Autoeuropa fora do corte de 30 mil empregos na Volkswagen
Fábrica portuguesa mantém planos para contratar mais de mil trabalhadores, já que no próximo ano passará a produzir um novo modelo. Cortes só nos custos, mas sem atingir postos de trabalho.
A Autoeuropa, fábrica da Volkswagen em Palmela, não será afectada pelo corte de 30 mil postos de trabalho até 2020, anunciado nesta sexta-feira pelo grupo alemão. A unidade portuguesa mantém os planos previstos e vai contratar trabalhadores, já que a partir do próximo ano passa a produzir mais um modelo.
“Não há um impacto directo na Volkswagen Autoeuropa. Ou seja, o plano de investimento mantém-se inalterado, assim como o programa de lançamento do novo modelo – que será muito importante no sentido de dar um novo fôlego à marca Volkswagen – e o processo de contratação de novos colaboradores”, disse ao PÚBLICO fonte oficial da fábrica de Palmela.
“Indirectamente, poderá haver algum esfoço adicional de contenção de custos em todas as fábricas, mas que no caso da Volkswagen Autoeuropa não afectará postos de trabalho”, acrescentou a mesma fonte.
A Autoeuropa produz actualmente os modelos VW Sharan, Seat Alhambra e VW Scirocco e a partir do próximo ano produzirá um novo SUV, que será apresentado oficialmente em Março, no Salão de Genebra.
Aliás, com este novo modelo, a Autoeuropa iniciará um processo de contratações, que levará à entrada de cerca de 1000 a 1200 trabalhadores, disse ao PÚBLICO António Chora, coordenador da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa. “As admissões começam no final do primeiro trimestre de 2017 e duram até ao final do primeiro trimestre de 2018."
O grupo VW anunciou nesta sexta-feira que vai cortar 30 mil postos de trabalho até 2020: 23 mil na Alemanha e sete mil no resto do mundo, sendo que o Brasil e a Argentina deverão ser os países mais afectados. Os cortes serão conseguidos através de rescisões, reformas antecipadas e diminuição do número de trabalhadores em part-time.
Esta redução, que segundo a empresa resultará numa poupança de 3700 milhões de euros até 2020, surge na sequência “Dieselgate”, o escândalo de manipulação dos valores das emissões poluentes nos carros a gasóleo.
Devido a este caso, a empresa terá de pagar 15 mil milhões de dólares às autoridades norte-americanas e aos donos de cerca de meio milhão de veículos nos EUA.
Além das poupanças necessárias para enfrentar as consequências do “Dieselgate”, a Volkswagen quer igualmente aproximar-se da rentabilidade de outras empresas do sector automóvel. Segundo a Reuters, o grupo alemão tem uma margem operacional (critério de rentabilidade) de 2% este ano e quer chegar aos 4% em 2020, ainda assim abaixo dos 6% projectados por concorrentes como a Renault e Peugeot/Citroën para 2021.
No acordo com os trabalhadores, o chamado Pacto para o Futuro, a Volkswagen compromete-se a criar 9000 postos de trabalho na área dos carros eléctricos, principalmente em fábricas alemãs.
“Este é um grande passo, talvez o maior passo da história da empresa”, disse Herbert Diess, director-executivo da marca Volkswagen, em conferência de imprensa. “Todos os fabricantes têm de se reinventar, por causa das mudanças iminentes na indústria. Precisamos de nos preparar para a tempestade”, acrescentou.
O grupo Volkswagen – que inclui 12 marcas, incluindo a Audi, Porsche e Seat – tem mais de 600 mil trabalhadores e já atravessava dificuldades antes do “Dieselgate”. A dúvida agora é se este plano será suficiente para colocar o grupo germânico no bom caminho. “O acordo é o melhor que empresa poderia negociar com os sindicatos, mas não é uma vitória para nenhum dos lados”, disse à Reuters Erik Gordon, professor na Universidade do Michigan.
“Os cortes são demasiado pequenos para tornar a VW competitiva face à Toyota e a outros concorrentes globais”, argumentou, dando como exemplo o facto de o grupo alemão produzir menos automóveis com os seus 600 mil trabalhadores do que a Toyota, que tem 350 mil funcionários.