E os pterossauros também deixaram um rasto na Lourinhã

Mais de 300 pegadas na praia da Peralta põem uma pedra na discussão, diz equipa de cientistas, sobre a forma de andar dos pterossauros. Não, não eram bípedes.

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Ilustração de um pterossauro DR
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O trilho dos pterossauros na praia da Peralta, concelho da Lourinhã DR
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O trilho dos pterossauros na praia da Peralta, concelho da Lourinhã DR
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Escavação do trilho dos pterossauros na praia da Peralta, concelho da Lourinhã DR

A Lourinhã voltou a tornar-se o centro das atenções dos paleontólogos – com o anúncio esta sexta-feira de um dos maiores trilhos do mundo de pegadas de pterossauros, répteis voadores.

É também o maior trilho em Portugal, tendo mais de 300 pegadas com 152 milhões de anos, revelaram os paleontólogos Octávio Mateus, da Universidade Nova de Lisboa, e Simon Kongshøj Callesen, da Universidade do Sul da Dinamarca.

Noticiado pela agência Lusa, este achado do período do Jurássico Superior traz uma revelação: os répteis voadores do período Jurássico Superior eram, afinal, bípedes.

“É uma jazida fantástica, não só em quantidade mas em qualidade, com numerosos trilhos que se cruzam e que contém muitas informações. As pegadas têm pormenores absolutamente incríveis”, conta Octávio Mateus ao PÚBLICO. O investigador disse não ter conhecimento de nenhuma jazida maior do que esta a nível mundial: “Até pode existir, mas não tenho conhecimento dela, e a nível nacional é seguramente a maior.”

As pegadas foram encontradas na praia da Peralta, no concelho da Lourinhã, região já bem conhecida pela descoberta de vários fósseis de dinossauros do Jurássico Superior.Até agora, apenas tinham sido registadas duas pegadas de pterossauros no concelho de Sesimbra.

Esta descoberta traz uma nova perspectiva sobre estes animais, uma vez que até agora não se sabia se eram quadrúpedes ou bípedes. “Já era uma discussão antiga, se se moveriam sobre duas ou quatro patas, porque há outros trilhos de pegadas que já tinham sido estudados. Mas estas pegadas agora mostram sem sombra de dúvida que os pterossauros eram quadrúpedes.”

Os pterossauros apareceram na Terra há 225 milhões de anos, ao mesmo tempo do que os dinossauros, e extinguiram-se com eles há 65 milhões de anos. Foram os primeiros animais voadores da Terra, muito antes de as aves terem levantado voo. Mas há poucos fósseis destes répteis voadores.

As novas pegadas da Lourinhã também indicam que os pterossauros do Jurássico eram maiores do que se pensava. “No período do Cretácico [os pterossauros] eram ainda maiores, mas no Jurássico, por aquilo que temos no registo ósseo, não conhecíamos exemplares tão grandes.”

O paleontólogo português afirma ainda que a descoberta permite esclarecer um “comportamento gregário, vivendo em grupo”, que também não estava bem definido.

Foi Octávio Mateus quem, em 2010, se deparou com a jazida das pegadas na praia da Peralta. Juntamente com Simon Kongshøj Callesen (cuja tese de mestrado foi orientada por Octávio Mateus e Donald Eugene Canfield, da Universidade do Sul da Dinamarca), o paleontólogo português tem vindo a estudá-las até agora.

“Vai ser uma jazida de referência para pegadas de pterossauros, não só a nível nacional como internacional, e vai reforçar a posição de Portugal no meio científico mundial”, sublinha. “Vai continuar a ser estudada durante os próximos anos.”

Texto editado por Teresa Firmino

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