Cimeiras dos países do Sul da Europa, que futuro?

Matteo Renzi era uma peça importante na engrenagem dos países que queriam uma mudança de estratégia política na Europa.

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Matteo Renzi, primeiro-ministro italiano, demitiu-se no domingo AFP/PHILIPPE HUGUEN

Há qualquer coisa como três meses menos uns dias, Teresa de Sousa escrevia nas páginas do PÚBLICO, a propósito da Cimeira dos Países do Sul da Europa realizada em Atenas: “Pode ser a primeira mas também a última. Há meia dúzia de meses ainda parecia impossível”.

A verdade é que o encontro que reuniu, em Setembro, em Atenas, os líderes de Portugal, Itália, Chipre, França, Grécia e Malta (o espanhol Rajoy fez-se representar, à última hora, por um secretário de Estado) dificilmente voltará a realizar-se com aqueles protagonistas. Desde logo porque Matteo Renzi, o então primeiro-ministro italiano, está demissionário, na sequência de um referendo que já então parecia colocar a sua posição em perigo. Mas também porque há mais Europa a mudar.

Ainda assim, a realização da anunciada II Cimeira dos Países do Sul, em 2017, em Lisboa, mantém-se em cima da mesa. E do lado português, o primeiro-ministro António Costa faz pressão sobre o futuro líder do executivo itaiano ao dizer que deseja que a “decisão lúcida e muito corajosa” tomada no domingo por Renzi “não comprometa a participação ativa” de Itália no projecto europeu. Matteo Renzi “tem muito a dar, é uma força de energia, de criatividade, de combatividade que fará muita falta à Europa se se retirar do Conselho Europeu”, disse Costa.

Não há dúvidas de que Renzi era uma peça importante na engrenagem dos países que queriam uma mudança de estratégia política na Europa, mais voltada para o investimento. Sem o seu apoio, a onda anti-austeritária que prometia varrer a Europa a partir do Sul — e que teve até a simpatia de alguns comissários europeus — perde força.

Sem querer mostrar apreensão pela saída de Renzi, o PS emitiu ontem um comunicado onde se lia que “o Partido Socialista sublinha a importância de a Itália, país fundador da União Europeia, continuar a dar o seu contributo activo para o projecto de construção europeia”. E exprimiu o desejo de que aquele país “mantenha o seu empenho na promoção de uma Europa mais forte e solidária”.

Em Portugal, é Pedro Passos Coelho quem deixa os alertas, olhando para a crise agora aberta em Itália com desconfiança. “Ninguém pode dizer que só pelo facto de a Itália há muitos anos lidar com crises políticas que esta não possa vir a transformar-se numa crise mais grave”, afirmou o presidente do PSD.

Passos recordou que foi o próprio primeiro-ministro italiano que transformou o referendo num “plebiscito a ele próprio e ao seu Governo”. E agitou a bandeira da crise financeira. “O grande problema é saber como é que sistema financeiro e em particular sistema bancário vai reagir à crise política”, assumiu Pedro Passos Coelho, lembrando que “o primeiro-ministro italiano há um ano que anda a gritar aos quatro ventos que tem problemas com os bancos”.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, que conserva o seu optimismo também nesta matéria, o que estava em causa no referendo italiano não era a União Europeia, mas sim “uma reforma constitucional”. O povo foi questionado sobre “mudar ou não o sistema político” e disse “soberanamente” que não quer mudar. “Não disse: ‘queremos sair do Euro, queremos sair da Europa’”, explicou o Presidente da República.

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