Escolha de candidato à Presidência deixa Merkel em apuros
Líderes da grande coligação encontram-se hoje para última reunião para um nome de consenso. Merkel mais perto da quarta candidatura.
Os partidos da grande coligação do Governo na Alemanha continuam num impasse sobre quem deverá ser o Presidente do país: enquanto a CDU de Angela Merkel, a CSU de Horst Seehofer, e o SPD de Sigmar Gabriel tinham afirmado que procurariam um candidato de consenso, os três não conseguem chegar a um nome consensual para o sucessor de Joachim Gauck, o popular detentor do cargo.
Os responsáveis reúnem-se esta sexta-feira, e espera-se que até domingo acabe finalmente o suspense sobre quem será, ou quem serão, os candidatos à Presidência na votação de Fevereiro.
Para complicar mais a situação, os sociais-democratas decidiram, apesar de serem o parceiro minoritário na coligação de Berlim, lançar um nome para a contenda, e um nome de peso: o do actual ministro dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier.
Na Alemanha, o Presidente não é eleito por voto popular, mas sim numa assembleia especial do Parlamento alemão. Se fosse por voto popular, Steinmeier seria um favorito, segundo uma sondagem do instituto Enmid, com 52% a escolherem-no.
Esta posição é um espelho contrário do que se passa com a popularidade dos partidos: a CDU mantém-se favorita com 34% segundo a mais recente sondagem do instituto, enquanto o SPD baixou um ponto percentual para 22%, os populistas anti-imigração da AfD aparecem com 12%, os Verdes com 11%, a esquerda radical de Die Linke com 10%, e os liberais democratas do FDP com 5% (nas últimas eleições tanto a AfD como o FDP ficaram abaixo dos 5%, o limite mínimo para representação parlamentar).
O que deixa a União (CDU e CSU) numa posição difícil: com um candidato de consenso suprapartidário a parecer uma miragem, ou a União encontra um candidato que vença Steinmeier, ou aceita o candidato rival.
Encontrar uma figura para derrotar o social-democrata parece ser a primeira hipótese de Merkel: o problema nem sequer é só a sua popularidade mas a matemática política na assembleia federal, em que a maioria CDU/CSU não será suficiente para eleger um presidente, enquanto o SPD junto com os Verdes conseguiria eleger Steinmeier nem que fosse apenas na terceira volta, quando é necessário apenas um bloco ter mais votos do que outro.
“Steinmeier tem boas hipóteses”, afirmou o editor de política do jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, Günther Bannas. “Veremos se a CDU/CSU consegue encontrar alguém de peso semelhante.”
Alguns nomes democratas-cristãos para este cargo incluem o actual ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble (no inquérito do Emnid, surge logo após Steinmeier, mas com uns distantes 35%), ou a ministra da Defesa, Ursula von der Leyen. Ambos têm desvantagens: no caso de Schäuble, de 73 anos, a idade (Gauck retira-se invocando este motivo), e o facto de se sair, fazer a CDU perder uma voz influente na campanha eleitoral, dizem alguns analistas, no caso de Von der Leyen, poderá ser menos interessante para a política do que tentar suceder, mais tarde, a Merkel na chancelaria.
Há ainda rumores de que Merkel está a tentar encontrar um candidato junto com os Verdes, mas nenhum dos partidos confirmou.
Por outro lado, se a CDU concorre contra Steinmeier e perde, irá começar o ano com uma derrota, algo a evitar. Pior, se Die Linke vota ao lado do SPD e dos Verdes isso poderá dar força à tese de quem vê uma possibilidade de entendimento à esquerda, um tabu a nível federal por causa das posições do Die Linke na política externa e da sua ligação ao partido único da ex-RDA.
A decisão de não concorrer aceitando Steinmeier como o próprio candidato traz outros problemas. A CDU e a CSU acabam de sair de uma discórdia aberta por causa do número de refugiados, e os bávaros opõe-se especialmente a Steinmeier. Além disso, será visto como uma fraqueza de Merkel ter de aceitar o candidato proposto pelo seu parceiro minoritário, que é o seu rival nas eleições legislativas de Setembro do próximo ano.
Só o facto de não haver candidato de consenso é mau para a grande coligação: Só três vezes, num total de 15 votações, é que uma eleição para a presidência chegou à terceira volta: em 1969, em 1994 (quando Roman Herzog foi eleito primeiro Presidente após a reunificação) e em 2010, quando Christian Wulff, o candidato apoiado por Merkel, se confrontou com Joachim Gauck, levando muitos elementos conservadores a votar no pastor e não no político. Wulff viria a demitir-se num escândalo abrindo caminho à escolha de Gauck quase por aclamação.
Chanceler mais perto de quarta candidatura
Falta menos de um mês para se confirmar se, de facto, a chanceler Angela Merkel concorre uma quarta vez ao cargo. Merkel, que já chefiou um governo com os sociais-democratas, depois com os liberais, e agora novamente com o SPD, é uma política formidável capaz de driblar revezes e de fazer desaparecer rivais que pudessem fazer-lhe sombra.
Embora tenha sido seriamente afectada pela política de refugiados, Começa a ser difícil acreditar que Merkel decida não voltar a concorrer, esperando-se um anúncio, no máximo, até ao Congresso da CDU de 5 a 7 de Dezembro em Essen. Analistas especulam que o apoio inequívoco que conseguiu da CSU em Munique poderia ser o sinal que faltava.