partes já controladas pelo Governo”, explicou Zouhir al-Shiman, correspondente da Al-Jazira na área. A agência governamental Sana noticiou que 3500 pessoas chegaram às zonas controladas pelos militares, juntando-se às oito mil que fugiram na véspera.
Ao todo, garante o Ministério da Defesa russo, principal aliado de Damasco, mais de 100 mil pessoas deixaram o Leste de Alepo desde o início da ofensiva militar, a 15 de Novembro. Um número que a confirmar-se indicaria que no enclave cada vez mais pequeno em poder dos grupos armados podem estar mais de cem mil pessoas. “A zona está sobrelotada, há centenas de rebeldes nas ruas e as famílias estão a alojar-se nos edifícios semidestruídos”, contou Shiman.
“Uma questão de tempo”
O avanço do Exército começou ao raiar do dia. Apoiado por milícias xiitas libanesas e iraquianas e desta vez também por uma brigada de refugiados palestinianos, tomou os bairros de Saliheen e Sheik Saed, zona estratégica junto à entrada sul da cidade. Como um castelo de cartas, nas horas seguintes as forças da oposição abandonaram todas as posições que ainda ocupavam a Leste do rio Queiq que cruza a Alepo de Norte a Sul, incluindo o bairro de Bustan al-Qasr, que era uma das suas posições mais fortificadas.
“Houve um colapso total dos rebeldes”, explicou à AFP Rami Abdel Rahman, director do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, garantindo que a batalha de Alepo – o grande embate que há quatro anos opõe o regime de Bashar al-Assad à miríade de grupos armados que o combatem – “está a chegar ao fim”. “É apenas uma questão de tempo”, até às forças governamentais tomarem os bairros de Sukkari e al-Machad, os últimos redutos da rebelião, ambos na margem ocidental do rio Queiq.
Uma convicção partilhada pelo general Zaid al-Saleh, comandante do comité de segurança de Alepo, numa conversa com jornalistas entre as ruínas que sobraram dos combates em Sheik Saed. “A batalha deverá terminar em breve. Os rebeldes não têm muito tempo. Ou se rendem ou vão morrer”, avisou. “Estamos na etapa final” das operações, confirmou outra fonte militar ouvida pela Reuters.
Conquistar a totalidade de Alepo será a maior vitória obtida por Assad em cinco anos e meio de guerra, incomparável a qualquer outra registada desde que, em Setembro de 2015, o Presidente russo, Vladimir Putin, entrou na guerra para apoiar o regime, então ameaçado por perdas em várias frentes. Passará a ter pleno controlo sobre as cinco maiores cidades do país, garantindo o domínio quase ininterrupto sobre a região ocidental, território que é vital à sobrevivência do seu Governo.
Mas a oposição – que sem Alepo fica reduzida à província vizinha de Idlib, a alguns subúrbios de Damasco e a posições no Sul do país – assegura que a pesada derrota não a levará a aceitar a permanência de Assad no poder. “Se ele e os seus aliados pensam que os avanços militares em alguns bairros de Alepo significam que vamos fazer concessões, garanto-lhe que isso não acontecerá”, disse Riad Hijab, coordenador da oposição síria. De visita a Paris, acusou as forças governamentais de “estarem a praticar uma política de terra queimada” em Alepo “ao mesmo tempo que fogem como ratos dos jihadistas” em Palmira, cidade histórica reconquistada pelo Daesh durante o fim-de-semana.