BCE poderá nomear uma comissão administrativa para a Caixa

Maioria dos administradores saíram e criaram problema adicional ao Governo: se não houver nome aprovado a tempo, a Caixa pode ter equipa transitória a mandar. Macedo e Tavares voltam a ser opções.

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O processo de indigitação de novas equipas gestoras da banca é difícil e habitualmente prolongado AFP/EMMANUEL DUNAND

O Governo está em contra-relógio à procura de um nome para mandar na CGD - e a definir cenários de contingência que evitem um cenário de vazio de poder no banco público. Nas horas seguintes à demissão de António Domingues, o caso tornou-se ainda mais difícil de gerir para a equipa de Mário Centeno: é que, se não houver um nome aprovado a tempo pelo BCE (até ao fim do ano), o Mecanismo Único de Supervisão tem poderes para nomear uma comissão administrativa para gerir a Caixa, até que a nova equipa entre em funções. 

Se na noite de domingo era esse o maior receio no Governo, mais se acentou na manhã de ontem. Num comunicado à CMVM, mais seis administradores da equipa de Domingues apresentaram a sua demissão. Sem referência a datas, a lei geral diz que essas saídas ficam consumadas no final do mês seguinte ao da apresentação das cartas - ou seja, no final de Dezembro, tal como António Domingues.

O processo de indigitação é, porém, difícil e habitualmente prolongado. É preciso escolher um nome, é preciso que este encontre equipa - e depois que todos sejam avaliados pelo BCE e pelo Mecanismo de Supervisão. No Verão passado, com a equipa de Domingues, tudo isto levou mais de mês e meio - e com chumbos pelo meio.

Ontem, quando falou aos jornalistas, António Costa prometeu entregar um nome em Frankfurt "esta semana", mas não disfarçou as dificuldades. “Como sabe hoje o processo é um processo mais demorado porque depende não só da designação por parte do governo mas também pela aprovação do mecanismo de supervisão europeu. Não vamos estar aqui a especular sobre nomes, porque como creio que já todos aprendemos com a experiência anteriora pior coisa é andar aqui a saturar nomes na opinião pública”.

Paulo Macedo de volta à lista

Nos meios do Governo e dos partidos da esquerda, que estão a ser informados das intenções de António Costa e Centeno, muitos são os que trazem de volta a solução Paulo Macedo. O ex-ministro da Saúde de Passos Coelho chegou a ser pensado para a Caixa, mas António Costa deixou-o de parte, com a intenção de lhe dar o lugar de vice-governador do Banco de Portugal. Mas Macedo é visto agora como a solução ideal, tendo em conta o seu perfil mais político e menos de banqueiro profissional, que deixou socialistas, bloquistas e comunistas irritados nesta fase final de António Domingues. 

Sem certezas de que Macedo aceitasse esta via alternativa, mais nomes circulavam ontem nos corredores do poder. Como o de Carlos Tavares, ainda presidente da CMVM (mas de saída). Ou de Miguel Bragança, administrador do BCP. À esquerda há quem acredite que, se Macedo não for a escolha, o Governo tentará uma solução num dos bancos que estão a mudar de accionistas - como o BCP ou BPI. 

Apesar do evidente incómodo com a situação criada (e com a pressão do relógio), a verdade é que no Governo e na Presidência o sentimento parece ser de alívio. A tensão com Domingues nas últimas semanas criou problemas a todos - de que já ninguém sabia como sair. Nas Finanças é que o ambiente não é exactamente o mesmo: a equipa de Mário Centeno tinha todas as cartas na independência de António Domingues - e ficou agora com menos autonomia política e com um problema complicado nas mãos para resolver, nomeadamente com Bruxelas.

Ontem à tarde, o comissário europeu para o Euro, Valdis Dombrovskis, limitou-se a dizer que a nova administração da Caixa deverá dar seguimento ao acordo de princípio fechado em Agosto sobre a recapitalização do banco público, sublinhando ser "importante que as autoridades portuguesas e a nova gestão da CGD continuem a cumprir o acordo".

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