Renzi demite-se: “Obrigado a todos e viva a Itália”

Itália já não tem primeiro-ministro. Presidente começa a ouvir os partidos na quinta-feira.

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Renzi na chegada para o encontro com o Presidente Vincenzo Pinto/AFP

O Presidente pediu e ele aceitou adiar a demissão formal. Mas apenas por dois dias. “O Orçamento está aprovado, às 19h [menos uma hora em Portugal continental] a demissão formal. Obrigado a todos e viva a Itália”, escreveu Matteo Renzi na sua conta de Twitter, antes de ir ao palácio presidencial, formalizar o pedido a Sergio Mattarella. A audiência durou 40 minutos – Itália já está sem primeiro-ministro.

O chefe de Governo demissionário defende uma de duas opções, uma ida a votos para o substituir em breve, dependente da sentença do Tribunal Constitucional marcada para 24 de Janeiro sobre a legalidade da actual lei eleitoral, ou um “governo de todos”. “Se os grupos [parlamentares] quiserem levar esta legislatura até ao fim, devem indicar a sua disponibilidade para defender um novo executivo que gira a questão da lei eleitoral mas, sobretudo, um ano de 2017 muito importante a nível internacional”, defende o líder do centro-esquerda.

Ora bem, então Renzi cumpriu o que disse que faria. Demitiu-se, quando a sua reforma constitucional foi chumbada em referendo (no domingo) por 59% dos eleitores que participaram na consulta (68% dos italianos foram às urnas). E esperou apenas pela aprovação do Orçamento de 2017 no Senado (já tinha passado na Câmara dos Deputados) para sair de cena. A bola passou em definitivo para o campo de Mattarella, que a partir de quinta-feira começará a ouvir os diferentes partidos com presença parlamentar.

As duas opções de Renzi não são exactamente dois cenários do Presidente, mas um deles coincide. Mattarella considera “inadmissível” que os italianos sejam chamados a participar em legislativas com o actual quadro legislativo.

A lei eleitoral em vigor, pensada como complementar da reforma da Constituição recusada nas urnas, só enquadra a eleição para a câmara baixa – a alta iria perder poderes e os seus membros deixariam de ser escolhidos pelos eleitores. Para aumentar a confusão, a Justiça vai declarar-se sobre a legalidade desta lei a 24 de Janeiro.

O que o agora ex-primeiro-ministro está a dizer é que, depois desta sentença, o Parlamento pode votar uma lei modificada, tendo em conta o que disserem os juízes, ou que talvez bastem as modificações decididas por estes para se ir a eleições. Neste caso, não seria preciso elaborar uma nova lei completa, o que defende, à partida Mattarella. Fazer isso levaria pelo menos alguns meses.

Quanto ao cenário um “governo de todos” é, no fundo, o que o Presidente tentará sempre fazer. Nomear um primeiro-ministro que conte com o apoio da diversidade partidária italiana é tarefa quase impossível, mas é esse o desafio. Acima de tudo, o escolhido terá de ser apoiado pelo centro-esquerda do Partido Democrático (de Renzi), que mantém uma maioria relativa na Câmara dos Deputados, ao mesmo tempo que convém não desagradar a toda a direita. Quanto ao mandato deste líder é que está por saber se será apenas assegurar que se resolve a confusão da lei eleitoral ou mais. A legislatura termina nos primeiros meses de 2018.

Mattarella tentará pelo menos agradar ao Força Itália, a direita de Silvio Berlusconi. Mas sabe que não pode ignorar o Movimento 5 Estrelas, partido anti-partidos, nem o xenófobo Liga Norte, que, juntos somam 40% das intenções de votos nas sondagens e têm planos para governar o país.

“Estou pronto a ceder a liderança ao meu sucessor, com um abraço e desejos de bom trabalho”, afirmou ainda Renzi, defendendo em seguida a sua governação, “mil dias” em que “milhões e milhões de italianos acreditaram num outro modo de fazer política”.

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