Miguel Zugaza deixa de ser director do Prado no próximo ano e regressa a casa
Imprensa espanhola não lhe poupa elogios na modernização da pinacoteca madrilena. Estar perto da mulher e dos filhos foi determinante para que Zugaza voltasse ao Museu de Belas-Artes de Bilbau.
Quinze anos depois, Miguel Zugaza troca o cargo de director do Museo do Prado pelo de director do Museu de Belas-Artes de Bilbau. É um regresso a casa para este historiador de arte que nasceu em Durango em 1964 e que já liderou o museu basco entre 1995 e 2001 – com tal sucesso, diz a imprensa espanhola, que acabou por de lá sair para integrar a equipa que conduziu a pinacoteca madrilena, uma das mais importantes do mundo, a um período de grande crescimento (em área, em visitantes, em projecção internacional) e inovação.
Num texto dirigido ao ministro da Educação, Cultura e Desporto espanhol e ao presidente da região da Biscaia, divulgado pelo Prado, Zugaza agradece o apoio recebido ao longo dos anos e diz que os objectivos que estabeleceu para o período que permaneceu à frente do museu foram cumpridos. Sai, escreve o ainda director, numa altura em que a instituição “está a entrar numa nova e entusiasmante fase com o foco posto no seu bicentenário e na construção do Campus do Museu do Prado”.
Falando em nome do conselho de administração do Prado, o seu presidente, José Pedro Pérez-Llorca, não poupou elogios a Zugaza, que se vai manter em funções até que seja escolhido o seu sucessor: “O Museu do Prado nunca vai conseguir expressar em pleno o quanto agradece a Miguel Zugaza pela sua inteligência, sabedoria e imaginação […]. Os resultados do seu esforço, nomeadamente o grande sucesso do Prado, falam por si.”
Em Bilbau, Zugaza vai substituir um director cujo trabalho também foi enaltecido pelas autoridades regionais e que agora se aposenta, Javier Viar Olloqui, poeta, escritor, crítico de arte e comissário, que esteve à frente do Museu de Belas-Artes nos últimos 14 anos.
“O Prado está em boa forma e com uma perspectiva de futuro extraordinária, por isso saio tranquilo”, disse Miguel Zugaza numa conferência de imprensa na quinta-feira, um dia depois de ter sido anunciado que deixaria o museu madrileno. “Foram 15 anos de trabalho intenso e, se há coisa que fiz bem, foi identificar talentos dentro do museu, onde demos voz à inteligência. Num lugar como este, a mistura de beleza e sabedoria é muito poderosa, é como uma central nuclear”, continuou o director, aqui citado pelo diário El País.
Respondendo às perguntas dos jornalistas sobre eventuais tensões entre a direcção e a administração do museu, Zugaza garantiu que tem sido um privilégio trabalhar com Pérez-Llorca, não sem depois admitir que a sua relação com todos os presidentes da instituição teve os seus momentos bons e os seus momentos maus.
“Sempre me senti um interino [neste cargo]” e “dei tudo o que podia dar”, acrescentou o director que, ao longo do seu mandato, pediu várias vezes a demissão – “não sei dizer quantas”, cita o jornal ABC – e enfrentou vários obstáculos, com destaque para a batalha que teve de travar para nomear o britânico Grabiele Finaldi (actualmente director da National Gallery de Londres) seu adjunto, para o “momento muito difícil” que acabou por levar à aprovação de uma lei que deu ao Prado muito maior autonomia financeira, e para o “repúdio público” do projecto de ampliação de Rafael Moneo, cujas obras chegaram a ser suspensas pelo Supremo Tribunal e que acabou por ser concluído e por garantir ao museu uma sólida base para a modernização de que tanto precisava.
Para esta sensação de transitoriedade que Zugaza não esconde, contribuiu certamente a sua situação familiar. O director vivia de segunda a quinta em Madrid, onde trabalhava, e de sexta a domingo em Durango, no País Basco, onde moram a sua mulher e os seus filhos. A direcção do Museu de Belas-Artes é, por isso, um duplo regresso a casa.
Na mesma conferência de imprensa, o director agradeceu a toda a equipa do museu e também às autoridades bascas, que fizeram o convite há mais de um ano e que aceitaram esperar pela resposta – Zugaza garantira que não tomaria qualquer decisão até que houvesse estabilidade política em Espanha. “É voltar a casa e a estar perto dos meus… É voltar a um museu que é de certa forma meu”, disse, revelando que tem objectivos muito ambiciosos para Bilbau, “um sítio fantástico para experimentar”, e muita vontade de voltar a trabalhar com os artistas contemporâneos, algo que no Prado era muito difícil.
Miguel Zugaza não estabelece uma data para deixar a direcção, dando ao Prado todo o tempo que for necessário para encontrar um substituto. “O museu vai encontrar o meu sucessor em velocidade de cruzeiro”, disse, segundo o ABC, garantindo que não haverá qualquer vazio de poder.
Miguel Falomir, o antigo chefe do departamento de pintura italiana do Renascimento que substituiu Finaldi como director adjunto em Abril de 2015, é apontado pelo El País como um dos principais aspirantes ao lugar de Zugaza. É certamente um dos seus homens de confiança, acrescenta o ABC. Mas o director não deu qualquer pista sobre as suas preferências, nem mesmo quando lhe perguntaram se o sucessor que indicaria se pudesse escolher estava na sala (Falomir ocupava uma das cadeiras da plateia).
Tal como Finaldi, Miguel Falomir é um homem da investigação, precisamente um dos eixos em que, segundo Zugaza, o Prado deve apostar para “dar um salto qualitativo no futuro”.