Mais dura sobre imigração, Merkel alerta contra as "respostas simples"
Chanceler alemã foi reeleita líder da CDU com 89,5% dos votos. Perante o Congresso do partido defendeu a proibição do uso da burqa em espaços públicos.
A chanceler alemã, Angela Merkel, lançou-se na batalha para as legislativas do próximo ano, com um discurso em que tentou equilibrar um endurecimento político nas questões ligadas à imigração e aos refugiados – apoiou a proibição do uso do véu integral em espaços públicos –, com uma recusa clara das “respostas fáceis” apresentadas pelas correntes populistas que assombram vários países ocidentais.
Merkel foi reeleita líder do partido democrata-cristão (CDU), reunido em Congresso na cidade de Essen (a mesma onde em 2000 foi entronizada pela primeira vez), com 89,5% dos votos dos delegados. Um resultado abaixo da votação obtida há dois anos (96,7%), mas mais do que suficiente para mostrar que, 16 anos depois, continua a ser líder incontestada do partido.
Com o manto de “líder do mundo livre” que lhe foi colocado sob os ombros por boa parte da imprensa europeia depois da vitória de Donald Trump nas presidenciais americanas, Merkel parte para aquela que será a sua quarta campanha com a responsabilidade de travar o caminho à Alternativa para a Alemanha (AfD). O partido populista e xenófobo tem canalizado a inquietação que a chegada de mais de 900 mil refugiados ao país, no fim de 2015, desencadeou entre boa parte do eleitorado. As sondagens atribuem à AfD cerca de 14% das intenções de voto, o que lhe permitirá eleger os seus primeiros deputados – será a primeira vez que um partido de extrema-direita entra no Parlamento alemão desde o fim da II Guerra.
Este crescimento preocupa os conservadores alemães, com a ala mais à direita da CDU e a liderança do partido-irmão da Baviera (CSU) a exigirem que Merkel corte em definitivo com a política de acolhimento que adoptou no auge da crise dos refugiados.
No discurso aos delegados, que a emissora alemã Deustche Welle descreveu como "desafiadoramente centrista", Merkel começou por prometer que não permitirá a repetição da chegada maciça de refugiados ao país – “uma situação como a que aconteceu em 2015 não pode voltar a acontecer” – e disse apoiar quem defende um repatriamento mais rápido dos candidatos a asilo que virem os seus pedidos recusados.
Mais à frente, num piscar de olhos aos eleitores hoje tentados a votar na AfD, defendeu a proibição do véu islâmico integral (a burqa ou o niqab) “em todos os locais onde seja juridicamente possível”. Seguindo o exemplo de vários países europeus, o ministro do Interior alemão, Thomas de Maizière, avançou em Agosto com uma proposta para proibir a burqa em edifícios da administração, escolas e tribunais. Merkel dá agora a entender que o Governo pode ir mais longe. “O direito alemão prevalece sobre a sharia”, afirmou, num dos momentos mais aplaudidos do seu discurso.
Em simultâneo, criticou sem meios-termos os que promovem o discurso do ódio e da divisão. “É todo o nosso povo que decide quem são os alemães. Não são uns poucos, por muito barulho que possam fazer”, disse. E sem nunca se referir pelo nome à AfD, pediu aos alemães que se “mantenham cépticos em relação aos que têm respostas simples” para um mundo “que não é a preto e branco”.
Sobre a campanha que se avizinha, a chanceler admitiu que será a mais dura que o partido já enfrentou desde a reunificação, em 1990, tendo de bater-se contra a polarização da sociedade, o sobressalto em que vive a Europa e os Estados Unidos, mas também com a possibilidade de uma futura coligação entre o Partido Social-Democrata (SPD), Verdes e Die Linke (a esquerda radical). Uma possibilidade não afastada pelo SPD, mas que as sondagens dão como distante – a última, divulgada domingo, atribuiu à CDU 37% das intenções de voto, 15 pontos percentuais à frente dos actuais parceiros na grande coligação no poder.