O sarcasmo de existir por Wasted Rita
É inaugurada esta sexta-feira, no Porto, a nova exposição de Rita Gomes; ou seja, Wasted Rita, que, diz ela, tem tanto de pessimismo como de diversão.
No ano passado, o seu nome deixou de ser nomeado apenas entre entendidos, para começar a ser designado por um público mais vasto. Teve uma exposição individual, em Lisboa, na galeria Underdogs, e foi convidada para integrar o projecto Dismaland do artista britânico Banksy, sendo catapultada de repente para as páginas de jornais ou revistas. O PÚBLICO, no final do ano, considerou mesmo Rita Gomes, ou seja, Wasted Rita, 27 anos, uma das personalidades portuguesas a quem o ano de 2015 correu melhor.
Esta sexta-feira, quase no final de 2016, inaugura uma exposição no Porto, que ela assume ser, entre outras coisas, uma reacção a essa atenção que incidiu sobre ela. “Esta exposição reflecte também esse foco excessivo sobre mim”, assume, “acabando por ser uma reflexão pessoal sobre muito do que se passou em 2015 e como tive de processar esses acontecimentos. É como se fosse eu a aliviar todos os meus pesadelos, atirando tudo cá para fora.” Quem conhece o seu trabalho já sabe ao que vai, com frases ou desenhos a preto e branco, na sua aparência toscos, mas com uma capacidade de sedução imediata, complementados por comentários rascunhados, normalmente sarcásticos e divertidos, sobre as minudências diárias, as crises existenciais, os ódios de estimação, a sensação de não pertença, a dificuldade em lidar com o sucesso, as desigualdades de género ou o absurdo da existência.
A exposição chama-se The People, The Living Dying and All The Sarcasm Fun in Between, e estará patente na Underdogs (Rua dos Mártires da Liberdade, 30), no Porto, entre esta sexta-feira e 2 de Dezembro – um espaço que no final da exposição passará a funcionar como pop-up store.
Em exibição estarão trabalhos de diferentes suportes, do desenho às luzes néon, passando pela pintura e objectos esculturais. Nos últimos anos, Rita, também ilustradora e designer gráfica de formação, tem-se focado tematicamente nas frustrações da intimidade, com centro na esfera do amor, a maior parte das vezes não correspondido. Aqui investe na arena mais abrangente da realidade social. “Para mim, esta exposição significa voltar ao Porto, onde estudei e vivi, depois de dois anos sem expor aqui”, diz ela, actualmente a viver em Lisboa, “mas desta vez vou apresentar um trabalho diferente, mais maduro e coeso, na minha visão, com tanto de pessimismo como de diversão, pelo menos assim espero. Será menos centrado nas relações amorosas, como alguns dos meus trabalhos mais conhecidos, e mais entre as relações sociais, a Internet ou o feminismo.”
Há no seu universo, na linguagem e no seu posicionamento artístico, qualquer coisa que remete para uma geração que cresceu com a Internet, como se não se levasse muito a sério, explorando situações mundanas, num cruzamento onde a arte, a palavra e um certo gosto pela irrisão se cruzam. Na maior parte das suas obras há uma grande economia expressiva, como se procurasse alcançar uma certa pureza. E exprime-se com humor. Algo que parece funcionar como catarse, embora propondo uma multiplicidade de leituras possíveis. Existe sempre alguma candura no que sugere, embora seja mais provocadora do que reconfortante. Por norma devolve-nos situações que nos são familiares, acompanhadas de frases rabiscadas, que num primeiro momento nos fazem sorrir, para num segundo instante causarem alguma estranheza, pondo-nos a pensar.
A presente exposição acontece ao mesmo tempo que uma outra, patente na galeria Artgang, em Montreal, no Canadá, sob o título de The Waking, The Sleeping and All The Nihilism in Between. “É como se a exposição do Porto fosse complementar daquela – apesar da distância física –, já que ambas se tocam pelo mesmo conceito”, afirma Rita, que, apesar de todas as solicitações, continua a não gostar de ser o foco das atenções. “Toda esta confusão à minha volta só me faz querer desaparecer. Existe sempre este paradoxo. Gosto de mostrar o meu trabalho, mas não de me expor.”
Apesar de tudo, termina com uma incitação: “Venham à exposição esta sexta-feira, nem que seja só porque vamos poder dar tiros em Trump!”