O manifesto da vaca voadora na íntegra
A vaca voadora afirma-se convicta de que PS, BE, PCP e PEV representam a garantia de que a síntese entre as suas posições será sempre maior do que as distâncias que as separam.
Os direitos de autor do título são do primeiro-ministro António Costa, mas os subscritores deste manifesto apropriaram-se dele com a certeza que daí só virá bem ao mundo, pelo menos a Portugal, uma vez que a metáfora que ele encerra sintetiza bem a solução política encontrada para a constituição do XXI governo constitucional.
Considerando os trabalhos que ainda tem pela frente, além da metáfora, a vaca voadora é agora também um sítio onde se produz opinião sobre tudo o que diga respeito não só à solução política ela mesma - ao seu passado, presente e futuro, às suas potencialidades e riscos -, bem como às políticas que vão sendo propostas, aprovadas e concretizadas, ou ainda sobre aquelas políticas de que não se fala e que seria, do nosso ponto de vista, desejável ponderar, discutir e eventualmente concretizar. Ou seja, refletindo não só no plano da reversão do que foi perdido ao longo dos quatro anos de governação da direita, amiúde ultrapassando largamente o mandato político recebido dos eleitores e de forma muito assimétrica, isto é, poupando os grandes interesses económicos e penalizando sobretudo assalariados e pensionistas, mas, principalmente, sobre a vontade de impulsionar políticas de reabilitação e qualificação das esferas sociais, económicas, culturais e políticas. E também da indispensável reforma do Estado, no sentido de tornar a sociedade portuguesa mais equitativa, em termos de oportunidades e condições de vida, e mais estimulante e atraente a participação dos portugueses na vida política.
Sendo autónoma, a vaca voadora tomará sempre partido, o partido da maioria que se constituiu na Assembleia da República. Une-nos a convicção arreigada, ancorada em inúmeros estudos políticos, de que esta solução é mais inclusiva, logo mais democrática, e mais congruente com as preferências maioritárias dos portugueses das esquerdas, nomeadamente quanto ao tipo de governo, logo capaz de incrementar também a qualidade da democracia, sobretudo se for capaz de durar e de mostrar resultados positivos. Sobretudo se conseguir ser bastante exigente com a Europa, mas simultaneamente sem pôr em causa esse esteio estratégico da nossa vida como portugueses/europeus que somos. Mas a nossa união é não tanto para tecer elogios à solução política, mas mais para ser exigente com ela. A equação encontrada pelo PS, BE, PCP e PEV para tornarem a vida das pessoas menos turbulenta e mais previsível representa um passo indispensável nesse sentido, mas é, per se, insuficiente para avanços mais significativos nas políticas de emprego, rendimentos, saúde, justiça, segurança social e administração de proximidade.
A vaca voadora afirma-se convicta, não fosse ela um ente com poderes alados, de que tudo visto e considerado, as indispensáveis e desejadas diferenças entre aquelas forças partidárias representam também a garantia de que a síntese entre as suas posições será sempre maior do que as distâncias que as separam. Foi nesse considerando que os subscritores deste manifesto reuniram vontades, superaram eventuais divergências e reuniram muitas concordâncias para criarem, também elas e eles, este improvável ser alado, neste caso voando na blogosfera.
Ana Rita Ferreira, André Freire, António Hespanha, António-Pedro Vasconcelos, Bernardino Aranda, Carlos Fragateiro, Cipriano Justo, Elísio Estanque, Emmanouil Tsatsanis, Fernando Nunes da Silva, Francisco Teixeira, Goffredo Adinolfi, Helena Roseta, J.-M. Nobre-Correia, José Leitão, José Vítor Malheiros, Maria do Rosário Gama, Maria Tengarrinha, Marta Loja Neves, Mayra Goulart, Paula Marques, Paulo Fidalgo, Pedro Bacelar de Vasconcelos, Ricardo Santos, Teresa Dias Coelho, Tiago Fernandes