Alain Juppé é o favorito, mas Fillon ameaça estragar a festa

O centro-direita francês realiza primárias abertas para escolher o seu candidato às eleições presidenciais de 2017. Há dois favoritos — um deles Sarkozy, que mimetiza o programa da Frente Nacional.

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Sarkozy e Juppé, num dos dos debates antes das primárias AFP

Se as sondagens estiverem certas, Alain Juppé será o vencedor das primárias para escolher o candidato de centro-direita para as eleições presidenciais francesas de 2017, que terão a primeira volta neste domingo. Mas há várias incógnitas que podem pôr em causa o favoritismo do ex-primeiro-ministro de Jacques Chirac. Uma é o crescimento da candidatura de François Fillon e outra é a participação.

É a primeira vez que o partido Os Republicanos realiza primárias do centro-direita abertas a todos os que quiserem votar. Se forem muito participadas, com muitos eleitores do centro e de fora do partido, Juppé terá melhores hipóteses. Se muitos ficarem em casa, Nicolas Sarkozy, ou François Fillon, serão beneficiados.

As intenções de voto em Alain Juppé mantêm-se altas (33%-39%), face ao ex-Presidente Nicolas Sarkozy (30%), que mais uma vez não viu vingar a sua estratégia de "tudo à direita", roubando os temas e o discurso da Frente Nacional de Marine Le Pen e defendendo que essa é a melhor forma de travar a progressão deste partido de extrema-direita. Ainda que tenha perdido as presidenciais de 2012 face a François Hollande com esta estratégia, Sarkozy continua a considerar esta a aposta correcta: "Eu sei como contrariar o progresso da FN, porque bati o pai [Jean-Marie Le Pen] em 2007, e a filha [Marine Le Pen] em 2012", diz Sarkozy.

O ex-Presidente defende que se acabe com as refeições especiais para quem não come porco nas cantinas escolares – visando as crianças muçulmanas – e, para compensar, sugeriu que as crianças muçulmanas comam simplesmente "uma ração dupla de batatas fritas". A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos deu novo fôlego a Sarkozy, que tal como o milionário americano promete controlar a imigração e reassumir o controlo das fronteiras.

Mas as sondagens não mostram uma evolução favorável, até porque as múltiplas investigações judiciais sobre corrupção em que surge o nome de Sarkozy – o financiamento líbio na campanha presidencial de 2007 é um deles – não deixam de marcar a actualidade.

Já Juppé contrapõe às preocupações com a "identidade nacional" de Sarkozy o conceito de "identidade feliz" – a ambição de ser feliz, um desejo colectivo para França, de que o ex-Presidente tem feito troça.

Juppé beneficiou do apoio dos partidos centristas, e em concreto de François Bayrou, o líder do Modem (Movimento Democrático), que prometeu que não se candidataria à presidência se ele representasse o centro-direita. Esta promessa não se manteria se o candidato fosse Sarkozy. Bayrou é uma referência moral para o centro-direita, cujo apoio é sempre cortejado pelos socialistas e pela direita moderada.

Mas na última semana surgiu um novo factor na campanha da direita: François Fillon, o primeiro-ministro de Sarkozy que entrou em ruptura total com este, disparou nas sondagens, rondando os 18%-20%. Chegou a ter subidas de nove pontos – embora se mantenha distante de Juppé, e também de Sarkozy. É próximo dos sectores católicos e do movimento anti-legalização do casamento gay Manif pour Tous. Foi depois da sua prestação no primeiro debate televisivo entre os candidatos à primária de centro-direita que Fillon se destacou.

"Os jornalistas que me diziam ‘ainda acredita?’, perguntam-me hoje ‘até onde espera ir?’ Bom, até ao fim", disse Fillon, no Twitter. O crescimento de François Fillon sido feito sobretudo à custa de Juppé – o que poderá permitir que Sarkozy ganhe a primeira volta das primárias.

No domingo seguinte (27 de Novembro), será o confronto final entre a visão de Sarkozy – anti-imigração, proteccionista e pelo "respeito das fronteiras – e a posição oposta de Juppé. Para ele, o que Sarkozy está a fazer é a dar legitimidade às teses da Frente Nacional. "E os eleitores preferem sempre o original à cópia".

"É preciso acalmar o clima que reina hoje em França. A simples palavra ‘muçulmano' suscita uma histeria desproporcionada. Se continuarmos assim, vamos para uma guerra civil", disse Juppé numa entrevista ao Le Monde em Setembro.

Juppé é dado como o opositor ideal para ganhar a Marine Le Pen na segunda volta das presidenciais – alguém em quem os eleitores de esquerda conseguiriam votar. Mas para isso, Juppé tem de conseguir ganhar. E mobilizar eleitores suficientes para votar nas primárias. Por isso, abre os braços até aos "desiludidos de Hollande", o Presidente socialista que é tão impopular que nem deverá recandidatar-se.

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