“A emoção de quem faz uma igreja não é a mesma de quem faz um quartel dos bombeiros”

A relação com o MAXXI de Zaha Hadid é uma das questões da exposição que Álvaro Siza agora apresenta em Roma – a arquitectura religiosa e o sagrado são outras.

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Álvaro Siza no seu atelier no Porto Adriano Miranda

Como viveu a relação com o edifício do MAXXI, de Zaha Hadid, uma arquitectura de que não é um especial apreciador?

Comecei a pensar a instalação ainda antes da morte da Zaha Hadid, que me impressionou. Uma mulher que – goste-se ou não – tem uma linha de pensamento, um esforço permanente e empenhadíssimo de criação, e que está no auge da vida, das oportunidades de trabalho... Era uma mulher fortíssima, até fisicamente. Pensei muito em que, a certa altura, radicalizamos as opiniões e a páginas tantas dizemos “o arquitecto tal é péssimo”. Eu próprio talvez tenha passado por isso, dizendo “a Zaha Hadid é um desastre”. Mas ela tinha essa força fantástica. Eu assisti à construção da sua primeira obra, ao pé de uma minha, na Vitra, na Alemanha, um edifício com o telhado em bico, de que realmente não gostei. Mas depois notei o entusiasmo, o esforço e o trabalho daquela mulher a organizar equipas com uma capacidade de resposta notável. [No MAXXI] mesmo se não gosto muito do edifício, deu-me prazer dialogar com aquela arquitectura. E não estou agora a dizer que tem qualidades porque ela morreu. Nunca se pode dizer que a obra de alguém com aquela projecção não presta para nada.

A sua exposição no MAXXI tem por título Sacro. Que relação mantém com o sagrado? Quando lhe pedem um projecto para uma igreja, por exemplo, por que é que o faz?

… Porque sou convidado para o fazer. Em absoluto, costumo dizer que a abordagem de um projecto para uma igreja é igual à de um projecto de um quartel para os bombeiros. Os problemas é que são muito diferentes. Numa igreja há toda uma história secular, há uma comunidade interessada, há toda a polémica sobre a religião e as religiões, há uma densidade de temas e de problemas que tornam o projecto algo especial.

Mas a relação que mantém com esse trabalho é apenas racional, técnica e funcional?

Não, porque os problemas nunca são exclusivamente técnicos. A abordagem inicial, em relação à função, à atmosfera, ao mundo das emoções, é diferente de um projecto para outro. É claro que toda essa carga histórica, e o que há de emocionante e de belo na história da Igreja, dos santos, da Bíblia etc., mobiliza emoções a um grau diferente. A emoção de quem faz o projecto de uma igreja não é a mesma de quem faz um quartel dos bombeiros.

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