Dia histórico em Cuba, e Marcelo reuniu-se com Fidel
Presidente da República passeou por Havana, visitou infantário e saudou votação inédita na ONU.
Marcelo Rebelo de Sousa queria um dia histórico em Cuba e o mundo fez-lhe a vontade. Não por se ter encontrado com Fidel (o encontro estave interrogado até ao final da tarde), mas porque a votação na ONU, pela 25.ª vez de uma resolução a pedir o fim do embargo a Cuba, teve a abstenção inédita dos EUA e de Israel. E apanhou Marcelo em Havana, na primeira visita de Estado de um Presidente português.
“Acabo de saber do resultado da votação nas Nações Unidas. É um dia histórico. Para nós também. Muitas felicidades. É a posição de sempre de Portugal, de todos os partidos portugueses, de esquerda e de direita… uma posição comum. E de centro, claro!”, afirmou o Presidente português logo no início do discurso que fez no Fórum Empresarial Portugal-Cuba, que decorreu no Hotel Nacional.
Marcelo saudou a votação num "portunhol" que como que lhe tolhe a sua tão típica espontaneidade nesta visita cubana, que começou na manhã de quarta-feira, com um passeio pela cidade velha, guiado pelo historiador Eusébio Leal. Uma visita que o Presidente considerou “magnifica”, mas em que esteve bastante calado, ouvindo as explicações
O Presidente só se soltou naquele que foi um momento de afectos presidenciais: a visita ao Infantário Padre Usera, dirigido por uma freira portuguesa, a irmã Teresa Vaz, da congregação do Amor de Deus, uma transmontana de 82 anos, que está há 14 anos em Cuba, mas que há mais de trinta conhece o país.
A irmã Teresa Vaz começou a visitar o país enquanto superiora da congregaçã,o quando estas freiras foram autorizadas a voltar, depois de 1989. Foi como que um “regresso a casa”, pois a congregação do Amor de Deus foi fundada pelo padre Jeronimo Usera, que dedicou grande parte da sua vida e da sua missão a valorizar as mulheres e os cubanos.
Para Marcelo a visita também teve um lado de “regresso a casa”, pois já conhecia a obra, é cooperador da Fundação Padre Usera e, como fez questão de lembrar, entregou uma parte da educação da sua filha Sofia à congregação do Amor de Deus, que tem escolas em Portugal.
O Presidente estava, claramente, desvanecido com as crianças, que cantaram e dançaram o Malhão, aprenderam em português a Loja do Mestre André, que Marcelo acompanhou com gestos, e lhe ofereceram uma réplica de uma caravela. Acabou a visita sentado entre as crianças, depois de fazer coro com as freiras e as educadoras no refrão de Guantanamera.
Desvanecido também com a irmã Teresa, uma mulher baixinha, cheia de energia nos seus 82 anos. “Os transmontanos duram 120 anos, 140 … são rochas”, comentava o Presidente, enquanto dava mais um abraço à freira, que orgulhosa lhe ia apresentando também antigos alunos que já se organizaram para ajudar crianças em dificuldades, num projecto que envolve uma equipa de futebol que à tarde tinha treino junto à catedral. “Isso é magnifico! Inspiração divina para o futebol”, comentava o Presidente dando uma piscadela de olho ao bispo auxiliar de Havana que acompanhou toda a visita.
E não são transmontanos, mas também parecem ser rochas os irmãos Castro, com quem Marcelo contava ainda encontrar-se esta quarta-feira, como acabou por acontecer. Primeiro, com Fidel, a quem o chefe de Estado português ofereceu um astrolábio, instrumento náutico usado pelos navegadores portugueses na época dos Descobrimentos. O encontro tinha estado dependente da condição física do líder da revolução cubana, da temperatura e da pressão arterial de Fidel.
Com hora marcada e sempre certo, estava o encontro com Raul Castro, ao fim da tarde em Havana, um encontro de aprofundamento das relações políticas, como afirmou Marcelo aos jornalistas que acompanham esta visita, salientando o interesse crescente de Cuba pelas posições da União Europeia, mas também as relações e os interesses de Portugal e de Cuba com os países da língua portuguesa.
Este trabalho jornalístico resulta de uma parceria entre o PÚBLICO e a Rádio Renascença